Internacional
Argentina registra novos protestos um dia após Milei apresentar nova Lei Ônibus desidratada
Manifestantes reclamam das medidas econômicas do governo, da suspensão de ajuda aos refeitórios populares e da demissão de mais de 15 mil funcionários públicos
Oito pessoas foram presas e pelo menos meia dúzia ficou ferida, nesta quarta-feira, durante uma manifestação de organizações sociais em Buenos Aires contra as medidas econômicas do presidente Javier Milei. O protesto aconteceu um dia após o governo apresentar o rascunho final — e desidratado — da chamada Lei Ônibus, que defende reformas profundas ao Estado argentino, na linha das promessas feitas pelo líder ultraliberal durante a campanha.
Um jovem ficou ferido depois de cair no chão ao ser agarrado pela polícia, segundo repórteres da AFP que estavam no local. Durante a operação, a polícia também foi atacada com pedras pelos manifestantes, disse o ministro da Segurança da cidade, Waldo Wolff.
— Estávamos nos manifestando sobre a emergência alimentar e social, a falta de comida nos refeitórios populares, e o que recebemos foram paus e balas — disse à AFP Martín Velázquez, de 46 anos, que trabalha em um refeitório popular.
Outra pauta das manifestações desta quarta-feira, a ajuda aos refeitórios populares foi suspensa em dezembro. O governo diz que está procurando uma maneira de apoiar os mais necessitados de forma direta e sem intermediários, mas nenhum modelo de transição foi estabelecido.
Por volta do meio-dia (horário local), os manifestantes bloquearam um trecho da Avenida 9 de Julho, a principal artéria do centro de Buenos Aires, até serem retirados com balas de borracha, gás lacrimogêneo e um caminhão pipa pela polícia.
Uma das primeiras medidas do governo de Milei, que assumiu o cargo em dezembro de 2023, foi o "protocolo antipiquete", uma referência aos bloqueios de estradas como medida de protesto, que proíbe os manifestantes de interromper o tráfego.
— Quando vimos que o diálogo era infrutífero, porque não havia intenção de parar de bloquear as avenidas, o que fizemos foi começar a agir para desobstruir a Avenida 9 de Julho — disse Diego Kravetz, secretário de Segurança da Cidade de Buenos Aires e chefe de polícia, à LN+, o canal de notícias ao vivo do jornal La Nación.
O protesto, convocado pela União de Trabalhadores da Economia Popular (UTEP) e pela Unidade Piqueteira, começou às 11 horas da manhã, quando centenas de pessoas se reuniram nas proximidades do antigo Ministério do Desenvolvimento Social, hoje Secretaria da Criança, do Adolescente e da Família.
Na noite anterior, o governo finalmente apresentou o último rascunho da Lei Ônibus, após semanas de negociações que se sucederam a uma derrota em fevereiro, quando a primeira versão do pacote começou a ser discutida. A nova versão dá ao presidente poder para governar sem o Congresso, por um ano, em apenas quatro áreas: administrativa, econômica, financeira e energética. Define também que 18 empresas estatais, e não mais 40, podem ser total ou parcialmente privatizadas, entre elas a Aerolíneas Argentinas e o Banco Nacional.
O pacotão também prevê o desconto salarial de trabalhadores públicos que se ausentarem de seus postos para participar de protestos e derruba a chamada moratória previdenciária, que durante o governo do peronista Alberto Fernández, antecessor de Milei, permitiu a trabalhadores que ainda não tinham completado o tempo de serviço exigido se aposentarem.
Quatro meses após a chegada do ultraliberal Milei ao poder, os protestos de rua são uma cena diária em Buenos Aires, em um momento em que o país passa por uma grave crise econômica, com 276% de inflação anual e quase metade da população vivendo na pobreza.
Os manifestantes também denunciam uma onda de demissões anunciada na semana passada, afetando 15 mil servidores públicos. Nesse contexto, Milei mantém um apoio popular que, de acordo com diferentes pesquisas, varia entre 43% e 57%, alguns pontos a menos do que quando assumiu o cargo. (Com La Nación)
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