Brasil
Em Itaguaí, 20 jovens trocaram o grupo da igreja pelo tráfico e morreram, conta moradora da cidade mais violenta do Rio
Pâmela Dias
Moradora de Itaguaí há 40 anos, Maria (nome fictício) viu, no fim do ano passado, 20 jovens do grupo que liderava em uma igreja evangélica, no Centro da cidade, irem para o tráfico em Itaguaí. Todos morreram, diz ela. Envolvido em uma disputa entre a milícia e traficantes, Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, é o município mais violento do estado e o 16º mais violento do país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, divulgado nesta quinta-feira.
Maria conta que a guerra das drogas não dá trégua à cidade desde 2006.
— Os jovens vão para o tráfico por falta de oportunidade. Lá o dinheiro é fácil. Só que depois que entra não dá para sair. A milícia tem regras próprias, eles matam, cortam a mão — relata a autônoma, de 50 anos. — Um dos meninos que eu vi crescer e não tinha ligação com o tráfico também morreu porque o irmão era envolvido. Aqui morre inocente e bandido — completa.
De acordo com Maria, o Centro da cidade é o lugar mais seguro. Conforme observado pela reportagem do GLOBO, a área tem vasto policiamento, com carros da Segurança Presente e do Programa Estadual de Integração na Segurança. No entanto, diz Maria, a vigilância não chega a outros bairros do município.
— No Centro o policiamento é tanto que os policiais sempre param o meu filho, alegando que ele parece um dos traficantes do morro. É muita discriminação, e rezo todo dia para que não matem ele por engano como a gente vê na TV — relata a autônoma, que preferiu não se identificar por medo.
O vendedor ambulante Creusi Correa, 42 anos, mora em Itaguaí há 10 anos, no bairro Brisamar, considerado um dos mais perigosos pelos moradores. Creusi, que já viveu a violência de perto ao sofrer um assalto no ônibus enquanto vendia doces, não acredita na pacificação da cidade, tomada pela criminalidade.
— Aqui é perigoso, mas mais dentro das comunidades. Infelizmente, a polícia não consegue mais barrar o tráfico. Então, eles fazem a própria lei — afirma.
A professora Patrícia Alves, de 49 anos, também moradora de Brisamar, diz que os dias no bairro são marcados por medo. Apesar de afirmar que a milícia não permite assaltos e roubos, o conflito entre polícias e criminosos a impede de sair de casa tranquila e sozinha durante à noite.
— Os moradores ficam com medo porque é comum ver pessoas andando armadas aqui. A gente evita andar sozinho e sair à noite. Acontecem frequentes confrontos com a polícia por causa do tráfico de drogas, e o maior medo é sair na hora errada e tomar um tiro — relata.
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