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Agorafobia, divórcio de Baldwin, carreira musical frustrada: a vida de Kim Basinger, atriz que chega aos 70 anos reclusa e longe dos holofotes

Atriz que marcou época com atuação em 'Nove semanas e meia' teve altos e baixos em Hollywood

Agência O Globo - 08/12/2023
Agorafobia, divórcio de Baldwin,  carreira musical frustrada: a vida de Kim Basinger, atriz que chega aos 70 anos reclusa e longe dos holofotes
Kim Basinger - Foto: reprodução

Kim Basinger, emocionada, chorou ao aceitar o Oscar por seu papel em "Los Angeles - Cidade proibida", em 1998. “Se alguém tem um sonho, que o persiga. Ele sempre se torna realidade”, disse ela diante dos membros da Academia de Hollywood. Vinte e cinco anos depois, nesta sexta-feira (8) a atriz completa 70 anos, com uma história marcante não apena no cinema, mas também na moda e na música. Sua vida sempre atraiu holofotes no mundo todo, mas há algum tempo pouco se sabe sobre a mulher que encarnou o mito de sex symbol nos anos 1980.

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Em 1983, estampar uma capa da Playboy acabou lhe abrindo as portas do cinema. Pouco depois, ela conseguiu um papel em uma das sagas cinematográficas de maior duração e sucesso. A atriz, que nasceu em 1953 em Atenas (Geórgia, nos EUA), emprestou sua beleza a uma bond girls no silme "Nunca diga nunca" (Irvin Keshner, 1983) e depois interpretando uma dona de galeria de arte que redescobre sua sexualidade em meio a sadomasoquismo, cerejas e mel em "Nove semanas e meia" (Adrian Lyne, 1986).

A vida e a personalidade de Basinger sempre estiveram em destaque ao longo de toda a sua carreira. Mas a mulher que seduziu meio mundo é tímida e sofreu com o medo do palco ao longo de sua vida profissional. A atriz nunca escondeu que sofreu muito com as consequências da fama. Sofreu frequentes ataques de ansiedade e agorafobia, uma situação com a qual teve de lutar durante anos e que, por vezes, o levou a se isolar em casa durante meses. “Às vezes, ainda fico ansiosa, mas isso não me paralisa como antes”, disse ela em entrevista em 2022, publicada pelo Daily Mail.

Luzes e sombras de 'Nove semanas e meia'

Kim Basinger deixou chorando seu teste de elenco para "Nove semanas e meia" em 1986. Depois de ligar para seu agente para reclamar que se sentia humilhada e que tinha sido a pior experiência de sua vida, ela encontrou um bilhete do diretor Adrian Lyne em sua casa, com 24 rosas vermelhas. O resto é história: ela aceitou o papel, o que a catapultou à fama mundial. Mas não exatamento pelo que ela esperava, mas por sua beleza física. A cena em que ela faz um strip-tease diante de um jovem Mickey Rourke a tornou, no final dos anos 1980, um mito erótico, o que a assombrou para sempre. E isso deixou marcas em sua carreira e em sua vida. “Eu só queria me levantar e ir embora”, admitiu a atriz americana, que tinha 33 anos quando o filme foi rodado.

O filme se tornou uma das maiores bilheterias da década de 1980. No entanto, as filmagens quase mataram a atriz. Ele foi vítima de tapas, drogas e abuso psicológico. O próprio diretor disse com orgulho ao New York Times que em uma das cenas Rourke agarrou o braço de Basinger com força. Apesar de seus apelos, ele não a deixou ir enquanto ela gritava, chorava e batia nele. O ator finalmente soltou seu braço, mas depois lhe deu um tapa. Ela sofreu um ataque de pânico. “Houve momentos em que eu quis deixar tudo de lado, quando me perguntei se (Adrian Lyne) era um homem doente ou se todos nós estávamos doentes por ceder a aquilo. Mas no final enfrentei e superei meu medo”, disseu a atriz em entrevista ao mesmo jornal nos anos 1990. Para rodar este filme, a atriz desistiu de estrelar "Dormindo com o inimigo", dirigido por Joseph Rube em 1991. “Não é engraçado?”, disse Basinger, “e depois eu fui dormir com o inimigo”. No final das contas, o papel ficou com Julia Roberts.

Um Oscar na estante e muitas críticas

Desde sua estreia em Hollywood na década de 1970, Kim Basinger tem sido frequentemente escalada para papéis que privilegiam sua aparência. A maioria reforçando uma ideia de mulher fatal, em personagens às voltas com interesses amorosos e certo suspense erótico. Ela mesma falou em várias ocasiões sobre como se sentiu como um objeto sexual. Segundo o site Rotten Tomatoes, que armazena resenhas e críticas de cinema e televisão, a atriz fez quatro vezes mais filmes ruins do que bons. No total, ela tem apenas seis filmes que obtiveram notas positivas tanto da crítica quanto do público.

Na verdade, Kim Basinger foi indicada em seis ocasiões ao Razzie Award, "premiação" anual que destaca os piores atores e atrizes de Hollywood. Na sétima vez em que foi indicada, ela ganhou o prêmio: foi por seu papel como atriz coadjuvante em "50 tons de cinza" (2017).

