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Com a bússola quebrada

Já faz algum tempo que, em nosso triste país, adota-se a prática daquilo que se convencionou chamar de “progressão continuada” que, em resumidas contas, é o exercício da aprovação pela aprovação.
Podemos dizer que tal prática, há décadas envenenando o sistema educacional, seria similar à atitude de um médico que, levianamente, daria alta ao seu paciente, não porque ele está com sua saúde restabelecida, mas sim porque o prazo estabelecido para o fim do tratamento findou.
Falando nisso, lembro-me de uma reportagem de 2006, se não me falha a memória, que apresentava um pai que foi até as autoridades competentes questionar a razão pela qual o seu filho havia sido aprovado (por conselho de classe), sendo que o “abençoadinho” tinha reprovado com notas baixíssimas em cinco disciplinas.
O pai, com a simplicidade daqueles que veem o óbvio ululante, perguntava: “Mas se ele não aprendeu, por que ele está sendo aprovado?”
O ponto em questão, na reportagem, era a pressão que os professores sofriam – e sofrem – para aprovar os alunos e, assim, gerar números bem vistosos, com toda aquela purpurina publicitária que, hoje, mais do que nunca, é utilizada aos borbotões, sem a menor cerimônia, pelos Estados que se gabam de ter “a melhor educação da Via Láctea”.
Ora, qualquer um com um mínimo de juízo e bom senso percebe, mais do que depressa, que um cenário desse naipe não é apenas ridículo, mas perigoso.
Quando as escolas e colégios são pressionados a manter índices de aprovação elevados que não condizem com a realidade – para poder obter números bonitinhos, mas ordinários –, as autoridades responsáveis pelo ordenamento do sistema de ensino, sem querer querendo, estão mandando o seguinte recado para toda a sociedade: não é necessário esforço individual para aprender – o que, como todos nós sabemos, é uma grande mentira e, como toda mentira tomada como princípio, acaba fomentando uma série de outros problemas e equívocos que terminam por desvirtuar totalmente o ambiente escolar, inviabilizando o trabalho docente.
Tão desvirtuado que, atualmente, acha-se aceitável que crianças e adolescentes se recusem a aprender. Dito de outro modo: acha-se aceitável que alguém, com atos indolentes e de forma displicente, prefira abraçar a ignorância presunçosa em vez do humilde caminho da procura pelo saber.
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