Internacional

Amorim defende união de progressistas na Bolívia: 'A tentativa de golpe falhou, mas podem ter outras'

Assessor de Lula disse que agenda bilareral com país vizinho 'só funciona na democracia"

Agência O Globo - 27/06/2024
Amorim defende união de progressistas na Bolívia: 'A tentativa de golpe falhou, mas podem ter outras'
Celso Amorim - Foto: Tomaz Silva (Ag.Brasil)

Um dia depois de fracassada uma tentativa de golpe de Estado na Bolívia, o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, afirmou, nesta quinta-feira, que as forças progressistas bolivianas precisam se unir. Amorim disse acreditar que somente dessa maneira será possível evitar que a democracia volte a ser ameaçada no país vizinho.

— A Bolívia é um país que tem sido fracionado entre as forças populares. Tem que tomar muito cuidado. Essa tentativa falhou, mas podem ocorrer outras — afirmou, ao GLOBO, o assessor internacional e ex-chanceler do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante os dois primeiros mandatos.

Atualmente, há um racha entre líderes políticos de esquerda dentro da Bolívia que enfraquecem as forças progressistas, consideradas fundamentais no combate à extrema direita. Na Bolívia, isso fica evidente com a disputa entre o ex-presidente Evo Morales e o Luis Arce, por maior destaque no MAS (Movimento ao Socialismo). O ideal, para Amorim, seria se todos os partidos democráticos se unissem, para que não se repita o que aconteceu.

Na última quarta-feira, em poucas horas, o general Juan José Zúñiga orquestrou um fracassado golpe militar, para tomar o poder do presidente Luis Arce. Zúñiga foi preso assim que o movimento foi sufocado.

— A expectativa é que possa haver uma união ou entendimento entre as forças progressistas — disse Amorim.

Para ele, foi dado um passo importante e tudo se resolveu não apenas pela pressão das forças democráticas, mas porque a maioria das Forças Armadas não aderiu.

Celso Amorim ressaltou que a Bolívia já um parceiro do Mercosul e está prestes a se tornar membro pleno do bloco. Falou sobre a importância das relações entre Brasil e Bolívia, as compras de gás natural do país vizinho, mas fez uma ressalva:

— Tudo isso só funciona na democracia.

Amorim disse que a democracia está ameaçada em toda a América do Sul, com o crescimento da extrema direita no mundo. E, sem citar nomes, afirmou que também há grandes interesses econômicos na Bolívia, por causa das reservas de lítio do país.

Na tarde da última quarta-feira, antes de os militares retornarem aos quartéis e o golpe ter sido abortado, Amorim se reuniu com Lula e o chanceler Mauro Vieira. A situação foi considerada preocupante e a possibilidade de rompimento das relações, se o golpe fosse confirmado, estava sobre a mesa.

O presidente brasileiro telefonou para a presidente de Honduras, Xiomara Castro, e propôs uma reunião extraordinária da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), ainda nesta quinta-feira. A ideia é que os países da região divulguem uma declaração condenando a tentativa de ruptura da democracia na Bolívia.