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Vates Nordestinos
Enfeitam, deleitam, ornamentam, abrilhantam, encantam este Nordeste querido exaltado pelos cantadores de viola. Quem não se lembra de Zé da Luz do Brasil Caboclo que escrevera versos imorredouros: “Desejo, praquê negá? / Desejo ser um caçóte,/ Com dois óio dêsse tamanho! / pra vê, aquêle magóte / De môça tumando banho”.
Pois bem, o escritor/ jurista Ivan Barros, vetusto sócio da Associação Alagoana de Imprensa (AAI), no seu livro Violeiros, Repentistas e Poetas do Sertão homenageou esses menestréis que povoam todos ricões nordestinos com a arte brejeira a serviço da cultura popular. Segundo ele, “Gregório de Matos Guerra, nascido na Bahia, no século XVII, foi o primeiro cantador de viola, ao lado de Padre Domingos Caldas Barbosa, que também tocava viola”.
Na sua pesquisa, observou seu conterrâneo Chico Nunes da terra dos Xucurus que ficou desempregado por ato do então governador, natural da bucólica Pilar. Certa feita, visitou Palmeira dos Índios e pediu ao líder político local – Juca Sampaio – que trouxesse o poeta a fim de improvisar alguma coisa. Nunes aborrecido com a autoridade assim se expressou; “ Existe um Governador/ Que se chama Costa Rego/ Que tirou o meu emprego/ Porque o jogo acabô/ Isso me contrariô/ Mas o destino assim quis/ A sorte me contradiz/ Eu fiquei desmantelado/ Largue de sê desgraçado/ Seu Costa Rego infeliz”. E arrematou: “ O Governador riu e deu um bom dinheiro a Chico”.
Registrou a Literatura de Cordel onde fixou versos de Agamenon Magalhães que, por sinal, o poeta Abaeté versejou: “ Pernambuco meu Estado/ Na política tem tradição/ Cultura um dos mais ricos/ Da nossa federação/ Na sanfona deu Gonzaga/ No cangaço deu Lampião./ Botou ordem no sertão/ O Capitão Virgulino/ Com barro moldou o mundo/ Nosso mestre Vitalino/ Pernambuco é o orgulho/ Do povo Nordestino”.
Por outro lado, fez justiça ao cego Aderaldo que, por sua vez, ficou sem enxergar o mundo. Pediu a Nossa Senhora que o iluminasse para que tivesse um meio de vida. “ Uma noite, sonhei cantando: oh santo de Canindé/ Que Deus te deu cinco chagas/fazei com que este povo/ para mim faça as pagas/ uma sucedendo às outras/ como o mar soltando as vagas”. Morreu com 85 versos compondo poemas que jamais serão esquecidos. Certa vez, chamou o adolescente Deocleciano para levá-lo à feira a fim de ganhar uns trocados. Chegando ao mercado, alguém indagou: “ Deocleciano, conseguiu um emprego”? Ele respondera: “ Não, estou carregando este besta”. Aí, o rapaz falou para o cego Aderaldo: “ poeta, essa coisa vai ficar sem resposta”? Ele fez um improviso que merece registro: “ Andei procurando um besta/ que fosse um besta capaz/ Não encontrei um capaz/ Fiquei com este rapaz/ Que não serve pra ser besta/Porque é besta demais”.
Quem não se lembra da Efigênio de Moura? De acordo com o autor de légua de livro – doutor Ivan Barros – “ Efigênio cresceu vendo serras, matas verdes e gado. Devorando campineiras, montando cavalos bravos. Tangendo animais para o curral, tirando lei das vacas e amassando bichos brabos pela redondeza”.
Inseriu o poema Morte de um Poeta de autoria de outro saudoso poeta José Jurandir, que tive o prazer de conviver com sua simpática pessoa. Assim, faço referência à sua verve historiando sobre o destino trágico do colega.
“Foi no início do verão / Que a Princesa do sertão/ Perdeu uma grande figura/ Poeta Efigênio Moura/ Que em hora sofredora/ Recebeu Grande Tortura. /Hoje está no infinito/ No santo poder bendito/ Sob as ordens de Jesus/ Deixaste esta nobre cidade/ Dos varonis Xucurus”.
“Violeiros, Repentistas e Poetas do Sertão”, por sua importância aos vates nordestinos, merece leitura acurada, a fim de aquilatar a pesquisa do autor que, ao longo de sua profícua existência, tornou-se o maior/ melhor historiador das Alagoas de Lêdo Ivo. Fez trazer à tona versejadores da estirpe de Patativa do Assaré, Lourival Batista, Dedé Monteiro, Zé da Luz, Antônio do Algodão, Manoel de Neném – O Pagodeiro -, Zé do Cavaquinho, Pageú, Rodolfo Coelho Cavalcanti, José Bernardo da Silva, Oliveiro Deoclécio Araújo, Juriti, Tonho da Viola, Antônio Pereira, João Pereira Lima, Amaro Guedes ( Quebrangulo), Manoel Oliveira Pinto. Folcloristas Ezequias da Rocha/ Aloisio Vilela, Arlindo Lima, cantor Jacinto Silva.
Sou um matuto de Paulo Jacinto, terra querida que me viu nascer em 3 de fevereiro de 1946. Desmembrou-se de Quebrangulo em 2 de dezembro de 1953. Historicamente, sou conterrâneo de Graciliano Ramos que foi alcaide de Palmeira dos Índios, renunciando o mandato para dirigir a Imprensa Oficial. Hoje, ostenta sue nome merecidamente. Felicito o grande amigo por mais essa feliz iniciativa. Faço votos que outras obras brotem de sua excelsa inteligência.
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