Internacional

Presidente do Parlamento venezuelano chama Centro Carter e ONU de 'lixos' e defende fim de observação nas eleições

Críticas surgem após órgãos, um dos poucos a participarem da votação do último dia 28, levantarem suspeitas sobre transparência, imparcialidade e resultado das eleições

Agência O Globo - 14/08/2024
Presidente do Parlamento venezuelano chama Centro Carter e ONU de 'lixos' e defende fim de observação nas eleições
Foto: Reprodução

O presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Jorge Rodríguez, atacou os membros do Painel de especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) e o Centro Carter na terça-feira por levantarem dúvidas quanto ao resultado das eleições venezuelanas, que deram vitória ao presidente Nicolás Maduro, e propôs uma reforma nas lei eleitorais para suspender a participação de observadores internacionais nas votações.

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O deputado descreveu os funcionários da organização como "lixo sem palavras" e chamou o Centro Carter de "lixo pago pela (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional) Usaid". Os organismos internacionais foram um dos poucos observadores a participarem do processo eleitoral venezuelano após serem cadastrados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano.

— Façamos uma reforma das leis eleitorais da Venezuela para que nunca mais um estrangeiro venha a se posicionar sobre qualquer coisa relacionada às eleições — defendeu Rodríguez durante uma sessão ordinária do Parlamento com maioria chavista, questionando: — Por que eles têm de vir? Por qual motivo? Que tipo de capacidade eles têm?

No mesmo dia de sua declaração, um relatório preliminar do painel de especialistas da ONU concluiu que o CNE, pró-governo, "não cumpriu" as medidas básicas de "transparência e integridade", essenciais para a realização de eleições confiáveis. O painel, que esteve na Venezuela entre o fim de junho e 2 de agosto, destacou ainda que "o anúncio do resultado de uma eleição sem a publicação dos seus detalhes ou a divulgação dos resultados tabulados aos candidatos não tem precedentes nas eleições democráticas contemporâneas”.

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Maduro foi proclamado presidente quando o órgão tinha apenas 80% das urnas apuradas, com 51,9% dos votos, o que foi amplamente contestado pela oposição, liderada por María Corina Machado. Inabilitada politicamente pela Justiça venezuelana por 15 anos, Corina Machado alega que a oposição reuniu mais de 80% das atas e que, segundo afirmam, elas mostram uma vitória acachapante do candidato opositor, Edmundo González Urrutia.

— Eles [os especialistas da ONU] assinaram dizendo que [seu relatório] seria privado e agora vão torná-lo público — disse Rodríguez, antes da publicação do relatório, afirmando que eles "são um lixo sem palavras".

O Ministério das Relações Exteriores venezuelano também rejeitou o comunicado, afirmando que "representa um ato absolutamente imprudente que mina a confiança nos mecanismos concebidos para a cooperação e assistência técnica."

Já o Centro Carter não só levantou dúvidas quanto à transparência e imparcialidade do processo, como afirmou na semana passada que as atas coletadas pela oposição são "consistentes" e afirmou, à Folha, que González Urrutia venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível". A organização disse que os resultados apresentado pelos opositores consistem com uma pequena amostra de dados coletados por seus observadores em campo no dia da votação.

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Rodríguez afirmou que a organização internacional apenas servia quando Jimmy Carter, que, segundo o jornal Efecto Cocuyo, endossou os resultados do referendo revogatório de 2004 a favor de Hugo Chávez, padrinho político de Maduro, estava vivo.

Rodríguez, um dos operadores políticos privilegiados de Maduro, disse que a Câmara abrirá um debate “para condenar o ciberfascismo perpetrado por um setor terrorista da oposição venezuelana e para apoiar a criação de uma Comissão Nacional contra o Fascismo, o Ódio e a Violência”. Ele reiterou que a pressão internacional para que Maduro aceite a derrota não funcionará.

Por fim, responsabilizou Corina Machado, a oposição e as redes sociais pelos protestos e atos de violência espalhados pelo país, que já deixaram 25 mortos, 192 feridos e mais de 2.400 pessoas presas. (Com AFP e El País)