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O segredo é o professor

27/09/2016
O segredo é o professor

Pesquisas recentes demonstram que a habilidade de ensinar não é inata. Assim como os treinadores ajudam os atletas a melhorar em suas modalidades, os professores também podem ter suas vocações aprimoradas.

Sabe-se que o segredo para notas excelentes e estudantes bem-sucedidos não são os colégios elegantes, turmas pequenas ou equipamentos mirabolantes. São os professores. É a principal conclusão da matéria “Como fazer um bom professor”, publicada na revista The Economist, de 11 de junho de 2016.

Melhorar a qualidade do ensino passa pela ideia de melhorar o professor.

No mundo todo, poucos professores são suficientemente bem preparados. Em países pobres, muitos recebem pouco treinamento. Um relatório recente constatou que, em 31 países, mais de um quarto de professores de escolas primárias não havia atingido o padrão nacional (mínimo). Em países ricos, o problema é mais sutil. Os professores se qualificam, seguindo um curso longo, que, normalmente, envolve discussões rasas sobre diversas teorias. Alguns desses cursos, inclusive mestrados em educação, não têm nenhum efeito sobre quão bem os alunos dos seus graduados acabam sendo ensinados. As escolas negligenciam os seus alunos mais importantes: os próprios professores.

É preciso aprender como transmitir conhecimento e preparar jovens mentes para recebê-los. Bons professores definem objetivos claros, aplicam padrões altos de comportamento e administram o tempo em sala de aula com sabedoria. Usam técnicas comprovadas de ensino para garantir que todas as cabeças estejam funcionando todo o tempo, como, por exemplo, fazer perguntas na sala de aula, escolhendo o aluno que irá responder, em vez de perguntar e esperar uma resposta, o que sempre leva a ter os mesmos alunos ansiosos levantando as mãos.

A aplicação dessas técnicas é mais fácil em teoria do que na prática. Com o ensino, assim como com outras habilidades complexas, o caminho para a maestria não é uma teoria confusa, mas sim uma intensa prática orientada, baseada no conhecimento do assunto e métodos pedagógicos.

Os estagiários deveriam passar mais tempo em sala de aula. Os lugares onde os alunos têm o melhor desempenho, por exemplo, Finlândia, Singapura e Xangai, fazem professores inexperientes passar por um aprendizado exigente. Na América, as escolas com alto desempenho ensinam os estagiários em sala de aula e dão orientações e feedback a eles. Acertar nos incentivos ajuda. Em Xangai, os professores ensinam somente de 10-12 horas por semana, menos que metade da média americana de 27 horas.

Estudos recentes da Universidade de Harvard destacam o poder do bom ensino. Mas uma pergunta persegue os criadores de políticas: “Bons professores nascem bons ou se tornam bons?” Preconceitos na cultura popular sugerem a última opção. Professores ruins são vistos como pessoas preguiçosas e que odeiam crianças. Edna Krabappel, de “Os Simpsons”, trata as aulas como obstáculos para chegar aos intervalos. Enquanto isso, professores bons e inspiradores são vistos como pessoas dotadas de dons sobrenaturais. Em 2011, um levantamento sobre atitudes em relação à educação verificou que essas visões refletem no que as pessoas acreditam: 70% dos americanos acreditavam que a habilidade de ensinar resultava mais de talento inato que treinamento. Elizabeth Green, a autora de “Formando Mais que um Professor”, chama isso de “mito do professor inato”.

As instituições que preparam professores precisam ser mais rigorosas – assim como um século atrás, em que escolas de medicina aumentaram o nível dos médicos, introduzindo currículos sistemáticos e fornecendo experiência clínica.

Mudanças nos sistemas escolares são irrelevantes se não mudarem como e o que as crianças aprendem. Para isso, o que importa é o que os professores fazem e acham. A resposta, afinal, está na sala de aula.