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Reprodução simulada da morte de adolescente em Palmeira dos Índios revela versões conflitantes

Família de Gabriel Lincoln e policiais militares apresentam relatos divergentes em reconstituição que durou seis horas; laudo final é aguardado

Redação 16/07/2025
Reprodução simulada da morte de adolescente em Palmeira dos Índios revela versões conflitantes

Palmeira dos Índios, AL – A aguardada reprodução simulada da morte de Gabriel Lincoln Pereira da Silva, de 16 anos, ocorrida na noite desta terça-feira (15), em Palmeira dos Índios, foi palco de intensas emoções e, principalmente, de profundas contradições entre as testemunhas. O adolescente foi fatalmente baleado durante uma ação da Polícia Militar no dia 3 de maio deste ano, em um caso que tem gerado grande comoção e mobilização na cidade.

A Reconstituição em Detalhes


O procedimento, que se estendeu por mais de seis horas, foi conduzido pelo Instituto de Criminalística de Alagoas, com o apoio da Polícia Científica, e teve como propósito fundamental esclarecer a dinâmica dos fatos. A reconstituição aconteceu no mesmo local da abordagem policial e contou com a presença de peritos, representantes do Ministério Público, policiais civis, advogados das partes, familiares de Gabriel e dos cinco policiais militares das duas guarnições envolvidas na ação.

Duas viaturas da Polícia Militar foram utilizadas na simulação. Devido às versões divergentes apresentadas pelas testemunhas, os veículos foram reposicionados diversas vezes, conforme cada relato, a fim de simular com exatidão as possíveis dinâmicas da cena do crime. Uma motocicleta, deitada no chão, também foi utilizada, representando o veículo que Gabriel estaria conduzindo no momento da abordagem. Para dar maior fidelidade à dinâmica dos acontecimentos, atores foram usados, representando as diferentes narrativas e evidenciando as contradições.

Contradições em Foco


O delegado Sidney Tenório, que comanda a comissão especial da Polícia Civil responsável pela investigação, explicou que a reprodução simulada foi solicitada justamente pelas fortes contradições entre os relatos de testemunhas e policiais. "As oitivas, que para nós são fundamentais, tiveram alguns pontos divergentes por parte das testemunhas. É por isso que pedimos a reprodução simulada. Não é todo caso que exige esse tipo de diligência, mas, quando percebemos um contraditório muito significativo entre os depoimentos das testemunhas, é necessário esclarecer. A população de Palmeira dos Índios espera por respostas, e essa é uma forma de dar clareza ao processo", ressaltou o delegado.

Apesar da simulação, os relatos divergentes prevaleceram. Testemunhas apresentaram versões que contradizem as informações fornecidas anteriormente pelos policiais, especialmente quanto à posição dos envolvidos no momento do disparo e ao comportamento de Gabriel antes de ser atingido.

Evidências e Questionamentos


O exame de balística confirmou que o revólver calibre .38, atribuído a Gabriel, estava em condições de uso e continha um projétil compatível. No entanto, o revólver não possui registro no Sistema Nacional de Armas (SINARM), o que levanta dúvidas sobre sua procedência. Outro fator em análise é a presença de material genético não identificado na arma. O Instituto Médico Legal (IML) colheu amostras de DNA dos pais da vítima para verificar possível correspondência com o resíduo, que pode ser sangue, pele ou outro tecido biológico.

Família Cobra Justiça e Policiais Mantêm Versão


Os militares envolvidos na ação sustentam que o adolescente desobedeceu à ordem de parada enquanto pilotava uma moto, fugiu da abordagem e teria efetuado um disparo contra a guarnição, levando-os a revidar. A família de Gabriel, por sua vez, contesta veementemente essa versão, afirmando que o jovem estava desarmado e foi executado sumariamente, sem chance de defesa.

Cícero Pereira, pai de Gabriel, expressou a dor e a determinação da família: "Bateu a emoção, a saudade, a dor... Ver essa cena reconstituída mexeu demais com a gente. É como reviver tudo outra vez. Mas seguimos firmes, seguimos em busca de justiça. Não vamos descansar enquanto a verdade não vier à tona e os responsáveis não forem punidos."

Próximos Passos e Mobilização Social


Para garantir o sigilo e a integridade dos envolvidos, parte da Avenida Vieira de Brito foi isolada pela Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), com o apoio da Guarda Municipal e da Polícia Militar, e o acesso ao público foi controlado. Mesmo com as restrições, moradores da região acompanharam atentamente o desenrolar da perícia.

O resultado da reprodução simulada deverá ser concluído em um prazo estimado entre 10 e 30 dias, quando o laudo será finalizado e entregue ao Ministério Público. Com a reconstituição concluída e os principais elementos já reunidos, o inquérito entra agora em sua etapa final. A comissão de delegados da Polícia Civil deverá encaminhar o relatório conclusivo ao Ministério Público Estadual, que decidirá se oferece denúncia criminal contra os policiais envolvidos.

Desde a morte do adolescente, o caso tem gerado intensa comoção em Palmeira dos Índios e mobilizado entidades de direitos humanos. Protestos e manifestações vêm sendo realizados nas redes sociais com pedidos por justiça, transparência e responsabilização. A cidade segue mobilizada e atenta ao desfecho do caso, pois a morte de Gabriel Lincoln se tornou um símbolo da luta por justiça — e a sociedade cobra que essa história não termine em impunidade.