Economia

Lojas oferecem parcelamento em até 36 vezes, mas é preciso atenção nos juros. Veja os cuidados

Consumidor deve dar atenção às condições de ofertas das campanhas de fim de ano

Agência O Globo - 19/11/2023
Lojas oferecem parcelamento em até 36 vezes, mas é preciso atenção nos juros. Veja os cuidados
Juros - Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

Às vésperas da Black Friday e faltando pouco mais de um mês para o Natal — duas das principais datas do comércio —, varejistas brasileiras oferecem parcelamentos em até 36 vezes, com juros que passam de 42% ao ano (a taxa básica do país, a Selic, é 12,25%). Para especialistas, consumidores precisam prestar atenção nos números miúdos dos encargos cobrados, comparar ofertas e planejar os gastos para evitar o endividamento.

O EXTRA simulou compras em algumas das principais varejistas do país. Um smartphone de R$ 4 mil, por exemplo, pode ser parcelado em até 18 vezes sem juros no Mercado Livre, caso o pagamento seja com o cartão Mercado Pago, fintech da marca, e alcança ainda 21 parcelas numa campanha especial para Black Friday em parceria com o Santander. Em outros cartões, o prazo cai para 12 meses, com juros a partir da décima primeira parcela. As taxas não estão disponíveis no site.

Nas Casas Bahia e no Ponto, dá para parcelar o mesmo aparelho em até 36 e 24 meses, respectivamente, também com os cartões das marcas, e com a cobrança de juros que variam de 1,19% a 2,39% ao mês. Já na Americanas, o celular pode ser comprado parcelado em até 12 meses, com juros de 1,84% ao mês.

A maior parte das ofertas informa o juro por mês, mas a coordenadora de Serviços Financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim, recomenda buscar a taxa anual. Na Casas Bahia, por exemplo, o juro pode chegar a 42,4% ao ano no parcelamento com cartão de crédito. Com o cartão da rede, vai um pouco menos longe: 32,7%.

Para fugir das compras por impulso numa época de muita publicidade, pesquisa é essencial, diz a economista, já que as ofertas, parcelamentos e juros variam não só entre lojas, mas também de acordo com o tipo de pagamento.

— Tornar a parcela menor, para “caber no bolso”, é arriscado. As propagandas vêm com um tom muito apelativo de benefícios, mas o consumidor tem de olhar para a fatura do cartão consciente de que a parcela vai comprometer a renda por um longo tempo.

— O fato de tornar a parcela menor, para "caber no bolso', é arriscado. As propagandas vem com um tom muito apelativo de benefícios, mas o consumidor que entra numa operação como essa tem que olhar para a fatura do cartão e estar consciente que a parcela vai comprometer a renda futura por um longo tempo — diz.

Ela cita, por exemplo, casos em que a loja “disfarça” a cobrança dos juros ofertando o produto de uma forma que o valor da parcela é parecido com o valor total, o que causa no consumidor a falsa impressão de que não há encargos.

— Por exemplo, um produto de R$ 999, em parcelas de R$ 99, mas em 12 vezes, e não 10, o que mascara os juros embutidos ali e induz o consumidor a erro. São detalhes que o comércio acaba fazendo, pequenas armadilhas, e que muita gente cai — explica.

Parcela para ‘caber no bolso’

Professor da Escola de Negócios (IAG) da PUC-Rio, Marcos Caiado analisa ainda que oferecer parcelamentos mais extensos é uma estratégia das marcas para atrair os consumidores:

— As empresas precisam faturar e vão utilizar as ferramentas que estão acessíveis. O crédito é algo muito forte, porque transmite a ideia de que é possível pagar por aquele bem. A possibilidade de alongamento dessa dívida, paga num valor mensal menor, faz com que o consumidor se sinta mais confortável com o gasto.

Ele observa, porém, que o planejamento é fundamental para entender se o pagamento parcelado de fato cabe no bolso, principalmente levando em consideração os possíveis gastos futuros feitos a prazo, além de imprevistos como o desemprego.

— Quando não há um planejamento, a pessoa está mais suscetível a uma ação de marketing que num primeiro momento se vende como vantajosa. O crédito por um lado é traiçoeiro, mas por outro permite o acesso ao bem, principalmente os mais pobres, que têm dificuldade de juntar o valor para a compra à vista. A chave é o planejamento, a pesquisa de preços, e buscar condições mais vantajosas — analisa.

