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Tiago Abravanel se reinventa em ‘Hairspray’ e garante: ‘Depois do BBB, não tenho medo de mais nada’

Ator encarna Edna Turnblad, produz e dirige musical que estreia quinta-feira no Rio: ‘Imagina eu fazendo uma personagem que quem viveu foi a Divine, uma diva, uma drag queen?’

Agência O Globo - 03/07/2024
Tiago Abravanel se reinventa em ‘Hairspray’ e garante: ‘Depois do BBB, não tenho medo de mais nada’

Idealizador, produtor, diretor e ator: é este acúmulo de funções que Tiago Abravanel, de 36 anos, vive alegremente na nova montagem do musical “Hairspray”, com estreia marcada para esta quinta-feira, no Teatro Riachuelo, no Centro do Rio.

— Acho que estou conseguindo administrar bem, já que ainda não tive um piripaque — brincava ele, já meio vestido como Edna (a mãe da protagonista, Tracy Turnblad), a 17 dias da estreia, num dos ensaios que aconteciam em São Paulo, no célebre Teatro Imprensa (de seu avô, o apresentador Silvio Santos). — A gente foi a mais de 40 empresas para conseguir patrocínio, no processo de um cara que, apesar de ser o Tiago Abravanel, nunca tinha produzido musical desse tamanho. Muitas vezes a gente quis desistir, ao ter que passar por aquela coisa do “é o neto de Silvio Santos querendo montar uma pecinha... como assim, você não tem o Baú da Felicidade?”.

Há 13 anos fechado, o teatro foi reaberto somente para as audições e os ensaios de “Hairspray”. Quem chega lá é recebido por um display de Silvio Santos, de papelão.

— Todo dia a gente pede a benção pro vovô! Cresci e respirei teatro neste lugar, era o meu playground. Saía da escola e vinha direto para cá, foi onde conheci teatro em geral —diz Tiago. — Aqui fiz minha estreia profissional, aqui vi a Bibi Ferreira dirigindo... É a minha base.

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O musical americano de 2002, de Marc Shaiman e Scott Wittman, baseado em filme de 1988 de John Waters, é uma antiga fixação de Tiago.

— Eu pensava: “Caraca, pessoas gordas como protagonistas!” — conta ele, que, em 2009, aos 21 anos, participou da primeira montagem brasileira de “Hairspray”, dirigida por Miguel Falabella, fazendo quatro personagens, mais uma possível substituição para a Edna Turnblad de Edson Celulari (que, para sua tristeza, nunca faltou a uma sessão).

— Foi muito divertido, mas era como se estivesse faltando alguma coisa. Eu enxergava o espetáculo do ponto de vista de uma pessoa gorda, eu sentia que em algum lugar eu precisava resolver isso — recorda-se.

E a hora chegou. Pouco antes da pandemia, Tiago e seus amigos-sócios (Antonia Prado, Tinno Zani e Rafael Villar) conseguiram comprar os direitos de “Hairspray” e aos poucos foram tirando do chão a produção da história de Tracy, jovem otimista e fora dos padrões de beleza que sonha em dançar num programa de TV da Baltimore de 1962 e que, nessa, acaba juntando forças à juventude negra igualmente segregada na atração.

Em busca de inclusão, o quarteto de idealizadores/produtores fez audições, convocadas pelo TikTok, para profissionais de qualquer ponto do Brasil, mesmo sem experiência prévia.

Tiago diz entender que o seu “Hairspray” tem que representar o espírito de 2024. E não só em questões de “piadas e nomenclaturas” ou “de como essas pessoas pretas se sentem dentro dessa produção”.

— A gente levou questionamentos para os autores americanos. E aí a gente conseguiu uma mudança muito especial, que vai além da estética. É um fim alternativo — revela.

Momento certo

No meio de tudo, Tiago quase desistiu de interpretar Edna Turnblad.

— Eu tinha uma visão tão clara do que queria com a encenação que falava: “Putz, não vou ter tempo para olhar para essa personagem!” Mas, ao mesmo tempo, eu falava assim: “Tiago, não era seu sonho? Agora você conseguiu comprar o negócio e vai abrir mão disso?”

Em 2009, quando ainda não era pública a sua homossexualidade, a possibilidade de viver uma Edna lhe trazia uma certa apreensão. Hoje, tudo está em ordem, depois de um coming out que, para ele, “foi como tirar um piano de cauda das costas”.

— Imagina eu fazendo uma personagem que quem viveu foi a Divine, uma diva, uma artista drag queen? Eu não ia poder falar sobre tudo isso, eu não ia poder ocupar esse lugar? Então tudo tem um momento certo — acredita o ator. — “Hairspray” é uma nova virada de chave na minha vida, assim como o Tim Maia (papel que projetou sua carreira em 2011, no musical “Vale tudo”). Acho que é o meu renascimento em todos os sentidos.

A desistência no Big Brother Brasil, em 2022, deixou marcas na percepção de sua persona pública. Mas...

— Acho que talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu, porque depois do BBB eu não tenho medo de mais nada — garante. — Fui muito julgado, alguns acham que foi uma atitude heroica, para outros eu fui o cara que desistiu. Isso só me deu força e coragem para acreditar que é possível olhar para a gente da maneira como se merece ser olhado. A gente não vai agradar todo mundo, né? Então é hora de fazer aquilo em que você realmente acredita.