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Minha primeira noite num abrigo em Kiev: sirenes, mísseis e drones fazem parte do dia a dia dos ucranianos

Nesta madrugada, segundo sites da Ucrânia, os russos lançaram um ataque contra instalações militares

Agência O Globo - 30/05/2024
Minha primeira noite num abrigo em Kiev: sirenes, mísseis e drones fazem parte do dia a dia dos ucranianos
Minha primeira noite num abrigo em Kiev: sirenes, mísseis e drones fazem parte do dia a dia dos ucranianos - Foto: Reprodução / Agência Brasil

No final da tarde de terça-feira ouvi pela primeira vez as sirenes tocarem em Kiev e confesso que fiquei impactada. Esse impacto durou apenas alguns segundos, porque rapidamente percebi que os ucranianos e estrangeiros ao meu redor estavam tranquilos, afinal, eles ouvem sirenes com frequência e já sabem quando há motivos para se preocupar. Todos continuamos conversando, como se nada estivesse acontecendo. Nesta madrugada, a situação foi diferente. Estava dormindo e fui acordada por uma colega jornalista, após as sirenes tocarem duas vezes. Recebemos a orientação de descer ao abrigo do hotel, levando nossos passaportes, celulares e o que mais conseguíssemos pegar rápido. Eram 4 da manhã em Kiev, mas sabíamos que grande parte de seus moradores estavam acordados, em abrigos espalhados pela cidade.

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Os ucranianos e estrangeiros que moram na Ucrânia têm em seus celulares aplicativos que avisam quando existe uma situação de risco e indicam se, em cada caso, é preciso ir até um abrigo. Em tempo real, os aplicativos informam que tipo de míssil ou drone foi lançado pela Rússia, por onde ele está passando e, finalmente, qual foi o objetivo atingido. Nesta madrugada, sabíamos que os mísseis passariam perto de Kiev, mas durante algum tempo não tínhamos certeza sobre quão perto ele poderia chegar. Negar o medo é inútil, e nessas horas a única alternativa é aprender a administrá-lo.

Enquanto esperávamos no abrigo, contactamos fontes ucranianas, que nos pediram que ficássemos lá até nova ordem. Ninguém estava em pânico, os ucranianos já aprenderam a atravessar este tipo de situações com relativa calma, o que acaba ajudando a acalmar quem está com eles. Ficamos todos olhando os aplicativos, tentando entender o que estava acontecendo, se o míssil passaria por Kiev e se, de fato, estávamos seguros.

No total, fiquei pouco mais de uma hora no abrigo. Por volta das 5 da manhã (23h de quarta-feira em Brasília) um dos aplicativos que consultamos confirmou que a Rússia lançou, além de mísseis, drones UAV “Shahed”, que atravessaram várias regiões do país e, um deles, atingiu Khmelnytska. De acordo com o site ucraniano Pravda.com, nesta madrugada os russos "lançaram um ataque com mísseis contra instalações militares e infraestruturas críticas da Ucrânia, utilizando 19 mísseis e 32 "Shahedy". Todos os drones e 7 mísseis de cruzeiro foram abatidos”.

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Exatamente às 05h19 hs (23h19 de quarta-feira, em Brasília), um dos aplicativos indicou que “o alerta terminou em Kiev”. Respiramos aliviados. Foi uma madrugada difícil, na qual várias sensações se misturaram. Também foi difícil voltar a dormir.

Nesta manhã, uma ucraniana que conheci esses dias me escreveu perguntando se eu tinha ouvido as sirenes e ido para um abrigo. Respondi e imediatamente mudamos de assunto. Foi, para os que já estão acostumados, apenas mais uma noite de sono interrompida por sirenes.