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Texto de Mario Quintana retratou enchentes de Porto Alegre em 1941: 'Época em que era absolutamente desnecessário fazer poemas'

Relato do poeta gaúcho viraliza nas redes em meio à maior cheia da história da capital gaúcha

Agência O Globo - 08/05/2024
Texto de Mario Quintana retratou enchentes de Porto Alegre em 1941: 'Época em que era absolutamente desnecessário fazer poemas'

Em 1948, sete anos após a maior enchente da história de Porto Alegre, o poeta Mario Quintana (1906-1994) se recordava da época "em que era absolutamente desnecessário fazer poemas".

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Publicado no livro "Sapato florido", o curto poema em prosa "Reminiscências" traz um testemunho muito parecido com o daqueles que enfrentam, neste exato momento, as inundações na capital gaúcha.

"Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. Tínhamos assim um rio só para nós. Um rio de portas a dentro. Que dias aqueles! E de noite não era preciso sonhar: pois não andava um barco de verdade assombrando os corredores?"

A cheia de 1941 era até agora a maior referência de desastre natural em Porto Alegre, com o nível de elevação do rio Guaíba alcançando 4m76. A cota foi superada no último domingo (5), quando o rio registrou 5,3 metros.

Nos últimos dias, o texto de Quintana vem sendo relembrado pelos gaúchos, que o compartilham para legendar as impactantes imagens da cidade inundada. Ironicamente, a Casa de Cultura Mario Quintana, onde o autor morou boa parte de sua vida, também foi invadida pela água, que tomou toda a parte térrea do seu prédio. Localizada no canto direito do térreo da Casa de Cultura, a livraria Taverna seu acervo e mobiliário afetados.

O prédio histórico da atual Casa Mario Quintana pertenceu originalmente ao prestigioso Hotel Majestic, que em seu auge, dos anos 1930 aos 1950, abrigou chefes de estado e grandes personalidades. Quintana residiu no apartamento 217 do hotel entre 1968 e 1980. Com problemas financeiros, o poeta se mudou para um apart-hotel no centro da cidade, onde viveu até a sua morte, em 1994.