Internacional
Atentado na Rússia: O que sabemos sobre o ataque terrorista a igrejas e sinagogas no Daguestão
Político russo foi preso por suposta participação de filhos no atentado, que matou ao menos 20 pessoas e feriu mais de 40
A Rússia foi palco de um novo atentado terrorista no domingo, quando homens armados atacaram múltiplos templos religiosos e autoridades policiais na região do Daguestão, no Cáucaso russo. O ataque, que deixou ao menos 20 mortos e quase 50 feridos, de acordo com um balanço inicial das autoridades locais, é o segundo em um espaço de três meses, levantando questões sobre uma possível escalada de atividades terroristas no país em guerra.
Contexto: Ao menos 20 mortos em ataques contra igrejas ortodoxas e sinagogas no Cáucaso russo
Ataques terroristas: Veja a cronologia dos atentados contra a Rússia
Antes do atentado deste domingo, em março, homens vinculados ao grupo terrorista Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K) invadiram uma casa de show nos arredores de Moscou e abriram fogo contra a plateia. Mais de cem pessoas morreram e cerca de 140 ficaram feridas. O grupo jihadista reivindicou a autoria do ataque, em um comunicado público em que comemorou o ataque a "um grande agrupamento de cristãos".
No caso do Daguestão, não houve uma reivindicação de autoria imediata para o ataque. Contudo, a região é um centro de inquietações étnicas e políticas desde os tempos do Império Russo, com uma população de maioria muçulmana que já se radicalizou em torno de grupos que utilizaram o terrorismo como modus operandi anteriormente. No caso do ataque a Moscou, parte dos suspeitos apontados pelo governo russo como envolvidos com o ataque tinham vínculos com o Daguestão.
Como foi o atentado?
Homens armados lançaram ataques simultâneos contra sinagogas, igrejas e autoridades policiais nas cidades de Derbent e Makhachkala, capital do Daguestão, no domingo. De acordo com um balanço do Ministério da Saúde do Daguestão, apresentado na segunda-feira, 20 pessoas morreram, incluindo 15 policiais e 5 civis — um deles um padre —, e outras 46 ficaram feridas.
O Comitê Nacional Antiterrorismo da Rússia informou que os ataques tiveram como alvo duas igrejas ortodoxas, duas sinagogas e um posto policial.
De acordo com o Congresso Judaico Russo, os terroristas atearam fogo nas sinagogas, lançando coquetéis molotov. Eles abriram fogo contra os seguranças e policiais que estavam do lado de fora do templo religioso, em um ataque próximo ao momento das orações matinais. No caso das igrejas ortodoxas russas, comemorava-se o feriado religioso de Domingo de Pentecostes.
Quem está por trás do atentado?
Nenhum grupo reivindicou oficialmente o ataque no Daguestão. Contudo, uma operação de segurança lançada pela Rússia ainda no domingo resultou na morte de ao menos cinco pessoas apontadas pelas autoridades como militantes terroristas — uma autoridade local falou em seis mortos.
As autoridades russas afirmam que os responsáveis pelo ataque estão sendo identificados, mas até o momento nenhum detalhamento foi apresentado. A agência russa de notícias Tass afirmou que uma autoridade daguestanesa, Magomed Omarov, chefe do distrito de Sergokalinsky e membro do partido Rússia Unida, foi detido devido à participação de dois de seus filhos no ataque.
Uma fonte ouvida pela rede de TV russa RT, citada também pelo jornal The Moscow Times, disse que os filhos do político, que foi sumariamente demitido do partido governista, seriam simpatizantes da al-Qaeda.
Onde fica o Daguestão?
A República do Daguestão fica no sudoeste da Rússia, banhada a leste pelo Mar Cáspio, e faz fronteira com Geórgia e Azerbaijão.
Diverso etnicamente, o Daguestão foi palco de uma série de disputas étnicas históricas, sobretudo nas décadas de 1990 e 2000, quando grupos extremistas e separatistas se organizaram como guerrilha no norte do Cáucaso, ao fim da União Soviética.
Moscou combateu insurgências islâmicas na região, mas os combates mais famosos aconteceram na república vizinha da Chechênia, onde duas guerras civis com fins separatistas foram travadas. A Rússia conseguiu alguma estabilidade na região após passar o controle político ao chefe político Ramzan Khadyrov, detentor de poder militar na região.
Terrorismo na Rússia
O modus operandi e os alvos dos ataques de domingo apontam, inicialmente, para uma ofensiva com cunho de extremismo religioso. O Comitê Nacional Antiterrorismo abriu uma investigação com base no artigo do código penal russo que trata de ataques terroristas e, paralelamente, autoridades locais disseram investigar a existência de células de grupos estrangeiros na região.
No caso do atentado de março, na região próxima a Moscou, os terroristas eram membros do ISIS-K e chegaram a viajar para a Síria, onde receberam treinamento. Na época do primeiro ataque, o grupo terrorista mencionou o papel da Rússia na luta contra o Islã — o país foi um dos principais apoiadores do regime de Bashar al-Assad na guerra civil travada contra o EI.
ISIS-K: Grupo afiliado ao Estado Islâmico tem ambições globais
A Rússia coleciona um um longo histórico de atentados terroristas nas últimas décadas. Alguns casos e grupos terroristas ganharam notoriedade, como o atentado ao metrô de São Petersburgo, em 2017, que matou 14 pessoas e deixou dezenas de feridos, com ligações ao Estado Islâmico do Levante. Em 2010 e 2004, o metrô de Moscou foi alvo de detonações em ataque realizado por mulheres-bomba, que ficaram conhecidas como viúvas negras da Chechênia.
A região do Daguestão está conectada a outros dois atentados notórios: em dezembro de 2013, dois atentados realizados em menos de 24 horas, às vésperas da noite de ano-novo, mataram 34 pessoas e deixaram dezenas de feridos em Volvogrado, no sul da Rússia, atribuídas a um grupo terrorista islâmico proveniente do Daguestão. Em 2011, um jovem na casa dos 20 anos, natural da região norte do Cáucaso explodiu o equivalente a sete quilos de TNT no Aeroporto de Domodedovo, o principal dos três aeroportos comerciais de Moscou. Trinta e cinco pessoas morreram e 170 ficaram feridas.
Relação com as guerras?
O atentado terrorista na Rússia rapidamente foi relacionado por autoridades locais com outros dois conflitos que se desenrolam em regiões distintas: a guerra na Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.
O governador do Daguestão, Sergei Melikov, classificou os ataques como uma tentativa de “desestabilizar” a sua região, e disse saber "quem está por trás destes ataques terroristas e que objetivo perseguem", sem fornecer detalhes específicos, mas fazendo referências ao conflito na Ucrânia.
Ilustrações: Entenda o passo a passo do ataque que deixou 133 mortos e mais de 140 feridos perto de Moscou
— Devemos compreender que a guerra também chega às nossas casas. A sentimos, mas hoje a enfrentamos — disse ele.
O Patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa e fervoroso defensor do Kremlin, disse que o “inimigo” estava tentando destruir a “paz interreligiosa” na Rússia, sem identificar quem ele acreditava ser o responsável.
Em março, após o ataque à casa de shows perto de Moscou, Putin inicialmente disse que Kiev teve uma participação no planejamento do ataque. O líder russo fez a declaração sem apresentar evidências.
Por outro lado, as tensões na região de maioria muçulmana escalaram desde o início da guerra em Gaza, em que a Rússia mantém uma postura de distanciamento. Em outubro, uma multidão furiosa invadiu o aeroporto local quando circularam notícias nas redes sociais de que estava para chegar um voo de Israel. (Com AFP)
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