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Chico Buarque, 80 anos: leia as mensagens de parabéns de colegas e amigos

A pedido do Globo, nomes como Gilberto Gil, Joyce Moreno, Francis Hime e Carlinhos Brown mandam seus recados para o artista, que faz aniversário nesta quarta (19)

Agência O Globo - 19/06/2024
Chico Buarque, 80 anos: leia as mensagens de parabéns de colegas e amigos

Gilberto Gil, cantor e compositor

"Quando nos conhecemos ele ainda não tinha vinte anos. Agora ele já faz oitenta. Eu sou dois anos mais velho. Mais velho? Um pouquinho mais. Ontem eu vi umas imagens dele, hoje. Parece ainda muito jovem, com a cara bonita, os cabelos agrisalhados e bem penteados, o sorriso mais aberto e (talvez) mais franco. Que a vida lhe deu espaço generoso para fazer muito de tudo que ele quis inventar. Ele, até hoje, caminha quase todo dia e joga futebol quase toda semana. Tem que estar em ótima forma e vai estar ainda por muito tempo. E eu irei gostar dele cada vez mais, gostando dele igual, como da primeira vez quando ele ainda não tinha vinte anos! Parabéns meu oitentão querido.Saudações Tricolores!"

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Joyce Moreno, cantora e compositora​

"Chico, gênio da raça, orgulho do Brasil — yes, nós temos essa pessoa brasileira que se transforma em outras pessoas quando escreve, e isso significa que ele 'ouve', que se coloca no lugar de tantos e tantas quando lhe baixam as santas e os santos. Acreditem, é assim. Pode ser mulher ou homem, malandro ou otário, operário ou patrão, ele vai traduzir o melhor e o pior de nós (e ainda por cima, é um grande melodista…) Podem me julgar, mas estou certa de que se a língua portuguesa tivesse o alcance planetário que tem o inglês, não tinha pra ninguém — aquele Nobel do Bob Dylan seria nosso."

Francis Hime, pianista e compositor

"O que dizer sobre Chico além de que trata se de um compositor e poeta excepcional, um querido amigo, parceiro e compadre que me trouxe muitas e muitas alegria pela vida afora. Salve Chico! Benvindo aos oitentinha!!! Um beijo do Francisco (eles chamam um ao outro de Francisco)

Carlinhos Brown, músico (e genro)

"De Antônio pra Francisco. (O nome de batismo de Brown é Antônio Carlos Santos de Freitas.) Considero que Seu Francisco tem um tom essencial de vivência e o olhando o confundo muito com a prece feita por São Francisco (“Onde houver ódio, que eu leve o amor”). Ele é esse educador, pacificador, reconciliador que defende as minorias. E por que não dizer? Minorias em todas as classes sociais. Ele une as as pessoas, une os casais. E quantas músicas de despedida já não acabaram fazendo com que casais se reconciliassem? Amo esse poeta e aprendi a amar muito essa pessoa com a convivência. Afinal, nossa grande parceria são os seus netos e meus filhos com Helena, com os quais ele tece um carinho e um amor que me emociona. Ele é sim muito respeitado como letrista, como poeta, como o escritor que é, mas verdadeiramente, antes de entender a sua literatura, eu entendi as suas melodias, eu busquei entender um caminho harmônico através do que ele fazia, porque sempre achei que o violão tinha mais a oferecer do que aquelas simples notas que eu buscava aprender. Eu gostava da calma harmônica. Desse cara da bossa nova, do samba reggae, do rap, da Timbalada. Quando ele fala “O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano” é uma afirmação de que Chico Buarque é como o Samba, sua origem é múltipla. É um espelho de miscigenação de um homem brasileiro não só nas massas, mas por onde passa. Ele ensina o tempo inteiro para nós essa brasilidade e esse jeito de ser internacional. Chico é reservado e muito elegante. Essa ideia dele ser reservado com a vida faz com que ele foque nas coisas com poesia e consiga trazer mensagens de extrema importância para que a gente encontre nessa construção do Brasil as galerias onde podemos ser acolhidos. Ou talvez, no coração de cada um, também possamos de um certo modo ser merecedores de catar as poesias dele que sobram, derramam no chão e nascem fortemente para todos. Que ele sempre se encontre nessa felicidade. E que o senhor, que não deixa de ser um menino e um gênio da bola, tenha um feliz aniversário. Que Deus o abençoe, Mestre."

Miguel Faria Jr., cineasta

"O Chico é um dos maiores brasileiros vivos. Sua obra encanta e traz esperança para milhões de brasileiros há mais de 60 anos. É um orgulho ter trabalhado com ele e ser seu contemporâneo. Tive a honra dele ter feito a música para alguns de meus filmes. Eu sei que as músicas dele melhoraram os meus filmes. E só o fato de ter provocado as composições dessas músicas já é um acontecimento importante para mim."

Renato Aragão, humorista

"Quando J.B. Tanko (cineasta croata que se radicou no Brasil) e eu pensamos na possibilidade de unir a poesia de Chico Buarque às cenas dos 'Saltimbancos Trapalhões', sabia da responsabilidade que estávamos assumindo. Mas tudo foi tão especial que eu considero que este filme é um marco do cinema brasileiro. Lembro-me de todo profissionalismo envolvido e de como nos sentimos gratificados por encenar e registrar no cinema músicas como “Hollywood”, “Piruetas”, “História de uma gata”... realmente é um dos grandes momentos da minha vida. Chico é um daqueles artistas do panteão dos melhores do mundo. Seu talento é excepcional. Ele consegue traduzir emoções e sentimentos em forma de poesia."

Geraldo Carneiro, poeta, tradutor e letrista

‘Chico é incomparável pela inteligência, o humor e a poesia. Não bastasse, é um cidadão fundamental. Tomara que continue iluminando o Brasil por toda a eternidade e mais um dia’

Eucanaã Ferraz, poeta e ensaísta

"Sabe por que eu acho que é difícil falar de Chico Buarque? Porque, na verdade, Chico Buarque é quem fala por nós. Chico é um dramaturgo. Quando escreve romances, quando faz letras de canções, ele tem uma facilidade enorme de criar personagem, situações e de dar voz àquilo. O que o dramaturgo faz? Ele não fala de alguém, ele põe todo mundo pra falar. Isso é a essência do drama. Com um grande vocabulário existencial, ele consegue dar voz ao marginal e, ao mesmo tempo, à elite, como aquele homem do livro 'O leite derramado', uma pessoa horrível falando coisas horríveis. Com a frieza de um dramaturgo, ele traz personagens que ninguém quer tocar. O bicheiro, o escravocrata, a mulher submissa, todo mundo fala, todo mundo tem voz. Porque ele é um cara de teatro, ele quer botar todo mundo pra falar. Mas o que é mais impressionante é que ele põe essas vozes para brigar entre si, entendeu? É uma coisa fabulosa, eu não conheço ninguém faça isso na canção brasileira ou mundial."

Moyseis Marques, cantor e compositor

"É muito fácil ser redundante ao falar de Chico Buarque. Um sujeito com essa envergadura intelectual, que dedica boa parte de sua obra a falar pelas minorias, por si só, já seria um grande brasileiro. Prefiro falar do grande cantor que é — não só porque gosto de contrariar e dizem que nossos timbres se confundem — mas por dedicar sua voz frágil e precisa a codificar melodias complexas e letras densas, contundentemente brasileiras, como se fosse fácil. A ponto de, mesmo com os maiores intérpretes dando voz a suas músicas, ainda termos predileção por ouvi- las com o próprio Chico."