André Santa Rosa

Em 2018, um tremor abalou o bairro do Pinheiro, vizinhança tradicional de Maceió (AL). O Serviço Geológico do Brasil descobriu que as falhas geológicas foram resultado da exploração de sal-gema, feita por uma gigante nacional instalada na cidade. Como fruto de um desastre socioambiental e pelas imagens deixadas por ele, o livro de poemas “Retratos de ruínas & outros fantasmas comuns”, de André Santa Rosa, trata de um projeto poético que busca narrar as pequenas políticas emocionais de vivermos num país onde a devastação parece se antecipar a si mesma.

O lançamento do livro será no formato de live, nesta quarta-feira (23), às 19h30. A conversa terá participação do poeta e músico alagoano, Mateus Magalhães, e do crítico e editor do Suplemento Pernambuco, Schneider Carpeggiani.

O livro tem como arquitetura e imagem central uma casa assombrada, erguida para projetar a tal sombra no papel. “Retratos começou a ser feito em 2019, como uma exploração pessoal e coletiva desse Brasil em ruínas, pensado através Maceió e Recife”, explica o autor. “Enquanto escrevia ele, os versos ‘preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos vazios’, de Ana Cristina Cesar em A teus pés (1982), ecoavam como forma de pensar essas ausências que foram criadas”, pontua André Santa Rosa. As ausências das quais o livro trata, não são apenas da ordem de eventos destrutivos como o que está acontecendo em Maceió. Todavia, também, o autor as confunde entre as banalidades e pequenas fraturas pessoais de nossas vidas privadas.

Apresentando uma série de 35 poemas, “Retratos de ruínas & outros fantasmas comuns“ se debruça na poesia contemporânea com influências de João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Ana Cristina Cesar, da escritora norte-americana Patti Smith e da poeta portuguesa Matilde Campilho. Narrado pelo gesto literário de construir casas vazias, André Santa Rosa escreve sobre o alumbramento de despedidas de pessoas, de ideias e de cômodos afetivos. “agora partiremos cada um para/um canto da cidade/os carros vão continuar/passando infinitamente/um dia as crianças aprendem/ a deslizar por entre os desmoronamentos”, escreve no poema “everything ‘s in it’s right place”.

Segundo o posfácio, escrito por Schneider Carpeggiani, a obra se localiza num horizonte de narrativas sobre a crise contemporânea brasileira. “Acredito que a poesia dos últimos 10 anos cumpriu o difícil exercício de descrever o mal-estar de viver num Brasil que vai despencando a cada ano, como nenhuma outra arte fez”, escreve o editor. “Um livro de história do Brasil da última década tem de ser também um livro sobre os poemas da última década”, finaliza.

Sobre a Editora Urutau

A editora paulista, nos últimos cinco anos, publicou mais de 350 livros no Brasil e em Portugal. “Retratos de ruínas & outros fantasmas comuns” foi um dos livros selecionados pelo concurso de originais da Urutau.

Sobre o autor

André Santa Rosa é poeta, jornalista cultural e crítico, nascido em 1999, em Maceió/AL. Como escritor, publicou o plaquete de poemas “visão noturna para astronautas” (2021), pela & legal edições, com edição de Felipe André Silva. Atualmente, escreve para o jornal literário Suplemento Pernambuco (com passagens por publicações como Revista Propágulo e Diario de Pernambuco) e publica poesia em diversas revistas e zines.

SERVIÇO

Lançamento do livro “Retratos de ruínas & outros fantasmas comuns” (Editora Urutau)

Quando: Quarta-feira (23) março, às 19h30

Link: bit.ly/TramasdeRuínas
Para comprar: bit.ly/retratosderuinas