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Óculos de filtro azul protegem a visão das telas? Revisão de 17 estudos dá resposta definitiva

Trabalho concluiu que os bloqueadores não têm potencial para reduzir fadiga ocular ou melhorar qualidade do sono

Agência O Globo - 18/08/2023
Óculos de filtro azul protegem a visão das telas? Revisão de 17 estudos dá resposta definitiva

Embora amplamente comercializados com promessas de proteger a visão e reduzir a fadiga decorrente do excesso do uso de telas, os óculos que filtram a luz azul não levam a benefícios reais para a saúde dos olhos, ao menos no curto prazo.

É o que mostra uma ampla revisão de 17 estudos sobre o tema, publicada nesta sexta-feira no Cochrane Database of Systematic Reviews – uma das plataformas mais renomadas no meio científico.

O trabalho foi conduzido pela Universidade de Melbourne, na Austrália, em colaboração com com pesquisadores da Universidade Monash, também no país, e da Universidade de Londres, no Reino Unidos.

“A pesquisa mostrou que essas lentes são frequentemente prescritas para pacientes em muitas partes do mundo, e existe uma série de alegações de marketing sobre seus benefícios potenciais”, diz a principal autora da revisão, a professora da Universidade de Melbourne Laura Downie, chefe do laboratório Downie sobre saúde ocular, da instituição, em comunicado.

“Os resultados de nossa revisão, com base nas melhores evidências disponíveis, mostram que elas são inconclusivas e incertas para essas alegações. Nossas descobertas não apoiam a prescrição de lentes com filtro de luz azul para a população em geral”, continua.

A luz azul é emitida pelas telas dos dispositivos móveis e considerada importante por influenciar a regulação do ciclo vigília-sono e, em excesso, provocar danos na visão. Por isso, é comum encontrar à venda óculos com lentes que prometem filtrar a onda.

No entanto, o pesquisador do laboratório Downie e também autor da revisão, Sumeer Singh, afirma que “a quantidade de luz azul que nossos olhos recebem de fontes artificiais, como telas de computador, é cerca de um milésimo do que recebemos da luz natural do dia”.

Diz ainda que "vale a pena ter em mente que as lentes com filtro de luz azul geralmente filtram cerca de 10 a 25% da luz azul, dependendo do produto específico. Filtrar níveis mais altos de luz azul exigiria que as lentes tivessem uma tonalidade âmbar óbvia, o que teria um efeito substancial na percepção das cores”.

Os pesquisadores avaliaram 17 estudos, de seis países, em que foram comparados participantes com óculos da lente especial e com itens de lentes comuns. Os trabalhos analisados buscaram identificar se há um impacto na melhora da performance visual, na proteção da retina contra danos e na melhora do sono.

Nos estudos, o número de voluntários variou entre 5 e 156, e o período de acompanhamento foi de um dia a até cinco semanas. Após analisar os dados disponíveis, os pesquisadores que conduziram a revisão concluíram que não foram encontradas evidências que apoiassem os supostos benefícios das lentes de luz azul.

"Descobrimos que pode não haver vantagens a curto prazo com o uso de lentes de óculos com filtro de luz azul para reduzir a fadiga visual associada ao uso do computador, em comparação com lentes sem filtro de luz azul”, diz Downie.

“Também não está claro se essas lentes afetam qualidade da visão ou resultados relacionados ao sono, e nenhuma conclusão pode ser tirada sobre quaisquer efeitos potenciais na saúde da retina a longo prazo. As pessoas devem estar cientes dessas descobertas ao decidir comprar esses óculos”, acrescenta a pesquisadora.

Ela destaca que a revisão foi conduzida dentro dos parâmetros do Cochrane para garantir que os resultados sejam robustos. No entanto, pondera que eles devem ser avaliados com base na qualidade dos estudos que estavam disponíveis. Um dos problemas, por exemplo, é o curto período em que os participantes foram acompanhados, o que impede conclusões mais sólidas sobre impactos a longo prazo.

"Ainda são necessários grandes estudos de pesquisa clínica de alta qualidade com acompanhamento mais longo em populações mais diversas para determinar com mais clareza os efeitos potenciais das lentes de óculos com filtro de luz azul no desempenho visual, no sono e na saúde ocular. Eles devem examinar se a eficácia e os resultados de segurança variam entre diferentes grupos de pessoas e usando diferentes tipos de lentes”, diz Singh.

A revisão também destaca não ter encontrado nenhum relato consistente sobre efeitos adversos decorrentes do uso das lentes de filtro azul. Alguns participantes relataram desconforto, dor de cabeça ou alteração do humor, mas todos de forma leve, infrequente e temporária. Para os responsáveis pela análise, “provavelmente estavam relacionados ao uso de óculos em geral, já que efeitos semelhantes foram relatados com lentes que não filtram a luz azul”.