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Putin pede aos russos que votem em eleição presidencial em 'compreensão ao momento difícil' do país

Presidente tem vitória assegurada no pleito, que ocorre entre os próximos dias 15 e 17, e deverá seguir à frente do país por mais seis anos

Agência O Globo - 14/03/2024
Putin pede aos russos que votem em eleição presidencial em 'compreensão ao momento difícil' do país
Putin pede aos russos que votem em eleição presidencial em 'compreensão ao momento difícil' do país - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu nesta quinta-feira aos russos que votem durante um "período difícil" para o país. O apelo ocorre poucas horas antes do início das eleições presidenciais, que acontecerão entre 15 e 17 de março — sem qualquer candidato de oposição e em plena ofensiva contra a Ucrânia. No poder há mais de duas décadas, Putin tem a vitória assegurada, que lhe garantirá mais um mandato de seis anos.

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O Kremlin também afirma que a votação mostrará que a sociedade, cada vez mais cansada com o conflito e preocupada com problemas internos, apoia a ofensiva na Ucrânia. Em um discurso transmitido pela televisão estatal russa, o líder russo pediu que seus cidadãos fossem às urnas e "expressem sua posição cívica e patriótica".

— Estou convencido de que compreendem o período difícil que o nosso país atravessa, os difíceis desafios que enfrentamos em praticamente todas as áreas — disse Putin, insistindo: — Peço que compareçam para votar e expressem a sua posição cívica e patriótica, que votem no candidato de sua escolha, pelo futuro da nossa amada Rússia. Participar nas eleições é demonstrar seus sentimentos patrióticos.

Putin tem três adversários de pouca relevância, que não expressam oposição à ofensiva na Ucrânia nem à dura repressão contra os dissidentes, que resultou na morte na prisão, em fevereiro, do principal crítico do Kremlin, Alexei Navalny. Ninguém tem dúvidas de sua reeleição.

A votação permitirá que ele permaneça no poder até 2030 e, após uma reforma constitucional, ele poderá ser candidato novamente e seguir no comando do país até 2036, com 84 anos.

Guerra em pauta

A economia russa, afetada pelas sanções internacionais, resiste, mas teve que ser reorientada para o esforço de guerra e a indústria militar. Moscou imaginava que o ataque contra a Ucrânia duraria alguns dias ou talvez semanas, mas o conflito completou dois anos no último dia 24.

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Ao falar sobre a frente de batalha, Putin apresenta os ganhos recentes, especialmente a tomada da cidade de Avdiivka, em fevereiro, como prova de que sua "operação militar especial" — nos termos que o Kremlin impõe — está indo bem, apesar das pesadas perdas sobre as quais a Rússia não fala.

As tropas russas estão em uma ofensiva e avançam aos poucos, especialmente devido ao desgaste da ajuda ocidental a Kiev. Mas também há cada vez mais regiões do país atingidas por ataques de drones ucranianos. Nos últimos dois dias, três refinarias russas foram atingidas, envolvendo 12% de sua capacidade de refino. Ao todo, seis regiões sofreram ataques.

Chamada de Navalny

As eleições presidenciais começam com a abertura dos locais de votação no extremo leste da Rússia às 8h locais de sexta-feira (17h no horário de Brasília nesta quinta-feira) e terminarão em Kaliningrado no domingo às 20h locais (15h de Brasília). Nos territórios ucranianos anexados pela Rússia, a votação antecipada começou nos últimos dias de fevereiro.

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Os críticos do Kremlin não participam nas eleições. O único opositor real que tentou registrar sua candidatura, Boris Nadejdin, de 60 anos, foi vetado pela Comissão Eleitoral, em fevereiro. Meses antes, o mesmo aconteceu com a jornalista e ex-vereadora Yekaterina Duntsova, uma ativista da democracia que visava concorrer de maneira independente.

A oposição foi completamente dizimada após a detenção de vários dissidentes e da repressão que forçou vários deles a partir para o exílio. Com a morte de Navalny, aos 47 anos, o movimento perdeu seu principal representante. As autoridades russas anunciaram uma morte de causas naturais, mas a equipe do opositor denuncia um assassinato.

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A viúva de Navalny, Yulia, que vive no exílio e prometeu dar continuidade à luta do marido, fez um apelo aos russos para que protestem durante as eleições: ela pediu que todos compareçam às urnas ao meio-dia de domingo para votar em qualquer candidato, exceto Putin. As mulheres dos soldados russos enviados para a guerra da Ucrânia, que pedem o retorno dos militares, aderiram ao apelo.