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‘Han Solo – Uma História Star Wars’ pede mergulho de coração aberto

28/05/2018

São esses momentos que fazem a diferença – ou o espectador compra, ou não. Em “Han Solo – Uma História Star Wars”, Han foi separado de sua amada QuiRa. Tornou-se um aventureiro das galáxias. E agora se encontram.

Ela diz que ele é “sweet”, um docinho. Han indigna-se: “Eu não sou doce, sou um canalha”. Mas ele não é, e isso é essencial.

Han Solo teve uma montée des marches gloriosa no Festival de Cannes, com direito a guarda do Império invadindo a escadaria e drones investigando o espaço aéreo do Palais. Mas não foi sua estreia mundial – ela já havia ocorrido em Hollywood.
Os críticos reclamam – o diretor Ron Howard atropela a mitologia da série criada por George Lucas e remodelada por J. J. Abrams. Han Solo é anterior ao mito, mostrando o início da amizade de Han, que sonhava ser o maior piloto da galáxia, e o felpudo Chewbacca.

Howard é um grande diretor e propõe o que talvez seja difícil de aceitar para muitos. Um começo. Han e QuiRa separam-se e, quando se reencontram, o mundo deles mudou. Cada um seguiu sua trajetória. Mesmo com risco de spoiler, QuiRa não é mais quem era. Nem Han. O mito começa agora.

Talvez a maior surpresa do filme seja contar sua história à moda antiga. Os efeitos espetaculares são minimizados, os personagens enfiam o pé no barro. E Woody Harrelson, como Tobias Beckett, adverte o garoto atraído a um grande golpe: “Desconfie de todo mundo”. Até dele.

Ron Howard tem experiência de western – Desaparecidas, com Cate Blanchett – e conta sua história como um bangue-bangue. O deserto imenso é habitado por seres estranhos, que alargam o universo de bizarrices da série. Lawrence Kasdan, que assina o roteiro, também tem experiência de western (Silverado). Aborda os códigos que construíram a grandeza do gênero. Amizade, heroísmo, amor, traição. Han Solo, interpretado por Alden Ehrenreich, está condenado a ser herói, e um herói esperto, que tira suas cartas da mesa.

Mas, cuidado, Paul Bettany, como Dryden Vos, quer mandar na galáxia assim como tantos vilões fizeram estragos nas cidades. Lando (Donald Glover) é o amigo de quem se pode desconfiar, mas é leal. Chewbacca é o amigo incondicional. E Emily Clarke traz para QuiRa a ambivalência de Game of Thrones. Essa garota do saloon projeta o espectador num turbilhão de emoções.

Ron Howard fez em 1977 o western crepuscular O “Último Pistoleiro”. John Wayne está morrendo de câncer, mas ainda tem uma derradeira cidade para limpar. Ao seu lado, James Stewart. Estiveram juntos, os velhos astros, em um clássico de John Ford. Não um clássico qualquer – “O Homem Que Matou o Facínora”. A grandeza dos derrotados. O que Wayne faz por amor (a Vera Miles), protegendo Stewart, não está no gibi.

Os grandes filmes de Howard se alimentam dessa relação. O que as pessoas fazem por amor. Por amizade, por lealdade. Um pouco disso é tratado com cinismo, e é muito bom, em outra série, “Guardiões da Galáxia”. Howard joga com o humor, mas, cineasta à moda antiga, busca outra emoção. Os filmes de HQs e super-heróis estão em plena mutação, renovação. “Han Solo”, o novo spin off de “Star Wars”, só exige que você entre de coração aberto. A ‘força’ é consequência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Luiz Carlos Merten
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