Internacional
Na abertura do sínodo que debaterá até padre casado, Papa pede que Igreja não seja rígida e nem 'olhe para trás'
Com voto inédito de mulheres e possibilidade de discutir bênção a casal LGBTQIA+, evento aberto por Francisco acontece ao longo de quatro semanas sob suspeitas de conservadores
O Sínodo dos Bispos, o encontro mundial sobre o futuro da Igreja Católica, começa nesta quarta-feira no Vaticano entre grandes expectativas de abertura e a preocupação dos conservadores com temas como o tratamento aos divorciados e aos fiéis da comunidade LGBTQIA+. A reunião acontecerá ao longo de quatro semanas em Roma, após dois anos de consultas em todo o mundo, e também deve abordar temas como as mulheres diaconisas e o celibato sacerdotal.
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O Papa Francisco não perdeu tempo e já na missa de abertura apresentou o tom da reunião, quando pediu uma Igreja "hospitaleira de portas abertas a todos". Também recordou que no sínodo não há espaço para "estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas".
Voto inédito de mulheres
A 16ª Assembleia Geral Ordinária começou oficialmente na manhã desta quarta-feira com uma missa na Praça de São Pedro do Vaticano, com a participação do Pontífice, que discursará durante a tarde, antes do início formal dos debates. Diante das "expectativas, esperanças e alguns medos" provocados pelo sínodo, Francisco recordou que o encontro "não é um Parlamento".
— Não estamos aqui para fazer uma reunião parlamentar ou um plano de reforma, mas para caminhar juntos — destacou, antes de alertar contra "algumas tentações perigosas": — Ser uma Igreja rígida, que se arma contra o mundo e olha para trás; ser uma Igreja apática, que se submete às modas do mundo; ser uma Igreja cansada, fechada em si mesma.
Até 29 de outubro, os 365 membros com direito a voto e mais de 100 especialistas debaterão a portas fechadas, antes de apresentar suas propostas ao Pontífice. Francisco terá a palavra final sobre a eventual aplicação das medidas.
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Porém, antes do início do evento, cinco cardeais conservadores pediram publicamente ao Papa que reafirme a doutrina católica sobre o tratamento aos casais homossexuais e a ordenação de mulheres. As perguntas do grupo aparecem em um texto com o título "Dúvidas", enviado ao lado de uma carta aberta aos fiéis na qual alertam para o risco de "confusão" e "erro". Também expressam o temor de que os temas apresentados no sínodo possam afastar muitos católicos.
Reformas desde 2013
Em sua resposta, o Pontífice, de 86 anos, pareceu sugerir uma via para a bênção dos casais homoafetivos por parte dos clérigos, algo não reconhecido pela Santa Sé mas praticado em países como Alemanha e Bélgica. Embora insista que a Igreja reconhece apenas o casamento entre homem e mulher, o Papa afirmou que "não podemos ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem".
"A prudência pastoral deve discernir adequadamente se há formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não impliquem um conceito equivocado de matrimônio", escreveu.
Desde que assumiu o pontificado, em 2013, Francisco trabalha para reformar a governança da Igreja, que pretende tornar menos vertical e mais próxima dos fiéis, embora tenha esbarrado em uma forte resistência interna. Pela primeira vez na história da Igreja, freiras e mulheres laicas poderão participar nas consultas do Sínodo e inclusive votar.
— Entre os bispos há uma cultura eclesiástica. Com a laicidade, isso não funcionará mais, não se contentarão com palavras bonitas, haverá uma demanda por procedimentos, vontade de mudar, de eficiência — declarou à AFP uma analista da Santa Sé que pediu anonimato. — Neste sentido, Francisco está ultrapassando os limites e, por isso, muitos sentem medo.
Decisões não saem antes de 2024
Uma segunda sessão da assembleia está programada para outubro de 2024, o que significa que nenhuma decisão concreta deve ser adotada rapidamente. Mas as expectativas são altas, assim como a preocupação, e as consultas revelaram até o momento opiniões diversas entre as Igrejas nacionais e entre estas e o Vaticano.
O Papa Francisco alertou no sábado sobre a necessidade dos católicos "caminharem juntos". E pediu ao sínodo que permaneça acima das "conversas, da ideologia e da polarização".
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