Em meio a denúncias recorrentes sobre o caos na saúde, ruas esburacadas e outras mazelas que aflige o município, a Prefeitura de Palmeira dos Índios autorizou a contratação direta da empresa OK Produções e Representações Artísticas LTDA pelo valor de R$ 600 mil para a apresentação de um único artista musical no Festival de Inverno de 2025.

O cantor Natanzinho Lima, cuja apresentação está marcada para o dia 20 de agosto, será pago com recursos públicos através de um processo de inexigibilidade de licitação, conforme documento oficial assinado pela prefeita Luísa Júlia Duarte no dia 9 de abril de 2025.

A contratação sem licitação foi fundamentada no Art. 74, inciso II, da Lei nº 14.133/2021, sob alegação de que o serviço artístico é singular e prestado por profissional consagrado pela crítica ou pela opinião pública. No entanto, o valor total — R$ 600.000,00 — tem gerado indignação nas redes sociais e entre parte da população que vê no ato um descompasso entre a realidade econômica do município e os investimentos feitos pela gestão.

Contraste com a realidade local

O gasto milionário chama ainda mais atenção diante de problemas crônicos enfrentados pela população. Em diversas localidades da zona rural e até mesmo na sede do município, faltam investimentos, manutenção de vias e melhoria da infraestrutura escolar.

“A prefeitura não abastece a central de medicamentos e UBS com remédios, mas encontra R$ 600 mil para pagar um show? Isso é um escárnio com a cara da população”, criticou um cidadão que preferiu não se identificar.

Falta de transparência e priorização política

Apesar de o documento mencionar que o procedimento foi submetido à análise da Procuradoria Geral do Município, não há detalhes públicos sobre a justificativa técnica ou comparativo de preços com outros artistas do mesmo porte. Tampouco foram apresentados elementos que comprovem a real relevância artística de Natanzinho Lima ao ponto de justificar a contratação direta e o montante envolvido.

Especialistas em administração pública alertam que, mesmo nos casos de inexigibilidade, o princípio da razoabilidade deve ser respeitado. “É preciso ponderar se esse valor é compatível com os padrões de mercado e com a capacidade financeira do município. R$ 600 mil por um show soa desproporcional”, explica um especialista ouvido pela Tribuna do Sertão.

Festival ou campanha antecipada?

O Festival de Inverno de Palmeira dos Índios se tornou, nos últimos anos, uma vitrine política para a gestão municipal. Grandes nomes da música são contratados a peso de ouro em um evento que se mistura cada vez mais com estratégias eleitorais disfarçadas de entretenimento público.

A contratação de Natanzinho Lima com cifras tão elevadas levanta dúvidas sobre o real objetivo do evento: promover cultura ou capitalizar politicamente sobre a exposição gerada?

Reações e cobranças

Entidades civis e lideranças locais já se movimentam para cobrar explicações da gestão. Há expectativa de que o Ministério Público de Contas de Alagoas e o Tribunal de Contas do Estado sejam provocados a se manifestar sobre a razoabilidade e legalidade do valor autorizado.

Enquanto isso, a população segue enfrentando dificuldades básicas enquanto a prefeitura prepara o palco para mais um espetáculo — não apenas musical, mas político.