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'Somos uma banda que segue o exemplo do Iron Maiden e do Metallica', diz vocalista do Avenged Sevenfold, headliner do Rock in Rio
M. Shadows, cantor do grupo que é a principal atração do dia de sons pesados do festival, enfatiza evolução musical e se orgulha de ser 'de uma geração que ainda toca tudo ao vivo'

Atração principal no palco Mundo, no dia dos sons pesados do Rock in Rio (15 de setembro), a banda americana Avenged Sevenfold volta bem diferente daquela que se apresentou no festival em 2013. Um dos maiores nomes do heavy metal da atualidade, o grupo californiano fundado em 1999 chega para mostrar “Life is but a dream...”, seu ambicioso e desafiador álbum do ano passado.
Trata-se de um disco existencialista, influenciado por leituras de Albert Camus, no qual o quinteto faz seu metalcore se alternar — às vezes na mesma faixa — com rock progressivo, jazz fusion, rap, funk, dance music eletrônica e até instrumental de piano.
Em entrevista por Zoom, o vocalista M. Shadows (Matthew Charles Sanders) explica que esse novo trabalho surgiu durante a pandemia, a partir de uma busca por sentido para a vida. E de experimentos com substâncias psicodélicas como 5-MeO-DMT e psilocibina, com os quais ele diz ter vivido “momentos reveladores nos quais você pode dissipar tudo o que você sabe sobre você mesmo, sobre as coisas que você achava que eram importantes”.
— Encontrar um significado para a vida é uma coisa muito pessoal. Não há nenhum significado inerente, só uma espécie de escolha-sua-própria-aventura. Uma vez que você percebe isso, você começa a ter esse tipo de revelação sobre você mesmo e sobre o mundo em que vivemos — divaga. — “Life is but a dream...” é uma espécie de rápido estalar de dedos que leva você para este lugar onde, para começo de conversa, nunca houve regras. Você ama ele, ou não.
Para M. Shadows, foi essa narrativa sobre a vida o que impulsionou “os solavancos musicais”, a frenética mudança de estilos e as “acelerações e desacelerações” do disco — bem mais do que a uma necessidade dos integrantes de mostrar seus talentos como instrumentistas:
— A vida não faz necessariamente sentido e nós passamos por muitas fases, há muitas curvas que surgem do nada. E nós sabemos montar transições, sabemos modular músicas, só quisemos levar isso ao extremo, de uma forma que as pessoas nunca ouviram antes.
Tudo em “Life is but a dream...” veio da inevitável tentativa do Avenged Sevenfold de “continuar evoluindo como banda”, esclarece o vocalista.
— Há muitos fãs, em todos os gêneros, que gostam de certas épocas dos artistas e querem que eles sejam sempre essa coisa. Já nós queremos tocar as coisas que nos entusiasmam agora. Mas isso não quer dizer que não vamos nos divertir e garantir que o show seja completo — garante. — Estamos tocando coisas novas, mas também as coisas antigas. Só não queremos nos repetir, tocar em 2030 o mesmo set list que tocamos em 2024 e em 2013. Isso seria muito triste. Somos uma banda que segue o exemplo do Iron Maiden e do Metallica, bandas que seguiram avançando e avançando até chegarem ao momento em que estão.
Em sua busca por uma experiência mais “inebriante” e experimental, alinhada com a de bandas como Pink Floyd, Tool e Gojira do que com a do “pop metal”, M.Shadows diz que o Avenged Sevenfold preparou um show que se apoia na música e em uma série de vídeos, mais do que de fogos de artiício e demais efeitos pirotécnicos.
— Mas isso não significa que não possa haver pirotecnia ou lasers, só que eles precisam ser feitos com bom gosto — argumenta ele, informando que o show abre com as músicas de “Life is but a dream...”. — E sabe o que acontece quando tocamos o disco novo na primeira parte do show? As pessoas ficam ali de braços cruzados. Só depois que sai mais um disco seguinte é que as pessoas querem ouvir o anterior. Estamos bem conscientes disso, mas também não vamos deixar que o público dite o que queremos fazer no palco.
Hoje, o cantor diz considerar “Hail to the king”, o bem-sucedido álbum com o qual vieram ao Rock in Rio em 2013, “um disco muito simplista”.
— Tínhamos uma missão, estávamos cansados de ser aquela banda que entra num bar e não ouve nenhuma música sua tocando. Então, tentamos fazer um disco que girasse em torno dos grandes riffs, da simplicidade, de uma ode ao passado, e acho que acertamos em cheio — acredita. — Talvez você possa argumentar que os fãs de rock hoje em dia queiram algo simples e cativante, mas você também pode dizer que “ ei, esse disco é uma merda porque vocês são músicos muito melhores do que isso”. Sei que, mesmo correndo o risco de soar arrogante, podemos fazer um disco como esse sempre que quisermos.
De volta ao Rock in Rio com o Avenged Sevenfold depois de 11 anos, M. Shadows festeja.
— Receber essa oferta para chegar até vocês é um sonho para qualquer banda. Quando era garoto eu ouvia sem parar aquele álbum do Iron Maiden ao vivo no Rock in Rio. Com certeza fechamos um círculo — conta ele, lembrando que em 2013 eles foram a banda que tocou imediatamente antes do headliner... Iron Maiden (agora, o Avenged Sevenfold é o headliner). — Tivemos muita sorte (em 2013), porque tocar antes do Maiden é sempre difícil. Mas é muito mais difícil na Europa, lá os fãs deles apenas olham para você com os braços cruzados, o que intimida bastante. No Brasil os fãs são mais compreensivos, eles estão lá para se divertir e gostam de todas as bandas.
Há algumas semanas, a banda chegou ao noticiário por uma suposta decisão de impedir a transmissão do seu show no Rock in Rio, já que poderia sofrer comparações injustas com outras bandas uma vez que não utilizam bases pré-gravadas nas apresentações. M. Shadows diz que tudo isso aconteceu por causa de conversas com os fãs, no Discord, que foram tiradas de contexto pela mídia.
— Há muitas coisas que a banda está tentando rever, e muitas vezes tivemos casos em que estávamos fazendo um show e a mixagem da transmissão ao vivo é horrível. Para as pessoas que não entendem o funcionamento interno disso, fica parecendo até que a banda está tocando mal. Acho que o Rock in Rio é um desses festivais em que você soa muito melhor, eles têm uma equipe muito profissional. Nós apenas procuramos todas as maneiras pelas quais podemos controlar a narrativa — explica. — Não se trata nem de saber tocar instrumentos de verdade. Num show, você entra lá e arrasa ou não, mas eu adoro o fato de fazermos parte de uma geração que ainda toca tudo ao vivo. É uma experiência viva.
Para o cantor, a “democratização e a mercantilização da música” nos tempos da internet mudaram a forma com que o público consome rock — e, por tabela, a música de grupos como o Avenged Sevenfold.
— Hoje há um público mais velho que ainda ama AC/DC, Metallica e Iron Maiden, mas a nova geração ouve todos os tipos de gênero, é tudo uma mistura. Você vê o hip hop roubando do metal, o metal roubando do hip hop e da música eletrônica — discorre. — As pessoas gostam de seus hábitos e se decepcionam quando o gênero favorito delas não está mais tão representado no Rock and Rio. Mas, no final das contas, eu tenho filhos e eles não ouvem metal. Eles estão ouvindo Travis Scott (estrela do trap, atração principal do dia de abertura do Rock in Rio, 13/09), entre coisas. E eu vou chegar ao Rio dois dias antes do nosso show para ver o Travis com eles!
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