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Biden dá sinal verde para reforçar muro na fronteira com México em plena crise migratória

Democrata revoga a 26 leis federais, o que permitirá a construção de 32 quilômetros de barreira no sul do Texas para conter o fluxo de migrantes. Autorizações, inéditas no governo, acontecem durante críticas à gestão Biden da fronteira

Agência O Globo - 05/10/2023
Biden dá sinal verde para reforçar muro na fronteira com México em plena crise migratória
Joe Biden - Foto: Reuters/Kevin Lamarque/Direitos Reservados Fonte: Agência Brasil

O muro com o México, um dos projetos mais controversos do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, ganhou novo fôlego na era de Joe Biden. O Departamento de Segurança Interna informou nesta quarta-feira que o Executivo revogou 26 leis federais no sul do Texas. Em outras palavras, isso permite que Washington construa até 32 quilômetros de cerca na região, que tem sido sobrecarregada nas últimas semanas pelo aumento do fluxo de imigrantes da América do Sul. Esta é a primeira vez que o governo democrata concede tais autorizações, que chegam em um momento crucial para Biden, cada vez mais criticado pela sua gestão da fronteira. A decisão coincide, ainda, com a visita do secretário de Estado Antony Blinken ao México, nesta quinta-feira.

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O departamento anunciou a decisão do Executivo no seu diário oficial, reconhecendo o momento de tensão em que se encontram várias comunidades fronteiriças do Texas, que registraram o maior aumento de passagens ilegais dos últimos três anos. "Existe agora uma necessidade imediata de construir barreiras físicas e estradas nas proximidades da fronteira dos EUA para evitar entradas ilegais", disse o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, no documento.

A ordem executiva afeta terras que se encontram no condado de Starr, uma área com 65 mil habitantes, onde o Texas converge com o estado mexicano de Tamaulipas. Cidades ao longo dessa faixa, como Roma e Rio Grande, testemunharam um aumento na entrada de imigrantes poucos meses depois da chegada de Biden à Casa Branca. O ritmo das travessias se intensificou, alcançando 245 mil "encontros" (um eufemismo que o governo utiliza para as detenções) durante o ano fiscal de 2023, que abrange de outubro de 2022 a setembro deste ano.

Os números oficiais do ano fiscal de 2023 deverão ser divulgados pelo governo federal nos próximos dias. Os números preliminares da Segurança Interna e da Patrulha de Fronteiras ameaçam bater recordes recentes. Estima-se que mais de dois milhões de apreensões tenham sido registradas neste período ao longo dos mais de 3 mil quilômetros de fronteira, com o aumento expressivo do número de travessias registrado em agosto e setembro.

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Estima-se também que 50 mil venezuelanos entraram ilegalmente no país só no mês passado. O governo Biden acelerou as deportações e implementou acordos com outros países para conter o fluxo. O governo também se ofereceu para acelerar as autorizações de trabalho para alguns imigrantes em solo americano. Entretanto, o governador republicano do Texas, Greg Abbott, ordenou a intensificação dos controles nos postos fronteiriços entre Ciudad Juárez e El Paso, o que gerou um engarrafamento monumental de quase 15 mil caminhões.

A revogação de leis federais na linha de fronteira foi um lugar-comum na Presidência de Trump. Este era o método preferido do presidente para promover uma de suas mais famosas e controversas promessas de contenção da imigração. Em maio de 2020, o governo republicano emitiu pelo menos 30 ordens para revogar regras na região, de acordo com uma contagem do Sierra Club, uma organização ambiental que argumenta que a construção do muro destrói o ecossistema semidesértico ao longo de milhares de quilômetros.

Os ambientalistas criticaram a decisão de Biden pelos mesmos motivos. Entre as leis que foram revogadas na área estão as relativas ao ar puro, à água para consumo humano e algumas destinadas à proteção de espécies ameaçadas de extinção. Com esta ferramenta, o Poder Executivo evita revisões e entraves burocráticos que poderiam dificultar a rápida construção da barreira, cujos recursos que serão usados pela pasta de Interior são aqueles designados pelo Congresso em 2019 para esse fim, durante a Presidência de Trump. O republicano construiu mais de 700 quilômetros de barreiras entre 2017 e janeiro de 2021.

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Pressionado pelo aumento das entradas irregulares, Biden foi forçado a fazer uma reviravolta acentuada na sua política de imigração. No primeiro dia da sua Presidência, 20 de janeiro de 2021, o líder democrata emitiu uma ordem para acabar com a emergência na fronteira comum e redirecionar o dinheiro utilizado na construção do muro para outras causas.

— Construir um muro gigante que atravessa toda a fronteira sul não é uma solução política séria — afirmou Biden, acrescentando: — Será política da minha administração que nenhum dólar dos impostos americanos vá para a construção de um muro.

A notícia da reativação do muro fronteiriço coincide com uma visita do secretário Antony Blinken ao México para encontro com o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador. Nesta quinta-feira de manhã, ele e a chanceler mexicana, Alicia Bárcena, participaram do Diálogo de Alto Nível sobre Segurança. A delegação dos EUA inclui também Mayorkas, o secretário de Justiça, Merrick Garland, e Liz Sherwood, conselheira para a Segurança Interna da Casa Branca. A administração americana tem na sua agenda questões como a proliferação do tráfico de fentanil, uma droga que se tornou uma epidemia nas ruas do país, e o controle das autoridades na complexa fronteira comum.