E o imperador foi embora

30/04/2025 02h02
E o imperador foi embora

Foi embora sem aceno, sem despedida, sem sequer olhar nos olhos do povo que um dia o aclamou. Deixou a cadeira de comando — que não era mais sua de direito, mas continuava sendo de fato — e foi para Maceió, satisfeito em massagear sua vaidade, assumindo uma secretaria que os cronistas políticos da capital classificam como “esvaziada”. Uma pasta feita mais de tapete que de poder. Um palanque, não uma missão. A “Secretaria de Relações Exteriores”, como foi apelidada, cuida, dizem, de levar o artesanato alagoano mundo afora — e foi por essa causa tão nobre que o imperador virou as costas para a cidade que o projetou.

Foi embora e, como num teatro de sombras, levou sua claque. Não foi só. Levou diretores de escolas, de secretarias, secretários, motoristas e bajuladores — uns em ônibus, outros em vans, outros tantos em carros próprios. Alguns aplaudiam, outros apenas cumpriam ordens. A caravana saiu de Palmeira como em romaria, não para um culto à fé, mas para o culto de um ego. Para uma posse que mais parecia um auto de exaltação pessoal. Uma peça vazia, em um cargo vazio, com uma plateia montada.

Mas ele não falou com o povo. Não prestou contas. Não explicou.

Foi embora…

Foi embora sem explicar onde estão os R$ 100 milhões da venda da Casal, dinheiro público, dinheiro do povo, dinheiro do futuro.

Foi embora sem justificar o paradeiro dos mais de R$ 7 milhões que sobraram da pandemia da Covid. Dinheiro que, por lei, deveria ter sido devolvido ou bem aplicado, mas que agora parece ter evaporado na névoa da omissão.

Foi embora sem dizer uma palavra sobre a multa de R$ 19 milhões da Receita Federal, por não recolher o PASEP dos servidores públicos. Uma dívida que recai, como sempre, sobre os ombros do contribuinte.

Foi embora sem dar explicações sobre a conivência com a Águas do Sertão, empresa que hoje destrói as ruas recém-pavimentadas com o dinheiro dos cofres públicos, cavando buracos e buracos sem que a Prefeitura fiscalize, multe ou sequer reclame. Como se os buracos também fossem do povo — e talvez sejam mesmo.

Foi embora deixando perguntas no ar, papéis empilhados, obras paradas, calçadas quebradas e um silêncio ensurdecedor.

Foi embora…

E deixou para trás sua tia — agora prefeita de direito e, ao que parece, de responsabilidade solitária. Deixou para trás uma cidade com mais dúvidas do que certezas, com mais promessas do que realizações. Deixou um povo que ainda espera, que ainda quer saber, que ainda acredita que a verdade há de ser dita — cedo ou tarde.

E se pensa que foi embora sem que ninguém notasse, se enganou.

Porque o povo de Palmeira dos Índios está vendo. Está atento. Está começando a despertar do encantamento. A estátua dourada começa a ruir, o pedestal treme, e a coroa, enfim, pesa.

O imperador foi embora. Mas as respostas, essas não podem ir com ele. Devem ser dadas. Onde ele estiver — seja na capital, seja no palácio, seja no camarim da política alagoana.

O povo exige, o povo merece, o povo não esquece.