Economia

Nem Bolsonaro, nem Guedes: jantar de Tarcísio para Campos Neto teve como principais convidados Temer, Doria e banqueiros

Governador de SP tentou classificar evento como uma reunião entre amigos, mas a presença de políticos mais ligados ao centro deram à homenagem ao presidente do BC um caráter político

Agência O Globo - 11/06/2024
Nem Bolsonaro, nem Guedes: jantar de Tarcísio para Campos Neto teve como principais convidados Temer, Doria e banqueiros

Mesmo com a negativa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o jantar que ele ofereceu na noite de ontem ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, teve um forte componente político, dada a lista de presentes ao convescote.

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À mesa, havia um ex-presidente, ex-ministros, dois ex-governadores de São Paulo, líderes de partidos de centro e muitos representantes de bancos e instituições do mercado financeiro. Ainda assim, Tarcísio fez questão ontem de dizer que se tratava apenas de uma reunião entre amigos.

O ex-presidente presente, no entanto, não era Jair Bolsonaro, responsável pela indicação de Campos Neto ao Banco Central e de Tarcísio ao seu ministério e à posterior candidatura ao governo paulista. O ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, também não estava entre os convidados. Os nomes mais emblemáticos do jantar foram o do ex-presidente da República Michel Temer e o do ex-governador de São Paulo João Doria, desafeto de Bolsonaro.

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Considerando que o nome do anfitrião, Tarcísio de Freitas, tem sido visto como possível alternativa da direita à disputa da presidência com o candidato do PT, em 2026, o evento com presenças tão ilustres foi apontado por um interlocutor de Tarcísio como uma sinalização de que a candidatura do ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro é viável e pode ganhar corpo nos próximos dois anos, uma vez que Bolsonaro está inelegível.

Já passava das 22h30 quando o jantar começou e se estendeu até o início da madrugada, reunindo ao menos 60 pessoas, bem mais que o esperado para uma reunião de caráter meramente pessoal.

Tarcísio foi o único a discursar no jantar, que teve como pratos principais massa, salmão e carne. Ele praticamente repetiu os elogios que havia feito ao amigo Campos Neto mais cedo, durante a cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em que o presidente do BC recebeu o “Colar de Honra ao Mérito Legislativo”, uma homenagem proposta pelo deputado Tomé Abduch (Republicanos), pelos seus serviços à frente da autoridade monetária.

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Tarcísio voltou a dizer (pela terceira vez no mesmo dia) que o presidente do BC, com quem jogava tênis em Brasília, era um 'ET' por sua inteligência acima da média. E afirmou que apenas amigos mais próximos foram convidados.

A presença de Temer foi atribuída ao fato de ele ser amigo da família de Campos Neto, que, como o nome indica, é neto do ex-deputado e ex-ministro Roberto Campos, falecido em 2001.

Além de Doria, que apoiou Bolsonaro em 2018 mas rompeu com ele em 2019, também foi ao jantar o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que sucedeu Doria no Bandeirantes e foi derrotado na campanha de reeleição em 2022 por Tarcísio.

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Os líderes partidários que mais chamaram a atenção estão entre os mais influentes dos partidos de centro: Marcos Pereira, presidente do Republicanos (partido de Tarcísio), e Gilberto Kassab, presidente do PSD e um dos principais secretários do governador de São Paulo.

Entre os ex-ministros de Bolsonaro, compareceram Bruno Bianco, Fabio Faria, Flávia Arruda e Wagner Rosário.

De acordo com o colunista do GLOBO, Lauro Jardim, a ala financeira foi bem robusta. Entre os banqueiros que foram ao jantar, estavam Luiz Carlos Trabuco e Marcelo Noronha (Bradesco); André Esteves (BTG), Guilherme Benchimol (XP); e Mario Leão (Santander), além de Isaac Sydney, presidente da Federação Brasileira de Bancos. Carlos Vieira e Tarciana Medeiros, respectivamente presidentes da Caixa e do Banco do Brasil, indicados pelo presidente Lula, não compareceram.

Campos Neto tem sido alvo de críticas de Lula, que não pôde substituí-lo, e membros do governo desde o início do terceiro mandato do petista. Indicado por Bolsonaro para o primeiro mandato de um Banco Central autônomo, Campos Neto, várias vezes, foi acusado de ter atuado politicamente ao manter a taxa de juros Selic (que baliza as demais taxas do mercado) em patamar elevado.

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Juros mais altos paralisam investimentos, crédito e consumo. A taxa atualmente está em 10,5% ao ano e os bancos acreditam que ela não deve cair mais este ano.

No jantar, as críticas de Lula ao presidente do BC deram lugar a elogios rasgados, que já haviam começado na homenagem feita na Alesp. O deputado Gilberto Nascimento (PSD), por exemplo, disse na Assembleia que Campos Neto deveria ficar “20 anos à frente do BC”. Já Tomé Abduch (Republicanos) afirmou que o rigor técnico norteou as decisões do presidente BC, sem nenhum viés ideológico.