Internacional

Civis palestinos organizam patrulhas populares para fiscalizar preços e manter segurança em Gaza

Grupos formados por centenas de voluntários rastreiam comerciantes que cobram preços abusivos; escassez generalizada é resultado de bloqueio israelense e saques de comboios humanitários

Agência O Globo - 07/03/2024
Civis palestinos organizam patrulhas populares para fiscalizar preços e manter segurança em Gaza

Em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, voluntários tentam manter a ordem após cinco meses de uma guerra que destruiu toda a normalidade no território palestino. Mascarados de preto, membros dos Comitês de Proteção Popular patrulham a cidade, para onde fugiram milhares de civis expulsos pela ofensiva israelense no norte e depois no centro e no sul do enclave. De acordo com a ONU, há cerca de 1,5 milhão de palestinos abrigados na região, que faz fronteira com o Egito.

— Somos centenas de voluntários para manter a segurança e proteger os cidadãos, organizar os mercados e o transporte — conta Abu Mahmud, de 28 anos.

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Os preços dos alimentos, quando disponíveis, aumentaram devido às drásticas restrições do Exército israelense aos comboios que chegam do Egito. Mas o Ministério da Economia do Hamas — o movimento islâmico palestino que controla a Faixa de Gaza e que Israel prometeu destruir após o ataque sem precedentes de 7 de outubro ao seu território — estabelece uma lista de preços diários para produtos básicos, como vegetais, e os Comitês de Proteção Popular tentam aplicá-la.

— Nós rastreamos os comerciantes que aumentam os preços — explica Abu Islam, de 29 anos, membro de uma das equipes de sete pessoas que fiscalizam um mercado no campo de refugiados no centro de Rafah.

Um comerciante reclama com a patrulha quando um de seus vizinhos no mercado vende um quilo de açúcar por 80 shekels (R$ 110) em vez dos 65 shekels (R$ 90) decretados oficialmente pelo Hamas. Antes da guerra, um quilo de açúcar custava 2 shekels (R$ 2,76).

‘Trabalhamos para o povo’

A guerra foi desencadeada pelo ataque sangrento dos comandos do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que deixou 1.160 pessoas mortas, a maioria civis, e fez cerca de 250 reféns, de acordo com uma contagem da AFP baseada em números oficiais.

A ofensiva israelense de retaliação na Faixa de Gaza, por sua vez, matou mais de 30,7 mil pessoas, principalmente mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, e causou uma grave crise humanitária. As instituições entraram em colapso no território palestino, onde reina o caos.

Diante de uma crise humanitária “iminente”, segundo a ONU, os comboios de ajuda que chegam ao território palestino são saqueados e, na última quinta-feira, uma distribuição de alimentos se transformou em tragédia na Cidade de Gaza, com mais de 100 mortos. As vítimas foram pisoteadas, atropeladas ou feridas por armas de fogo durante um tumulto no qual as forças de Israel teriam disparado contra a população, segundo o Hamas. O Exército israelense negou, alegando que deu tiros de advertência para o alto e mirou apenas nas pernas de um pequeno grupo que avançou contra seus soldados.

— Trabalhamos para as pessoas e tentamos ser o mais confiável possível — diz Abu Islam. — Qualquer pessoa que tenha uma arma pode usá-la — acrescenta ele, embora todos os membros de sua equipe, exceto um, estejam armados apenas com bastões.

Os Comitês de Proteção Popular surgiram em Rafah após um ataque a uma viatura que matou vários policiais em 10 de fevereiro. As patrulhas policiais se tornaram raras desde então, de acordo com um correspondente da AFP no local.

Os voluntários também regulam o tráfego, para abrir caminho para uma ambulância, um caminhão de ajuda ou um carro da ONU no campo de refugiados superlotado. Abu Ahmed, um homem de 61 anos, deslocado da Cidade de Gaza, é grato pela presença deles.

— Agradecemos a eles por seus esforços — afirma, elogiando acima de tudo sua ação para "manter os preços razoáveis".