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Flamengo e Vasco fazem clássico também na política para levar adiante pautas importantes por estádios

Negociações mobilizam personagens fora de campo, com cooperação entre rivais, políticos como figuras-chave e dirigentes com pretensões eleitorais

Agência O Globo - 02/06/2024
Flamengo e Vasco fazem clássico também na política para levar adiante pautas importantes por estádios
Flamengo e Vasco fazem clássico também na política para levar adiante pautas importantes por estádios - Foto: Reprodução/internet

A rivalidade entre Vasco e Flamengo, rivais deste domingo, ganha contornos mais amenos quando o assunto é política. Fora de campo, os clubes buscam interesses em comum em relação aos seus estádios próprios, e deixam de lado a tensão que perdurou na disputa pela concessão do Maracanã, vencida pela dupla Fla-Flu, para que ambos tenham benefícios futuros.

Nos últimos dias, houve dois exemplos simbólicos de cooperação. Eduardo Paes, prefeito do Rio e vascaíno declarado, levou a cruz de malta na camisa ao encontrar rubro-negros ilustres em um jantar em que ameaçou desapropriar o terreno da Caixa no Gasômetro para que o Flamengo avance por seu estádio. Dias depois, o ex-presidente do Flamengo, Delair Dumbrosck, participou de discussões para acelerar a aprovação dos trâmites para a venda do potencial construtivo do estádio do Vasco, que aguarda aval da Câmara para passar por uma reforma e ampliação.

Trabalho nos bastidores

Os dois movimentos contam com outros personagens muito mais ligados à política do que aos clubes. A bancada vascaína da Câmara de Vereadores do Rio se articulou para aprovar de uma vez o projeto de reforma de São Januário, economizando meses de debates. Com detalhe do apoio do presidente da Câmara, o tricolor doente Carlo Caiado, que coordenou esse acordo pra acelerar a tramitação do projeto do Vasco.

Em reunião extraordinária na última semana, as 17 comissões deram parecer conjunto favorável ao projeto. Todos os vereadores das comissões presentes votaram a favor. Depois disso, houve audiência pública na Barra, onde o ex-presidente do Flamengo participou, como presidente da Câmara Comunitária do bairro. O evento contou com a presença de Pedrinho, presidente do Vasco, e de vereadores que têm ajudado no projeto de São Januário, como Alexandre Isquierdo (União), Pedro Duarte (Novo) e Zico (PSD).

Em litígio com a 777, sócia majoritária da SAF, Pedrinho tem no assunto estádio o principal trunfo político, já que não depende da empresa para ter autonomia. O projeto ainda precisa ser votado em dois turnos na Câmara. No processo de votação, o texto pode receber mudanças, que também são votadas em plenário. Se aprovado, segue para sanção ou veto do Prefeito Eduardo Paes, que já deixou claro o apoio. Ao andar de mãos dadas com Vasco e Flamengo, Paes vai com tudo para a reeleição e tem pretensões de alçar voos mais altos nacionalmente, segundo relatos de flamenguistas e vascaínos com quem tem conversado.

Pressão local e em Brasília

Na Prefeitura, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) é quem articula sobre o estádio do Flamengo junto ao clube e ao secretariado de Paes. Ele também faz a interlocução com a Caixa Econômica, mas nesta frente o clube tem apoio de peso em Brasília. Estão integrados à diretoria o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o presidente do Progressistas, Ciro Nogueira, além do deputado federal líder do partido, Doutor Luizinho. Por se tratar de um terreno administrado por um banco público, cujo presidente e vice-presidentes são quase todos indicados por partidos do Centrão, o Flamengo se cerca para avançar na compra da área no Gasômetro. Como a Caixa não informou quanto quer pelo terreno ainad, essa força-tarefa está acionada para fazer pressão no presidente Carlos Vieira e nos acionistas do banco.

O detalhe da articulação do Flamengo pelo estádio passa também pelo fato de o clube viver ano de troca de presidente. Rodolfo Landim, que está em seu segundo e último mandato, quer deixar a compra do terreno acertada até outubro. E com isso fazer o sucessor sem que haja disputa real com candidatos de oposição. Nesse cenário, Paes trouxe para seu lado o diretor Cacau Cotta, que recentemente rompeu com o futebol em função da rixa política com o vice Marcos Braz. Ambos serão candidatos a vereador, mas Braz está alinhado ao candidato de oposição a Paes, Alexandre Ramagem.