Internacional

Em cruzada contra redes sociais, Maduro acusa WhatsApp de entregar dados da população a opositores

Presidente já havia pedido para que venezuelanos desinstalassem o aplicativo, mencionando a necessidade de 'novas redes'

Agência O Globo - 14/08/2024
Em cruzada contra redes sociais, Maduro acusa WhatsApp de entregar dados da população a opositores
Nicolás Maduro - Foto: Tv Brasil

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou nesta quarta-feira o WhatsApp de entregar "todo o banco de dados" dos usuários do país para os líderes da oposição Edmundo González Urrutia e María Corina Machado, que contestam sua vitória nas eleições de 28 de julho. A declaração, feita sem a apresentação de provas, é mais um episódio da cruzada do chavista contra as redes sociais, que inclui a suspensão temporária do X e abertura de uma consulta pública na Assembleia Nacional para discutir a punição a discursos considerados fascistas nas plataformas digitais.

— O WhatsApp entregou aos terroristas venezuelanos, ao diabo, a essa demoníaca [María Corina] Machado, terrorista e assassina, fugitiva da justiça, e ao criminoso de guerra Edmundo González Urrutia e seus pequenos comanditos (...) toda a base de dados da Venezuela, quem você é, sua família, seus amigos, o que você fala, o que não fala, que vídeos compartilha, quais são seus gostos — disse Maduro.

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"Comanditos” são estruturas da sociedade civil criadas pela campanha de González Urrutia, que disputou a Presidência pela coalizão opositora Plataforma Democrática Unida (PUD) no lugar de María Corina, inabilitada a concorrer a cargos públicos pela Justiça, controlada pelo chavismo. A partir da divulgação de 83% dos boletins das urnas, que não foram apresentados até hoje pela autoridade eleitoral, o grupo político tem defendido a vitória de González por 67% dos votos. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), por outro lado, consagrou Maduro vencedor por 51%.

Desde então, as ruas do país foram tomadas por uma onda de protestos que levou o regime venezuelano à escalada da repressão, incluindo uma campanha contra as redes sociais, principal meio usado pela oposição para mobilizar sua base, tendo em vista o aparelhamento de parte da imprensa local. São comuns circularem nas plataformas hashtags que denunciam fraude nas eleições e pedem uma "VenezuelaLivre", além da expressão "AtéOFim", mantra de María Corina.

O chavista alega que as plataformas estão sendo usadas para ameaçar militares, policiais e líderes comunitários, reiterando os pedidos à população para que desinstale o WhatsApp. Além da articulação entre a oposição e seus apoiadores, o aplicativo também é uma importante ferramenta de contato entre venezuelanos que residem no país e a diáspora, que muitas vezes compartilha informações que não estão disponíveis para os habitantes.

— Temos que chegar ao ponto de liberar o WhatsApp de nossas vidas — disse Maduro nesta terça-feira em um encontro com jovens transmitido pela emissora estatal VTV, onde afirmou que o aplicativo "está nas mãos do imperialismo tecnológico, inimigo da Venezuela e da humanidade".

Na semana passada, ele chegou a mencionar a necessidade de novas redes sociais operarem no país.

— Agora nós os bloqueamos... algum dia, mais cedo ou mais tarde, nascerão as novas redes sociais venezuelanas e nos libertaremos dessa gente — apontou o líder venezuelano.