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Milei completa 100 dias de governo desafiado por crise de segurança

Carolina Marins 19/03/2024
Milei completa 100 dias de governo desafiado por crise de segurança
Milei completa 100 dias de governo desafiado por crise de segurança - Foto: Reprodução- agência Brasil

O governo do presidente Javier Milei completa 100 dias nesta terça-feira, 19, exaltando conquistas na economia, mas com um agravamento da crise de segurança pública na Argentina. A inflação dá sinais de enfraquecimento graças a um duro ajuste que também provocou o aumento da pobreza e afetou o setor do consumo.

A piora da criminalidade abriu um novo flanco de problemas para Milei resolver. Nas últimas semanas, a cidade de Rosário tem vivido uma escalada sem precedentes de violência, com criminosos matando aleatoriamente e toques de recolher espontâneos. A crise em Rosário já tem mais de dez anos, mas vem piorando desde o ano passado em meio a disputas pelo comércio de droga.

Em abril de 2023, o Estadão visitou a cidade e encontrou um clima de medo entre os moradores pelos tiroteios que aconteciam contra escolas, ônibus e hospitais. Mas, agora, facções rivais que historicamente brigavam nas ruas, parecem ter se unido em um único objetivo de provocar o Estado.

Analistas dizem acreditar que a crise em Rosário começou após uma medida da ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que endureceu regras dentro das prisões, como visitas íntimas. No começo do mês, viralizou a imagem de detentos algemados no chão cercados por agentes fortemente armados na penitenciária de Piñero, famosa por manter nomes conhecidos do narcotráfico de Rosário. Na imprensa argentina, a foto foi comparada à política de encarceramento em massa de Nayib Bukele em El Salvador, nome que Bullrich e Milei já elogiaram.

Vingança

A medida provocou reações dos grupos criminosos, que parecem ter se unido em uma vingança generalizada. Depois de matar dois taxistas e um motorista de ônibus com tiros na cabeça, os grupos criminosos penduraram um cartaz em uma ponte avisando que continuariam "matando inocentes". Logo depois, mais uma morte: Bruno Bussanich, de 25 anos, levou três tiros enquanto trabalhava em um posto de gasolina no dia 9, à noite.

"Essa guerra não é por território, é contra Pullaro e Cococcioni. Assim como chegamos aos 300 mortos, estando unidos, mataremos mais inocentes por ano", escreveram os grupos criminosos em um recado, citando Maximiliano Pullaro, governador de Santa Fé, província que abriga Rosário, e Pablo Cococcioni, ministro de Segurança da província. O número citado por eles remonta à quantidade de mortos por disparos em Rosário no ano passado.

A morte de Bruno provocou comoção, com Milei, Bullrich e a vice-presidente Victoria Villarruel prestando homenagens nas redes sociais. Após o episódio, Bullrich viajou para Rosário, onde montou um comitê de crise.

Agora, um grande destacamento da Força Nacional está instalado na cidade e deve colaborar com a polícia local para realizar atividades de segurança. O problema é que a medida repete a fórmula de Alberto Fernández no ano passado que se mostrou inócua. "Não se vê nenhuma mudança estrutural e sistêmica na estratégia, o que se vê é uma questão mais comunicacional para demonstrar que certas ações estão sendo feitas e se está seguindo uma estética meio Bukele", afirmou Marco Iazzetta, professor de Ciência Política e pesquisador de violência na Universidade Nacional de Rosario (UNR).

Teste

Na campanha, Milei se limitou a dizer que é defensor de uma política linha-dura na área da segurança e trouxe o tema em todos os debates, citando o caso de Rosário diretamente. O convite a Bullrich para integrar seu governo na pasta de Segurança reforçou a promessa. Mas, diferentemente da economia, que foi o motor de seu nome nas eleições, sua real política de segurança é um mistério.

"Não houve uma atenção direta ao problema do narcotráfico desde que o governo assumiu, e agora Milei apenas reage", observou o cientista político do observatório Pulsar da UBA Facundo Cruz. "É um problema que, de alguma maneira, o governo precisa atender, porque foi parte da sua plataforma eleitoral. No entanto, isso não parece ser uma das prioridades atualmente", disse ele.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.