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Energia nuclear em data centers é tema de destaque em evento internacional no Rio de Janeiro (VÍDEO)

20/05/2025
Energia nuclear em data centers é tema de destaque em evento internacional no Rio de Janeiro (VÍDEO)
Foto: © Sputnik / Ludmila Ga

A proliferação de data centers para atender à demanda dos serviços de inteligência artificial (IA), que exigem grandes quantidades de energia, representa um problema envolvendo as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável no planeta.

E uma solução promissora é a energia nuclear, por oferecer fornecimento contínuo e em grande escala, segundo palestrantes que participaram do primeiro dia do evento de negócios e tecnologia NT2E (Nuclear Trade & Technology Exchange, em inglês), promovido pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), nesta terça-feira (20), no Rio de Janeiro.

O presidente para a América Latina da empresa nuclear estatal russa, Rosatom, Ivan Dybov, foi um dos participantes que abordaram o tema e ressaltou em entrevista à Sputnik Brasil a relevância da parceria entre Rússia e Brasil nesse processo:

"Data centers também precisam de fontes de energia muito estáveis, limpas, e acho que podemos criar parcerias exatamente nesse sentido [...] a Rosatom está se articulando para esses eventos, levando justamente essa energia sustentável e limpa", disse ele.

Ele também exaltou as parcerias entre o Brasil e a Rosatom na área da medicina:

"No setor da medicina nuclear, o Rosatom agora é grande fornecedora de isótopos para tratamento de câncer no Brasil [...] temos parceria com a empresa IPEN [Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares] e no ciclo de combustível nuclear, porque a Rosatom está fornecendo 100% de urânio enriquecido para a produção de combustível nuclear para a usina ANGRA 1 e ANGRA 2", disse ele.

A empresa russa tem o contrato para conversão de urânio brasileiro e para produzir combustível da usina nuclear local.

BRICS e energia nuclear

Dybov adiantou que o tema deve ser destaque na Cúpula do BRICS, marcada para os dias 6 e 7 de julho, e na COP30.

"A energia nuclear vai ser um assunto importante a ser falado [na Cúpula do BRICS]. Também sobre a COP. A energia nuclear ajuda a atingir metas climáticas para países, acho que é impossível atingir essas metas sem energia nuclear. Então, vamos participar desse evento e mostrar alguns resultados de cooperação com o Brasil", disse ele à Sputnik Brasil.

Paralelamente ao evento, nesta quarta-feira (21), países do BRICS discutem em grupo de trabalho o desenvolvimento de tecnologias nucleares e meios financeiros para viabilizar projetos de energia nuclear, cooperação, entre outras ações.

O ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Marcos Antônio Amaro dos Santos, também conversou com a Sputnik Brasil no evento.

Segundo ele, o programa nuclear brasileiro na área energética é estratégico para o Brasil, que é um dos poucos países do mundo que tem ciclo de produção de combustível nuclear completo: desde a mineração do urânio, o beneficiamento, o enriquecimento do urânio e até o uso da própria energia nuclear:

O ministro do GSI chamou a atenção para o caráter seguro da energia nuclear, cujas aplicações são úteis para diversas áreas, como medicina, agricultura e meio ambiente.

"Mas não é somente na área energética que o nuclear é importante, temos muitas outras aplicações que são pouco conhecidas, às vezes pouco entendidas e sofrem discriminação exatamente pelo desconhecimento".

Deputado faz críticas à falta de investimento público no setor

Defensor da ampliação do uso da energia nuclear no país, o deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ) participou do evento representando o Congresso como presidente da Frente Nuclear da Câmara, e lamentou a demora em concluir o reator multipropósito brasileiro.

"Nosso reator multipropósito se arrasta e não avança. Um crime contra o Brasil, contra a tecnologia, contra centenas de formandos das nossas escolas, que são umas das melhores escolas do mundo de energia nuclear, respeitadas internacionalmente, qualificadas para todo e qualquer projeto do mundo, perdendo aqui a perspectiva de futuro de milhares de jovens que têm uma contribuição enorme para dar para esse país", disse ele.

O parlamentar lamentou que apenas 1,5% da energia produzida no Brasil seja nuclear, o que chamou de "inadmissível". Para ele, a retomada da construção de Angra 3 é inadiável para o futuro do setor energético do país.

Preconceito x Educação

O Engenheiro Naval e Oceânico e Nuclear e diretor técnico da ABDAN e um dos organizadores do encontro, Leonam Guimarães, falou sobre a importância de investir na educação das novas gerações para vencer o preconceito contra a exploração nuclear brasileira.

"O Brasil é um pioneiro na área nuclear [...] temos que recuperar a posição que a gente já teve e nossos recursos naturais, nossa tecnologia própria, nos dá essa possibilidade de nos integrar de forma mais visível e mais ativa no cenário nuclear mundial", comentou ele. "Ainda há muito preconceito a respeito da energia nuclear [...] A grande esperança de você vencer o preconceito são os jovens [...] de percepção de que [a energia] nuclear tem um papel fundamental no futuro de toda a sociedade mundial", completou.

Guimarães também lamentou que o uso da energia nuclear no país ainda seja mal compreendido por parte da população:

"Essa compreensão sobre a energia nuclear, fruto de alguns acidentes que ocorreram, já conhecidos, mas hoje em dia todas as aplicações da energia nuclear são muito seguras, acho que isso é uma coisa que nós devemos divulgar".

Sobre o evento

O evento reúne até esta quinta-feira (22), no Centro da capital fluminense, integrantes de mais de 15 países, autoridades políticas e representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Ministério de Minas e Energia (MME) e empresários do setor nuclear para abordar temas como mineração de urânio no Brasil e no mundo, os desafios para a matriz elétrica brasileira dos próximos anos, uso nuclear para propulsão naval, entre outros assuntos.

No local também há uma feira interativa, com painéis, exposições e protótipos marinhos de ponta de empresas nacionais e estrangeiras, dentre eles, o protótipo do submarino com propulsão nuclear desenvolvido pela estatal Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), que faz parte do projeto do Submarino Nuclear Convencionalmente Armado (SNCA) e coloca o Brasil em um seleto grupo de países com domínio desse tipo de sistema.

Por Sputinik Brasil