Para a Americanas, oferecer a possibilidade de pagamento em mais tempo permite o acesso a itens de valores mais elevados, como smartphones. Mesmo caminho observado pelas Casas Bahia e Ponto Frio.

— Nosso cliente olha e preza muito pela parcela que cabe no bolso, no que ele consegue pagar mensalmente. Por isso para itens de tickets maiores temos o compromisso de buscar uma oferta que encaixe no orçamento mensal dos nossos clientes — afirmou Rafael Rocha, gerente executivo de meios de pagamentos e serviços do Grupo Casas Bahia.

Diretor de Marketing e Canais Digitais da Fast Shop, Eduardo Salem diz que compras em cartões de créditos continuam sendo a principal escolha dos clientes.

— Fortalecer essa opção de pagamento e aliar benefícios inéditos no mercado faz parte das estratégias de conveniência da rede — afirma.

Bola de neve em caso de inadimplência

Ione, do Idec, chama atenção ainda para o fato de que, em geral, compras parceladas em prazos maiores têm juros, o que pode encarecer ainda mais a dívida caso o consumidor fique inadimplente:

— Já é um cenário normalmente pesado sem a cobrança de juros na hora da compra, e que piora muito nesses casos. Se uma parcela for atrasada, você vai pagar os juros do rotativo. E se passar de dois meses de atraso, a fatura é parcelada, e entram os juros do parcelado. Vira uma bola de neve — analisa.

Ela simulou a compra de uma geladeira de R$ 2.559, parcelada em 12 meses. Com juros cobrados de 2,99% ao mês, o eletrodoméstico sairia, no fim, por R$ 3.351,24. Mas se na quinta fatura, por exemplo, esse consumidor deixa de pagar a prestação – quitando apenas os 15% mínimos da fatura, de R$ 41,89 – o valor restante da parcela, com juros rotativos, se somaria a prestação do mês seguinte.

Supondo que esse consumidor continue sem condições de pagar a dívida, a fatura seria parcelada, com a cobrança dos chamados juros do parcelado. Ao fim, a geladeira, que à vista sairia por R$ 2.559, acabaria custando R$ 3.621,97, uma diferença de 41%.

— A simulação considerou apenas uma única compra no cartão durante todo o período para o parcelamento, uma condição excepcional. Na prática, as pessoas fazem outras comprar e aumentam o risco de novos parcelamentos de faturas, com mais sobreposição de juros e descontrole financeiro.

Casas Bahia: No site, a varejista permite o parcelamento em até 12 vezes sem juros caso o pagamento seja feito com o cartão próprio da marca. Até 36 parcelas, há incidência de juros, que variam de 1,69% a 2,39% ao mês. Nos pagamentos feitos com outros cartões, o pagamento sem juros é em até dez parcelas, e com juros até 12 meses, de 1,62% a 2,99% ao mês.

Ponto: A varejista permite, pelo site, o parcelamento em até 12 vezes sem juros caso o pagamento seja feito com o cartão próprio da marca. Até 30 parcelas, há incidência de juros, que variam de 1,19% a 1,49% ao mês. Nos pagamentos feitos com outros cartões, o pagamento sem juros é em até dez parcelas, e com juros até 12 meses, de 1,62% a 2,99% ao mês.

Amazon: A marca oferece parcelamento em até 12 vezes sem juros.

Americanas: A varejista e marketplace disponibiliza parcelamento em até 8 vezes sem juros. De 8 a 12 meses, há incidência de juros de 1,84% ao mês, segundo informações do site da marca.

Renner: A varejista de moda permite parcelamento em até 10 vezes sem juros no cartão próprio da loja. Para outros cartões, as condições são de até 5x sem juros.

C&A: A marca oferece parcelamento em até 10 meses sem juros no pagamento feito com o C&A Pay, cartão digital da varejista de moda. Há ainda a possibilidade de parcelar as compras em 18 meses no cartão de crédito, com juros de 0,99% ao mês.

Fast Shop: A loja permite parcelamento em até 12 meses em todas as bandeiras de cartões de crédito e em até 21 vezes no cartão de crédito da loja, o Fast Shop Pay. Os juros são de 1,49% ao mês e 19,42% ao ano, de acordo com o site.