Cidades
Em Palmeira dos Índios, mais da metade da população depende do Bolsa Família e há temor de uso eleitoreiro para 2026, com ex-imperador na disputa
Após perder o controle do Bolsa Família para aliados de Julio Cezar, vereador Maxuel Feitosa vê seu grupo político enfraquecido; ex-prefeito, que mira 2026, manobra para minar a base do deputado Ronaldo Medeiros (PT)
O município de Palmeira dos Índios, com seus 73.300 habitantes, tem uma relação de dependência absoluta do Bolsa Família. Dos cadastrados no programa federal, 14.734 famílias recebem o benefício, o que representa, considerando uma média de três pessoas por unidade familiar, 44.202 cidadãos diretamente beneficiados. Ou seja, mais da metade da população local sobrevive com base nos repasses do governo federal.
Esse dado escancara uma realidade cruel: Palmeira dos Índios é uma cidade pobre, sem perspectivas econômicas, onde o Bolsa Família não é apenas um programa de assistência social, mas a única garantia de sustento para milhares de famílias. O peso desse cenário torna seus beneficiários altamente vulneráveis não apenas socialmente, mas também politicamente, abrindo espaço para a exploração do programa como instrumento de barganha eleitoral.
Uso Político do Bolsa Família: Uma Prática Antiga
A prática de aparelhamento político do Bolsa Família não é novidade no município. Até 31 de dezembro de 2023, era de conhecimento público que o vereador Maxuel Feitosa (PL) detinha o controle informal do programa, por meio da indicação de Charles Bezerra, que ocupava a coordenação local do benefício. Essa aliança política dava ao parlamentar influência direta sobre a concessão do benefício, consolidando sua base eleitoral e fortalecendo seus vínculos com os mais necessitados.
Com a transição de governo, a prefeita Luisa Duarte, seguindo a cartilha do seu mentor e sobrinho, o ex-prefeito Julio Cezar, promoveu mudanças estratégicas no comando do programa. Charles Bezerra foi substituído por José Alves da Silva, primo tanto da prefeita quanto de Julio Cezar, e que até dezembro passado exercia o cargo de tesoureiro do CSE, clube de futebol da cidade que atualmente enfrenta uma grave crise financeira.
A movimentação política na Assistência Social não foi uma decisão isolada de Luisa Duarte. Na prática, quem ditou as regras da mudança foi Julio Cezar, que segue como "prefeito de fato", mesmo sem mandato. José Alves assumiu a coordenação do Bolsa Família como parte de um jogo maior: o fortalecimento da candidatura de Julio Cezar a deputado estadual em 2026.
Julio Cezar e a Disputa pelo Controle Eleitoral do Programa
A troca de comando do Bolsa Família em Palmeira dos Índios não foi uma simples reorganização administrativa. O que está por trás desse movimento é um jogo de poder visando as eleições estaduais de 2026. Julio Cezar está em plena articulação para sua candidatura a deputado estadual, e para isso precisa controlar os principais núcleos de influência política e social do município.
O vereador Maxuel Feitosa, antigo detentor do controle do programa, não apoia Julio Cezar e tem compromisso político com o deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT). Para enfraquecer essa oposição, Julio Cezar orquestrou a substituição de Bezerra por José Alves, consolidando um novo controle sobre o programa assistencial mais estratégico da cidade.
O temor de opositores e observadores políticos locais é que, com José Alves no comando e Julio Cezar na Secretaria de Governo, o Bolsa Família seja transformado em uma usina de votos, operando em favor da campanha do ex-prefeito, que busca a todo custo pavimentar sua candidatura e expandir sua influência política.
A interferência política na Assistência Social, em um município onde mais da metade da população depende do benefício para sobreviver, acende um alerta sobre a manipulação eleitoral dos mais vulneráveis. O Bolsa Família, um programa que deveria servir para reduzir desigualdades, segue sendo tratado em Palmeira dos Índios como moeda de troca e ferramenta de controle eleitoral—um reflexo do cenário político que se repete há anos na cidade.
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