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Os novos instituidores da “Santa Casa”

19/06/2018
Os novos instituidores da “Santa Casa”

A SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE MACEIÓ deixou de ser Hospital de Caridade” para se tornar uma “Empresa de Saúde, de cunho essencialmente particular, contrariando seus estatutos que registram como sendo uma unidade hospitalar filantrópica e maculando o sonho dos seus fundadores, a partir das verbas públicas do Governo Estadual de Osman Loureiro e da tarefa diária de caridade das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição e do assistencialismo dos vicentinos da Sociedade de São Vicente de Paulo. E tanto isso é verdade que o dia da sua inauguração acontece em 29 de outubro, data comemorativa ao aniversário de São Vicente de Paulo, patrono da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

Lamentavelmente, os atuais dirigentes deste nosocômio, sob a liderança do provedor, Dr. Humberto Gomes de Mello, encerrou as atividades do “Instituto de Doenças do Coração” em suas dependências, após quase 40 anos de serviços dedicados aos pobres, indigentes e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). O médico cardiologista José Wanderley Neto, com sua equipe médica, foi “despejado” da Santa Casa de Misericórdia, não se levando em conta que ele foi o pioneiro em transplantes do coração no território alagoano e formador de residência médica para mais de 80 médicos cardiologistas em Maceió.

Mas o lucro falou mais alto. A Santa Casa de Misericórdia de Maceió deixou de ser Hospital de Caridade” para se tornar em uma “Empresa de Saúde”, com especializações médicas, tendo como pacientes apenas usuários particulares ou portadores de planos de saúde. Indigentes e usuários do Sistema Único de Saúde estão fora, porque não dão “lucro” à empresa.

Todavia, esse desejo já era patente na administração do Provedor Dr. Humberto Gomes de Mello da Santa Casa, há mais de três anos, que reformou o Hospital para ser “modelo” de unidade de saúde, com todas as especialidades, mas eliminando o “assistencialismo” e a “caridade” do passado prestado pelo grupo do Dr. José Wanderley Neto, em respeito aos instituidores e fundadores da entidade, as Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição e os vicentinos da Sociedade de São Vicente de Paulo, radicados em Maceió.

O esquema do desmonte do Instituto de Doenças do Coração foi articulado pelos Dirigentes da Santa Casa de Misericórdia, já algum tempo. Em primeiro lugar houve a diminuição de procedimentos cirúrgicos do SUS (Sistema Único de Saúde), mesmo com o protesto do médico cardiologista José Wanderley Neto, razão pela qual a Defensoria Pública de Alagoas ajuizou ações judiciais cominando a obrigação de fazer contra esta Unidade Hospitalar em virtude do número elevado de pacientes dependentes de procedimentos cirúrgicos no coração, fato que revoltou os Dirigentes da Santa Casa de Misericórdia.  

Mas, há cerca de 3 anos, o Centro Cirúrgico foi fechado e o médico cardiologista foi dispensado.  Mas só agora, nesta quarta-feira última, o médico cardiologista e sua equipe médica foram “convidados” a desocupar as dependências da Santa Casa de Misericórdia, no momento em que o Governo Federal e o Ministério da Saúde anunciam programas de realizações de transplantes e de procedimentos cirúrgicos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para evitar as mortes súbitas de pobres e de pacientes indigentes da Assistência Social.

Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: A Santa Casa de Misericórdia é uma unidade hospitalar filantrópica, ou não é? E não é só isso. Ela é conveniada ao SUS, ou não é? O que dizem seus Estatutos Sociais sobre seu regime jurídico: é uma entidade hospitalar sem fins lucrativos ou com fins lucrativos?

Como são remunerados seus dirigentes e qual o valor dos seus “pró-labores”?

Ora, tanto o Ministério da Saúde quando o Governo Federal devem se manifestar acerca da decisão da Santa casa de Misericórdia em encerrar definitivamente o Instituto de Doenças do Coração, idealizado pelo médico cardiologista Dr. José Wanderley Neto, pioneiro em transplantes do coração no território alagoano. Pensemos nisso! Por hoje é só.