Burning Man, o festival no deserto de Nevada que rotineiramente esgota os ingressos, está programado para retornar este mês, mas as vendas de ingressos caíram pela primeira vez em anos. É muito cedo para definir o que causou a mudança, mas entre os fatores mais prováveis estão os dois anos consecutivos de clima extremo, condições econômicas e a organização da comunidade do Burning Man. Aqui está o que você precisa saber.

Em 2023: Público deixou o Burning Man após dias presos em meio a chuvas torrenciais e muita lama

Os ingressos geralmente esgotam

O festival deste ano começa em 25 de agosto e termina em 2 de setembro, levando dezenas de milhares de pessoas ao deserto de Nevada para criar uma comunidade temporária chamada Black Rock City, a cerca de 200 km a nordeste de Reno.

O festival começou em 1986 em uma praia de São Francisco, quando um grupo de pessoas se reuniu para queimar uma figura de madeira no solstício de verão. Ele se mudou para o deserto em 1990 e esgotou os ingressos pela primeira vez em 2011 — e em todas as edições desde então. Os organizadores do festival tiveram que limitar o público naquele ano e interromperam as vendas oficiais no início de agosto, embora os ingressos de última hora ainda estivessem disponíveis no mercado de revenda.

A venda oficial de bilhetes é feita em segmentos e, este ano, as pessoas ainda podem comprar um que custa US$ 575, no valor disponível desde 31 de julho. Também há bilhetes por US$ 225 para pessoas com renda limitada. O Reno Gazette-Journal relatou essa mudança neste mês.

Marian Goodell, CEO do Burning Man Project, a organização sem fins lucrativos que organiza o festival, disse em uma entrevista na quarta-feira que os organizadores esperavam que a população de Black Rock City deste ano, que inclui convidados e funcionários, estivesse na faixa de 70 mil pessoas. No ano passado, foi de 74.126. Goodell disse que os organizadores do festival decidem quantos ingressos vender a cada ano.

— Quando a demanda é menor, nós simplesmente fechamos a torneira — diz ela.

Calor brutal e lama paralisante

Ir ao Burning Man é estar disposto a acampar em um ambiente desértico que, nas melhores condições climáticas, já é desafiador, com temperaturas frias durante a noite, tempestades de poeira e umidade extremamente baixa. Houve clima ainda mais extremo nos últimos dois anos, que se seguiram a um hiato de dois anos por causa da pandemia de COVID-19.

Em 2023, chuvas fortes encharcaram Black Rock City e a estrada principal foi fechada, deixando as pessoas presas no local. Os organizadores do festival alertaram os participantes na época para conservar água, comida e combustível enquanto esperavam que as estradas se tornassem transitáveis. Muitos frequentadores do festival consideraram o calor brutal do festival de 2022 ainda pior.

Ingressos para o Coachella também demoraram para vender

O Burning Man não é o único festival deste ano a ver uma queda nas vendas de ingressos. Demorou quase um mês para o Coachella esgotar, quando normalmente isso acontece em alguns dias ou horas. Outros festivais de música também tiveram uma queda nas vendas, informou a Billboard. Vários festivais ao redor do mundo não estão acontecendo este ano, com os organizadores citando fatores como risco financeiro, baixas vendas de ingressos e clima extremo.

Ao contrário desses festivais de música, o Burning Man está mais próximo de uma experiência de acampamento selvagem e exige mais dos convidados. O guia de sobrevivência deste ano diz aos participantes que eles devem trazer itens como 1 1/2 galões de água por pessoa por dia, um extenso kit de primeiros socorros, fita adesiva e extintores de incêndio. Esses custos começam a se acumular.

Consumo exagerado na pandemia e demissões no setor tec

A comunidade do Burning Man sempre incentivou os frequentadores regulares a fazerem pausas devido ao quão cansativo o festival pode ser, e as finanças pessoais podem tornar essa pausa uma necessidade.

— A maioria dos comentários que recebo é: 'Eu precisava de um ano de folga' — diz Goodell. — O outro feedback que recebo é sobre a economia; ser demitido. O custo não apenas para comprar um ingresso, mas para chegar lá; o custo do combustível; o custo de ficar longe do seu trabalho.

Embora os americanos tenham gasto com entusiasmo, inclusive em eventos e viagens, à medida que a pandemia da COVID-19 desacelerou, essa exuberância agora parece estar se moderando, de acordo com vários indicadores econômicos e comentários de executivos corporativos.

Também foram dois anos especialmente ruins para demissões em tecnologia, uma indústria que há muito alimenta o festival Burning Man.

Burning Man em casa (e com menos poeira)

O Burning Man se estende além do deserto de Nevada e inclui dezenas de eventos locais sancionados ao redor do mundo. Goodell disse que uma pesquisa em fevereiro mostrou que em 2023, 95 mil pessoas compareceram a esses eventos.

Katherine Chen, professora de sociologia na City University de New York, que estudou o Burning Man, disse que construir apoio para eventos regionais há muito tempo faz parte dos planos do festival.

Chen, autora de “Enabling Creative Chaos”, um livro de 2009 sobre o Burning Man, disse que as pessoas escolhem eventos locais por vários motivos, incluindo o fato de que eles podem ser mais convenientes.

— Se você está tentando coordenar a escola para seus filhos e cuidar de seus pais idosos, pode ser mais fácil se relacionar com sua comunidade local, onde não é preciso tanto esforço para ir a esse grande evento — sugere.

Benjamin Wachs, que escreveu “The Scene That Became Cities: What Burning Man Philosophy Can Teach Us About Building Better Communities” sob o pseudônimo Caveat Magister, disse que era muito cedo para dizer o que causou o declínio nas vendas de ingressos. Mas ele disse que achava que provavelmente tinha a ver com a economia, clima extremo (especialmente o calor de 2022) e o crescimento de eventos locais.

Costumava haver um debate sobre se as pessoas poderiam ser consideradas Burners se não tivessem ido a Black Rock City, ele disse, mas agora “isso não é mais uma questão”. Quando o Burning Man esgotou pela primeira vez, em 2011, ele se lembrou de que era muito difícil comprar ingressos para o festival do ano seguinte por causa das novas restrições.

— É irônico que ficar sem ingressos fosse visto como um grande problema na época — diz ele. — E agora as pessoas estão se perguntando se não ficar sem ingressos é um grande problema.