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Após denúncia de suposto plano para matá-lo, Maduro diz que acordo com oposição está 'mortalmente ferido'

Acerto abriu caminho para realização de eleições no segundo semestre, mas chavistas dizem que termos estão 'em suspenso'; aliado afirma que presidente será novamente candidato

Agência O Globo - 26/01/2024
Após denúncia de suposto plano para matá-lo, Maduro diz que acordo com  oposição está 'mortalmente ferido'
Maduro - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Arquivo Agência Brasil

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou na noite desta quinta-feira que os acordos firmados com a oposição e que deveriam permitir a realização de eleições no segundo semestre estão “mortalmente feridos”, dias depois de uma série de prisões relacionadas a um suposto plano para matar o líder do país.

— Os acordos de Barbados estão mortalmente feridos — disse Maduro, em alusão a um documento assinado em outubro passado, mediado pela Noruega, no qual foi pactuada a realização de eleições presidenciais, com observação internacional. — Eu os declaro em terapia intensiva, os apunhalaram, os chutaram. Talvez possamos salvar os acordos de Barbados e avançar através do diálogo grandes acordos de consenso nacional, sem planos para me assassinar, para nos assassinar ou para encher o país de violência.

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Na segunda-feira, 32 pessoas foram presas, sob acusação de planejar um atentado contra Maduro, que seria, de acordo com o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, realizado perto do Ano Novo. Entre os detidos, as autoridades afirmaram que estão “mercenários e militares” do Peru, Colômbia, EUA e da própria Venezuela. Eles não tiveram suas identidades reveladas.

Ainda foram emitidas 11 ordens de prisão contra militares aposentados, jornalistas e ativistas críticos ao governo. O presidente venezuelano, dias antes das prisões, também havia acusado os serviços de inteligência dos EUA de participação no suposto plano.

Antes da fala de Maduro, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional e líder da delegação do governo no processo de negociação mediado pela Noruega, havia sinalizado que o acordo firmado com a oposição em outubro do ano passado estava “em suspenso”, ao mesmo tempo em que tentou garantir a realização do pleito no segundo semestre.

— Em 2024, haverá eleições presidenciais porque é o que estabelece a Constituição — disse Rodríguez, citado pela AFP. — Iremos até o fim para defender o direito que esse povo tem de escolher o presidente (...), com ou sem acordo de Barbados, porque esse acordo de Barbados está em risco.

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As palavras dos dirigentes chavistas soaram como mais um sinal de alerta para a oposição, que ainda não sabe exatamente quem poderá concorrer nas eleições, e tampouco se a onda de prisões políticas, que continua apesar das garantias dadas por Caracas no acordo do ano passado, vai se intensificar. A certeza, neste momento, é a de que Maduro estará nas cédulas, como sinalizou Rodríguez nesta quinta-feira.

Um dos principais nomes que poderia fazer frente ao atual presidente é o de Maria Corina Machado, vencedora das primárias da principal aliança opositora, em outubro do ano passado. Contudo, ela depende de uma decisão do Supremo Tribunal da Venezuela para reverter uma inabilitação de 15 anos a ela aplicada. Essa mesma Corte suspendeu, em outubro, os resultados das primárias da oposição, e Rodríguez deixou clara a opinião dos governistas.

—Não há como essa mulher se candidatar a nada em nenhuma eleição — advertiu. (Com AFP)