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Putin se reúne com Xi Jinping em busca de maior apoio em meio à guerra com a Ucrânia

É a primeira viagem de Putin ao estrangeiro desde sua reeleição

Agência O Globo - 16/05/2024
Putin se reúne com Xi Jinping em busca de maior apoio em meio à guerra com a Ucrânia
Putin se reúne com Xi Jinping em busca de maior apoio em meio à guerra com a Ucrânia - Foto: Sputnik/Evgeniy Paulin/Kremlin

O presidente russo, Vladimir Putin, reuniu-se com o líder chinês, Xi Jinping, em Pequim, nesta quinta-feira, no início de uma visita de dois dias para angariar mais apoio de um aliado fundamental na guerra contra a Ucrânia.

É a primeira viagem de Putin ao estrangeiro desde sua reeleição, em março, e a segunda em meio ano à China, um apoio econômico vital para a Rússia depois das sanções impostas pelos países ocidentais por sua ofensiva contra a Ucrânia.

A visita chega em boa hora para as tropas russas, que avançam “em todas as frentes” de batalha, como Putin comemorou diante dos comandantes militares, antes de deixar Moscou.

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Na capital chinesa, o líder do Kremlin foi recebido calorosamente. Autoridades chinesas e uma guarda de honra esperavam por ele no aeroporto quando ele desceu do avião no meio da noite.

Horas depois, marchas marciais e os hinos nacionais de ambos os países ressoaram no Grande Salão do Povo, em Pequim, durante a recepção que Xi preparou ao seu aliado antes do encontro.

A viagem deverá servir para reafirmar a amizade “ilimitada” que ambos os líderes proclamaram dias antes do início da invasão da Ucrânia, no fim de fevereiro de 2022.

Desde então, as relações diplomáticas e comerciais entre Pequim e Moscou só se fortaleceram.

Xi ignorou as críticas ocidentais sobre essa aliança, que permite à China importar energia barata da Rússia e aceder aos seus vastos recursos naturais através, por exemplo, do gasoduto Siberian Power.

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- Esta é a primeira viagem de Putin desde a sua posse e visa demonstrar que as relações sino-russas estão avançando para outro nível - disse o analista político russo independente Konstantin Kalachev.

O Kremlin comunicou, essa semana, que os dois líderes discutirão “aliança global e cooperação estratégica” e “definirão áreas-chave de desenvolvimento da cooperação russo-chinesa, além de trocar pontos de vista sobre questões regionais e internacionais”.

Ambos os líderes devem assinar uma declaração conjunta e participar de uma cerimônia para comemorar o 75º aniversário das relações diplomáticas bilaterais, disse o Kremlin.

Durante a visita, Putin também se reunirá com o primeiro-ministro Li Qiang e viajará para a cidade de Harbin, no Nordeste, na sexta-feira, para uma feira comercial e de investimentos.

Por seu lado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês referiu que ambos os líderes abordarão “as relações bilaterais, a cooperação em vários domínios e questões internacionais e regionais de interesse comum”.

Parar o comércio

Uma dessas questões será provavelmente a guerra na Ucrânia, na qual a China afirma ser um ator neutro, apesar das críticas ocidentais por não ter criticado a invasão lançada por Moscou.

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Numa entrevista publicada pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua, antes de sua chegada, Putin elogiou o "desejo genuíno" de Pequim de tentar ajudar a resolver a crise na Ucrânia.

Mas o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que se encontrou com Xi no mês passado, em Pequim, alertou que o apoio da China à “guerra brutal de agressão” da Rússia ajudou o Kremlin a aumentar a produção de foguetes, drones e tanques.

Após a invasão da Ucrânia, o comércio entre China e Rússia disparou para um nível recorde de US$ 240 bilhões em 2023, segundo dados dos serviços alfandegários de Pequim.

No entanto, as exportações da China para a Rússia caíram em março e abril, em relação ao ano anterior, depois de os Estados Unidos terem ameaçado aplicar sanções aos bancos chineses.

O decreto assinado em dezembro pelo presidente dos EUA, Joe Biden, prevê sanções aos bancos estrangeiros ligados à máquina de guerra russa e os deixa fora do sistema financeiro global, baseado no dólar.

Essa ameaça, aliada ao desejo de reparar as relações com Washington, torna Pequim mais relutante em reforçar a sua cooperação com a Rússia, apesar da vontade de Moscou, dizem os analistas.

Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Eurasia Russia Center em Berlim, diz que os bancos chineses estão aplicando o princípio de que “é melhor prevenir do que remediar, o que reduz o volume de transações”.

- Descobrir se os pagamentos estão relacionados com o complexo industrial militar da Rússia está criando um desafio considerável para as empresas e bancos chineses - disse ele à AFP.