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Nemo, representante da Suíça, vence Eurovision carregado de tensões políticas
Cantor não-binário venceu o concurso com a música “The Code”, na qual mistura rap e canto operístico para falar sobre sua jornada pessoal

A preparação para a final do Festival Eurovision da Canção, no sábado, em Malmo, na Suécia, teve uma tensão incomum. Foram meses de protestos contra o envolvimento de Israel no concurso, um concorrente suspenso poucas horas antes do início do espetáculo e confrontos entre a polícia e manifestantes pró-Palestina fora da arena.
Mas quando a final começou, o alvoroço logo se desfez. No lugar dos protestos e indignação, surgiu o habitual espetáculo melodramático, com canções sobre amores perdidos, dançarinos quase nus e, a certa altura, um artista saindo de um ovo gigante.
Ao final do show de quatro horas, representando a Suíça, Nemo venceu a competição com “The Code”. Na canção, o artista não-binário mistura rap e canto operístico para falar sobre sua jornada pessoal: “Fui ao inferno e voltei / Para me colocar no caminho certo/ Agora, encontrei o paraíso / quebrei o código”.
Nemo é o primeiro representante da Suíça a vencer o Eurovision desde Celine Dion em 1988 (ela cantou pelo país, apesar de ser canadense). O segundo lugar ficou com Baby Lasagna, uma banda de rock croata.
Eden Golan, a cantora israelense que foi alvo de protestos antes do evento, garantiu ficou em quinto. Na noite de sábado, algumas pessoas na plateia vaiaram enquanto Golan cantava sua música “Hurricane”, enquanto outros fãs aplaudiam para abafar o barulho.
Desde o início da invasão da Faixa de Gaza por Israel, após os ataques do Hamas em 7 de Outubro, organizações culturais em todo o mundo têm enfrentado o dilema de como responder ao conflito — e o Eurovision teve um desafio particular. Grupos pró-Palestina e muitos fãs do concurso passaram meses tentando, em vão, fazer com que os organizadores impedissem a participação de Israel. Os ativistas usavam como argumento o precedente, banida do Eurovision em 2022 após a invasão da Ucrânia.
Mas os organizadores rejeitaram esses apelos, afirmando que o programa é uma competição entre cantores, não entre nações. Embora Israel não faça parte da Europa, é membro da União Europeia de Radiodifusão e o país compete na Eurovision desde 1973, vencendo quatro vezes. Outros países não europeus, incluindo a Austrália, também competem no programa, cuja final atrai uma audiência televisiva ao vivo na casa das dezenas de milhões.
Em Malmo, ao longo da semana, a controvérsia em torno da participação de Israel esteve sempre presente, e não apenas nas marchas pró-Palestina. Os organizadores do Eurovision proibiram a exibição de slogans ou símbolos que, segundo eles, poderiam provocar dissidência, incluindo bandeiras palestinas. Durante um dos ensaios na semana passada, dois membros da plateia agitaram as bandeiras e os itens foram rapidamente removidos.
Slimane, um cantor pop que representa a França, parou de cantar durante o ensaio para pedir a paz: “Desculpe, não falo inglês muito bem. Todo artista aqui quer cantar sobre o amor e sobre a paz”. +Na própria final, as manifestações pró-Palestina no palco surgiram em pequenos gestos. Iolanda, cantora que representa Portugal, usou unhas postiças estampadas com um padrão xadrez semelhante ao visto no kaffiyeh, o lenço que é símbolo da causa palestiniana.
Mas o alvoroço em torno do envolvimento de Israel não foi a única crise em torno da disputa. Poucas horas antes da final de sábado, os organizadores proibiram a participação do holandês Joost Klein. Naquela manhã, a polícia sueca disse que um homem era “suspeito de ameaças” contra um funcionário do Eurovision. A organização informou que Klein era o suspeito e “não seria apropriado” que ele competisse na final.
AVROTROS, a emissora pública holandesa que escolheu Klein para representar o país, criticou desclassificação. Num comunicado, a emissora disse que a ação dos organizadores foi “desproporcional”. O comunicado dizia que Klein fez “um movimento ameaçador” em direção a uma operadora de câmera, que o filmava sem o seu consentimento, mas não houve contato físico. Antes da final de sábado, alguns torcedores na arena cantaram a música de Klein para protestar contra sua ausência.
Mas quando os votos foram contados e o vencedor foi coroado, a noite terminou num tom otimista. Depois de receber o troféu de vencedor, Nemo, chorando, disse: “Espero que este concurso cumpra a sua promessa e continue a representar a paz e a dignidade para todas as pessoas neste mundo”.
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