Internacional

Levitsky: 'Nem Chávez, nem Erdogan fizeram campanha com defesa tão aberta do autoritarismo como Trump'

Em celebração aos 20 anos da Fundação Henrique Cardoso, cientista político americano apresentou na sede da organização a palestra "Por que a democracia atingiu o ponto de ruptura nos EUA?"

Agência O Globo - 16/08/2024
Levitsky: 'Nem Chávez, nem Erdogan fizeram campanha com defesa tão aberta do autoritarismo como Trump'

Em palestra comemorativa dos 20 anos da Fundação Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, o cientista político americano Steven Levitsky afirmou que a ameaça à democracia americana é maior hoje do que em 2016. Às vésperas da Convenção Nacional Democrata, que começa na segunda-feira e confirmará a candidatura da vice-presidente Kamala Harris à sucessão de Joe Biden e a menos de três meses das eleições americanas, o professor da Universidade de Harvard destacou que a campanha de Donald Trump para retornar à Casa Branca é uma das que mais defende abertamente práticas autoritárias que ele já testemunhou.

— Nem Hugo Chávez, na Venezuela, nem Recep Erdogan, na Trurquia, atacaram de forma tão escancarada as regras básicas da democracia — afirmou.

Em sua palestra, Levitsky fez um resumo de seu mais novo livro, "Como salvar a democracia" e mostrou as raízes do que aponta ser a "virada de costas" do Partido Republicano para a democracia americana. Ele também respondeu a perguntas selecionadas pelos mediadores, o presidente da Fundação, o cientista político Sérgio Fausto, e a jornalista Leila Sterenberg.

Questionado sobre o cenário político americano em caso de uma vitória de Donald Trump, o autor de "Como as democracias morrem" afirmou que um segundo mandato do republicano deverá ser marcado pela tentativa de instrumentalização do Estado pelo trumpismo.

— Trump se surpreendeu, quando chegou a Washington em 2017, que as instituições do Estado não poderiam ser usadas em seu benefício. Ele tem a mente de um (Anastasio) Somoza ou (Rafael) Trujillo [respectivamente, ex-ditadores da Nicarágua e da República Dominicana]. E tentará agora tomar o Departamento de Justiça de assalto para perseguir inimigos políticos, investigá-los e processá-los, como já anunciou. Não acho que ele tentará acabar com as eleições, mas estabelecerá uma grave crise e as liberdades civis estarão em perigo — afirmou.

Sobre o futuro da direita americana no caso de uma vitória de Kamala Harris, Levistsky não crê em uma guinada moderada:

— O Partido Republicano jamais voltará a ser a agremiação de centro-direita, pró-negócios dos anos Reagan e Bush. Aquele partido morreu. Seguirá nacionalista e cristão, talvez menos próximo da defesa do autoritarismo de hoje, mas não vejo uma volta ao passado.