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Soberba

04/09/2016
Soberba

Quando Cabral acertou o pagamento da pousada no Recife, Seu Manoel, o proprietário, pediu-lhe um favor, levar de carona à Maceió, Daniela, sua filha. Gentil, ele disse ser um prazer. Partiram após o almoço. A jovem acomodou-se no banco da frente, não o cumprimentou, sequer um boa tarde, “walk-man” grudado ao ouvido. Viajaram como se ela estivesse fazendo um favor em ter sua companhia.

Cabral sentiu desconforto com o comportamento mal-agradecido da adolescente. Daniela, bem crescida, dizia ter 20 anos, entretanto, não completara 17. Corpo formado, cintura fina, quadris largos, a pele rosada destacava sob a blusa transparente de malha branca. Bermuda jeans apertada, esfarrapada, pernas bem torneadas. Uma bela poltranca, pensou Cabral enquanto analisava discretamente a companheira acidental.

A viagem transcorreu monótona, sem conversa, Daniela ouvindo rock. Em certo momento ela retirou o fone do ouvido, sem pedir licença, ligou o rádio do carro, procurou um rock pauleira, ficou a ouvir enquanto o carro rodava na estrada. Cabral tentou conversar, desistiu diante do mutismo irritante de Daniela.

Após duas horas de viagem apareceu uma chuva persistente, há uma semana chovia na região. Rômulo parou num posto de combustível, abasteceu. Depois do lanche, pela primeira vez, Daniela falou.

– “Minha conta eu pago. Faço questão de não lhe dar despesas.”

Rômulo já havia pagado, respondeu brincando:

– “Na próxima você paga”.

Retornaram à estrada, sob intensa chuva, o limpador de para brisa trabalhava insistente, De repente deparou-se com um engarrafamento, trânsito lento, carros parados. Problema na estrada, o aterro da cabeça de uma ponte desmoronou devido à enxurrada da chuva, o D.E.R. tentava liberar a estrada a qualquer momento, entretanto ninguém podia passar enfrentar a estrada àquela hora, escurecia, era perigoso. O policial aconselhou a dormir em Palmares, continuar viagem no outro dia.
Cabral perguntou a opinião de Daniela. Simplesmente ela fez um gesto com os ombros e os lábios, como se dissesse tanto faz, ele precavido retornou ao posto. Recomendaram um hotel na cidade.

Na portaria Cabral pediu dois quartos. A chuva continuava mais forte ainda, marcou com Daniela para jantar no próprio hotel às 19: 00h.
Ele desceu na hora combinada, Daniela já havia jantado, subia as escadas para seu quarto, sequer deu um boa-noite. Cabral não entendia a grossura da menina, jantou, recolheu-se cedo, leu um pouco, custou a dormir.

Durante a noite foi despertado foi despertado por fortes trovões, de repente fortes batidas na porta do quarto, a voz aflita de Daniela pedia desesperada: “Por favor, abra aqui. Abra!” Cabral deixou a cama num salto, abriu a porta, Daniela entrou enrolada num lençol, deitou-se na cama, confessou com voz trêmula, morria de medo de raio e trovão. Cabral surpreso, fascinado pelo encanto da mulher-menina, sentou-se à cabeceira, buscou confortá-la, alisou a cabeça, mandou-a dormir à vontade, ele iria para o sofá. Surpreendeu-se quando ela puxou-o pelo braço pedindo: “Vem para perto de mim cara!”

Abriu o lençol, estava apenas de calcinha preta, abraçou-o tomando os lábios. Irresistível, amaram-se feito dois animais.

Noite fria, mudos intervalos de amor, não conversaram, apenas gemidos na hora do prazer. Louca ninfeta sabia tudo do amor, perfeita na hora certa, nada foi aprendido, sábia de nascença, uma Deusa.

Dia seguinte Cabral acordou-se espreguiçando, de Daniela apenas o suave perfume de alfazema na cama. Olhou pela janela, o tempo havia melhorado. Tomou banho, fez a barba, arrumou a mala, desceu. Durante o café da manhã percebeu Daniela pronta sentada numa poltrona com a mala, esperando a partida.

Entraram no carro, Daniela tomou a mesma posição, calada como se nada tivesse acontecido, como se Cabral fosse um estranho. Arrogante, cheia de soberba não sorriu sequer ao companheiro noturno de amor. Nariz empinado, fone no ouvido, não lhe dirigiu a palavra durante o resto da viagem, sequer um “obrigado” quando ele deixou-a na casa de um tio no bairro do Farol.