Internacional
Guerras, mudanças climáticas e crise econômica fazem insegurança alimentar piorar no mundo pelo 5º ano seguido
Para 2024, segundo especialistas, o desenvolvimento 'dependerá do fim das hostilidades', especialmente na Faixa de Gaza e no Sudão, cenário da pior crise de refugiados
A insegurança alimentar piorou no mundo no último ano, e quase 282 milhões de pessoas precisaram de ajuda de emergência devido aos conflitos globais, em particular na Faixa de Gaza e no Sudão, assim como por episódios climáticos extremos e crise econômica, segundo um relatório elaborado por 16 agências das Nações Unidas e outras organizações humanitárias divulgado nesta quarta-feira. De acordo com o documento, em 2023 o número de pessoas em situação considerada crítica aumentou em 24 milhões se comparado com 2022.
Na América Latina, o caso mais preocupante é o do Haiti, onde a violência e a insalubridade política e violência deixam mais de 1,8 milhão de pessoas em situação de extrema vulnerabilidade alimentar: são 200 mil pessoas a mais que em 2022. Já globalmente, este é o quinto ano consecutivo em que o número de pessoas em estado de insegurança alimentar aguda aumenta no mundo. No último ano, quase 700 mil pessoas estavam à beira da fome, incluindo 600 mil no enclave palestino devido à guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Segundo a conselheira sênior do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Anuradha Narayan, citada pelo Washington Post, mais de 90% das crianças pequenas, grávidas e lactantes na Faixa de Gaza sobrevivem diariamente com dois ou menos grupos alimentares, como o pão. Antes, costumavam ter acesso a mais proteína, frutas e vegetais fresco, além de leite. De acordo com a organização Oxfam, moradores do norte do território consomem apenas 245 calorias por dia.
Especialistas já apontaram para a atual crise humanitária em Gaza, onde mais de 1,1 milhão de pessoas podem enfrentar o nível mais severo de fome nos próximos meses, de acordo com outro relatório divulgado em março pela iniciativa global de Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC, em inglês). Mortos por desnutrição já são realidade: eram pelo menos 28 até março, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, citado pelo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) – todos crianças. Aqueles que sobrevivem tampouco sairão ilesos, levando sequelas para toda vida.
A situação, porém, é ainda pior no Sudão, cenário da pior crise de refugiados mundial e em guerra há um ano, onde 8,6 milhões de pessoas entraram para a lista de afetados pela insegurança alimentar (20,3 milhões no total no país). À AFP, Fleur Wouterse, vice-diretora do departamento de emergência e resiliência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), disse que “há uma clara deterioração no contexto de crises alimentares consideráveis”.
Desde a divulgação da primeira edição do relatório, em 2016 pela Rede Global contra Crises Alimentares – uma aliança que reúne organizações da ONU, da União Europeia, dos Estados Unidos e de outras organizações humanitárias –, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar “aumentou de 108 milhões para 282 milhões, enquanto a prevalência, ou seja, a proporção da população afetada dentro das áreas envolvidas, subiu de 11% para 22%”, destacou Wouterse. Desde então, a crise alimentar persiste no Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Nigéria, Síria e Iêmen.
O que é crise humanitária?
Segundo a ONU, a fome ou crise humanitária é caracterizada por uma situação de emergência generalizada, que afeta uma comunidade inteira ou um grupo de pessoas de uma região específica, devido aos altos índices de mortalidade e desnutrição, contágio de doenças ou epidemias e emergências sanitárias. Já as medições da fome são realizadas por agências da ONU sediadas em Roma – a FAO e o Programa Mundial de Alimentos (WFP) – com base numa iniciativa que reúne órgãos públicos e ONGs para a Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar.
O sistema tem cinco fases: Segurança Alimentar Geral (Fase 1), Insegurança alimentar moderada/limitada (Fase 2), Crise aguda de alimentação e subsistência (Fase 3), Emergência humanitária (Fase 4) e Fome ou catástrofe humanitária (Fase 5), sendo esta última definida por quatro critérios. Veja na imagem abaixo:
Vulnerabilidade dos refugiados
Na América Latina, a chegada constante de migrantes e refugiados à Colômbia, Peru e Equador é uma fonte de preocupação, além do impacto do fenômeno climático El Niño, em que há o aquecimento das águas do oceano Pacífico. Na Colômbia, por exemplo, enquanto apenas 3% da população nativa enfrentava uma situação alimentar grave (1,6 milhão de pessoas), 62% dos migrantes e refugiados (2,9 milhões) estavam em situação de vulnerabilidade. Outro país identificado como “preocupante” em todas as edições foi a Venezuela. Apesar do aumento da produção de cereais, a inflação foi o grande problema no país, e “o preço da cesta básica continuou quatro vezes superior ao salário mensal” médio.
“Em um mundo de abundância, as crianças morrem de fome. As guerras, o caos climático e a crise do custo de vida, combinados com ações inadequadas, farão com que quase 300 milhões de pessoas enfrentem uma crise alimentar aguda em 2023” lamenta o secretário-geral da ONU, António Guterres, no prefácio do relatório. “Os recursos não estão à altura das necessidades. Os governos devem reforçar os recursos disponíveis para o desenvolvimento sustentável”, afirmou, “especialmente porque os custos de distribuição da ajuda aumentaram”.
Para 2024, o desenvolvimento “dependerá do fim das hostilidades”, observou Fleur Wouterse. Ela pontuou que, assim que os acessos humanitários a Gaza e ao Sudão for possível, “a ajuda poderá mitigar rapidamente a crise alimentar”. (Com AFP)
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