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Pedro Almodóvar vence Leão de Ouro por seu primeiro filme em inglês no Festival de Veneza
O brasileiro 'Ainda estou aqui', de Walter Salles, levou o prêmio de Melhor Roteiro, de Murilo Hauser e Heitor Lorega; veja todos os vencedores

Pedro Almodóvar fez história este sábado (7) ao vencer o Leão de Ouro do 81º Festival de Cinema Veneza por seu primeira longa-metragem em inglês, “The Room Next Door”, um filme sobre a eutanásia — um “direito fundamental”, proclamou o diretor espanhol.
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Almodóvar defendeu o direito de morrer com dignidade numa cerimônia que teve seu momento dramático quando foi anunciado o prêmio de melhor atriz, para Nicole Kidman por “Babygirl”. Kidman não pôde receber o troféu porque soube da morte de sua mãe logo ao chegar à cidade italiana para a premiação.
"Ao chegar a Veneza, soube da morte de minha mãe, Janelle Kidman. Estou chocada e preciso me reunir com minha família. Este prêmio é para ela", leu emocionada a diretora do filme, Halina Reijn.
Aplaudido por 18 minutos pela plateia em sua estreia no festival, o filme de Almodóvar (ainda sem tradução em português) narra a decisão de uma jornalista veterana (Tilda Swinton) de cometer suicídio devido a um câncer incurável. A paciente pede a uma velha amiga (Julianne Moore) que a acompanhe nesses últimos dias.
— Dizer adeus a este mundo de forma limpa e digna é um direito fundamental — declarou Almodóvar ao receber o prêmio.
A eutanásia, disse o diretor espanhol, “não é uma questão política, mas sim humana”.
— Sei que este direito viola qualquer religião ou credo que tenha Deus como única fonte de vida (…) Peço aos praticantes de qualquer credo que respeitem e não intervenham nas decisões individuais a este respeito — acrescentou.
Em um espetáculo repleto de estrelas de Hollywood, Almodóvar voltou a firmar-se aos 74 anos como o realizador mais influente da história do cinema espanhol, agora também com sua primeira produção nos Estados Unidos. Repleto de diálogos, em tom melancólico, o filme é uma obra típica de Almodóvar da última década, propenso a meditar sobre a morte, a dor física ou a passagem do tempo.
— Não consigo entender que algo que está vivo tenha que morrer. A morte está em toda parte, mas é algo que nunca entendi muito bem — confessou Almodóvar à imprensa ao apresentar o filme.
A premiação marca a volta de Almodóvar ao pódio da mostra 36 anos depois, desde que ganhou o prêmio de melhor roteiro por “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, em 1988.
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O Leão de Prata de melhor diretor foi para o americano Brady Corbet, ator com poucos filmes em seu currículo (como "Aos treze"), por seu “The brutalist”, filme intenso de 3h25 sobre o visionário arquiteto húngaro László Toth (Adrien Brody) e sua esposa Erzsébet (Felicity Jones), que fogem da Europa devastada pela guerra em 1947 em busca de um novo começo na América.
Prêmio brasileiro
Aos 57 anos, Nicole Kidman se arriscou em seu papel em “Babygirl”. Ela interpreta uma executiva absorta em uma relação sexual com um estagiário, interpretado pelo jovem ator Harris Dickinson, de 28 anos. O filme contém cenas de alta tensão erótica.
O prêmio de melhor ator foi para o francês Vincent Lindon, de 65 anos, que interpreta o pai de um jovem atraído pela extrema direita em "Jouer avec le feu".
Os brasileiros Murilo Hauser e Heitor Lorega levaram o prêmio de melhor roteiro por "Ainda estou aqui", do diretor Walter Salles. O filme narra o sequestro e desaparecimento em 1971 do engenheiro e político Rubens Paiva. O roteiro é uma adaptação do livro escrito pelo filho da vítima, Marcelo Rubens Paiva. Walter Salles (“Central do Brasil”) apresentou uma reconstrução cuidadosa desse doloroso episódio da ditadura militar.
— Esta não é apenas a história de uma família, é a história do Brasil — declarou Heitor Lorega ao receber o prêmio.
O Leão de Prata de Prêmio do Júri foi para um filme italiano de conteúdo histórico, “Vermiglio”, de Maura Delpero. O longa conta a história de um soldado desertor siciliano que se refugia em uma vila nos Alpes durante a Segunda Guerra Mundial.
O Prêmio Especial do Júri ficou com “April”, de Dea Kulumbegashvili, da Geórgia, um filme de poucas palavras que conta a perturbadora história de uma médica que se dedica igualmente ao parto e ao aborto no seu país.
O prêmio Marcello Mastroiani, concedido ao melhor ator em ascensão, foi para o francês Paul Kircher por seu papel em “Leurs enfants après eux”, outro filme com tom social.
Ao todo, 21 longas participaram da competição principal, entre eles “Maria”, cinebiografia da cantora lírica Maria Callas, interpretada por Angelina Jolie, e “Coringa — Delírio a dois”, a aguardada sequência do sucesso de 2019 prometida por Todd Phillips, com Joaquin Phoenix e Lady Gaga. No ano passado, o vencedor do Leão de Ouro foi "Pobres criaturas", de Yorgos Lanthimos.
Veja a lista completa de vencedores
Competição
Leão de Ouro de Melhor Filme: “The Room Next Door”, de Pedro Almodóvar
Grande Prêmio do Júri: “April”, de Dea Kulumbegashvili
Leão de Prata de Melhor Diretor: Brady Corbet, por "The Brutalist"
Prêmio Especial do Júri: “Vermigilio”, de Maura Delpero
Melhor Roteiro: Murilo Hauser e Heitor Lorega, por “Ainda estou aqui”
Melhor Atriz: Nicole Kidman, por “Babygirl”
Melhor Ator: Vincent Lindon por “Jouer avec le feu”
Prêmio Marcello Mastroianni de Melhor Ator Jovem: Paul Kircher por “And Their Children After Them”
Horizons
Melhor Filme: “The New Year That Never Came”, de Bogan Muresanu
Melhor Diretor: Sarah Friedland, por “Familiar Touch”
Prêmio Especial do Júri: “One Of Those Days When Hemme Dies”, de Murat Firatoglu
Melhor Atriz: Kathleen Chalfant, por “Familiar Touch”
Melhor Ator: Francesco Gheghi, por “Familia”
Melhor Roteiro: Scandar Copti, por “Happy Holidays”
Melhor Curta-Metragem: “Who Loves The Sun”, de Arshia Shakiba
Leão do Futuro - Prêmio Luigi de Laurentiis de Melhor Filme de Estreia: “Familiar Touch”, de Sarah Friedland
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