Cerca de duas décadas antes, ela tinha realizado o sonho de qualquer artista. No mesmo ano em que o filme "Titanic", de James Cameron, ganhou nada menos do que 13 prêmios no Oscar, e Robin Williams ganhou sua primeira e única estatueta, Kim Basinger ganhou seu Oscar de melhor atriz. Foi graças ao papel em "Los Angeles - Cidade proibida", filme de suspense de 1997 dirigido por Curtis Hanson.

Divórcio rumoroso com Alec Baldwin

Em 1998, Kim Basinger, diante de milhões de espectadores do Oscar, agradeceu a Alec Baldwin, seu marido e pai de sua única filha, pelo apoio incondicional à sua carreira cinematográfica. Dez anos depois, após um divórcio rumoroso e 3,5 milhões de euros em advogados, os gritos do ator ganharam as manchetes na imprensa internacional. Desta vez por causa de um insulto de Baldwin à filha, então com 13 anos, durante o processo de divórcio: “Ingrata e tola”, ele foi ouvido dizendo.

Depois de quase uma década de casamento (1993–2002), o divórcio não foi nada fácil. Ainda mais quando o casal se viu diante de milhares de paparazzi nas portas dos tribunais. Foi uma separação longa e complexa. Os dois lutavam para obter a custódia de sua única filha, Ireland Baldwin. A amizade acabou sendo impossível. Alguns anos depois, ainda era possível sentir os refloexos da separação. Em 2006, Baldwin levou Basinger ao tribunal novamente por supostamente violar termos de custódia, informou a People na época. Segundo a Justiça, Bessinger de fato mentiu, e teve de pagar uma multa superior a 12.000 euros, além de enfrentar outras consequências jurídicas.

Carreira musical não decolou

Basinger sempre foi apaixonada por cantar. Em muitas ocasiões, tentou romper com a carreira como atriz para buscar sucesso na indústria musical. Mas nunca conseguiu. No início dos anos 1990,e lançou alguns singles, em sua maioria covers ou colaborações com outros artistas mais consagrados, como Ozzy Osbourne ou Prince. Com este último, foi incentivada a gravar um álbum completo em 1989 intitulado "Hollywood affair", que nunca foi lançado oficialmente. O álbum vazou clandestinamente na Alemanha em 1997, e ainda pode ser encontrado na internet. A relação entre os dois artistas, aliás, foi especialmente polêmica, repercutindo na imprensa. Tamanha foi a paixão entre eles que Basinger desistiu da vida em Hollywood e se mudou para a mansão do músico em Minneapolis. Sua família, no entanto, sempre discordou do relacionamento, pois achava que Prince não deixava a atriz pensar ou agir com clareza. Um dia, eles apareceram na mansão quando Prince não estava e levaram a atriz à força de volta para a Califórnia, como informou o Page Six.

Um cidade inteira para ela

Graças à fortuna que ganhou ao estrelar filmes e estampar capas de revistas, Basinger comprou Braselton, uma cidade inteira em seu estado natal, a Geórgia. Era 1989, e seu objetivo era criar um parque temático dedicado a Hollywood, modernizar seus prédios e promover o turismo na região. No entanto, o projeto nunca se concretizou. Por não cumprir um contrato de estrelar um novo filme, teve de pagar uma indenização altíssima. E acabou vendendo a cidade por muito menos do que tinha comprado, lembra a mídia americana.

Braselton é uma cidade rural com menos de 500 habitantes. E como relata a BBC, a atriz pagou mais de 20 milhões de euros para se tornar sua proprietária oficial. Quando mudou de ideia e buscou um outro comprador, acabou tendo de vendê-la por cerca de um milhão de euros, perdendo boa parte de seu investimento. Anos mais tarde, um episódio de "Os Simpsons" satirizaram este projeto empresarial frustrado, com Homer montando uma espécie de museu de celebridades no jardim dos Baldwins.

Longe dos holofotes e luta pelos direitos dos animais

Kim Basinger se esforçou muito para conseguir papéis mais sérios, que valorizassem seu talento como atriz, mas as cenas de nudez em "Nove semanas e meia" a assombraram para sempre. Seu talento permaneceu ofuscado, enquanto outros artistas contemporâneos conquistavam mais espaço, sobretudo com o surgimento das séries de televisão. Por isso, Besinger não parece incomodada por viver longe da atuação. Ela aceitou o papel em "50 tons de cinza" por insistência de sua filha. “Não sinto pressão por não estar onde poderia”, disse em entrevista. “Tive muita sorte na vida, e seria muito triste querer ter 20 anos de novo.”

Seu último registro de trabalho é uma participação no curta de animação Back Home Again (2021), segundo o site Imdb. Ela também não é vista em eventos públicos ou tapetes vermelhos em Hollywood ou em qualquer outro lugar. Na verdade, a maior parte das notícias que aparecem com seu nome no site da People, por exemplo, não são sobre ela, mas sobre sua filha, que a tornou avó pela primeira vez em 2023. O que parece não ter mudado ao longo dos anos é sua luta contra o abuso de animais. Basinger é vegana desde os 8 anos e ativista dos direitos dos animais. Uma de suas frases mais conhecidas a este respeito é: “Se você pudesse sentir ou ver o sofrimento, não pensaria duas vezes. Devolva a vida. Não coma carne." A descrição que ela faz de si mesma em sua conta no Instagram, onde tem pouco mais de 300 mil seguidores, deixa claro: “Atriz que espera que um dia toda a Humanidade trate os animais com o respeito que eles merecem”.