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Mês do desgosto
Ouço estórias e histórias sobre o mês de agosto, desde pequeno. Mês do cachorro louco e de coisas afins. De há muito, ouço o conselho dos mais velhos: “meu filho, numa sexta feira 13, nunca passe debaixo de uma escada, na qual um gato preto está deitado”. E sempre acatei tal pedido, visto que é arriscado passar por baixo de uma escada, em qualquer lugar ou dia do ano. Porém, quanto ao “gato preto” debaixo da escada ou em qualquer lugar, eu os deixo prá lá. Afinal, não tenho nenhuma paixão por gatos, pretos, brancos, cinzas, amarelos, ou de qualquer cor. Existem outros animais que me agradam mais. Afinal, tudo é uma questão de afinidade. Nada tenho contra os “gatos”, desde que eles não me ataquem…
Quanto ao mês de Agosto eu tenho algumas restrições. È um mês fatídico, emblemático, misterioso, pois sua origem é conflituosa. O mês de Julho, que possui 31 dias do ano, ingressou em nosso calendário no sétimo mês do ano como sendo julius, em substituição ao antigo mês quintilis, por ato de uma homenagem do cônsul Marcos Antônio ao seu rei Júlio César, por volta de 45 anos antes de Cristo. A homenagem imposta pelo Senado Romano em louvor ao seu rei (que não é o nosso rei) resultou na tragédia do ano seguinte, quando Sua Majestade, o rei JÚLIO CÉSAR, foi assassinado a golpes de punhais e adagas por BRUTUS, seu leal amigo, liderando seus opositores.
Ora, Augusto César, o primeiro dos imperadores romanos, depois da morte do rei Júlio César, que antes fora comandante-chefe do exército romano e conquistador de novas terras, por pura vaidade e abuso de poder, resolveu se auto promover e exigiu que o Senado Romano alterasse o calendário para substituir o mês sextilis, depois do mês de julho, para incluir o mês de augustus, exigindo, também, que este mês teria 31 dias, igual ao mês de julho, data dedicada às homenagens a Júlio César. E, para tanto, o imperador romano mandou retirar um dia do mês de fevereiro. Tudo isso aconteceu por volta de 24 anos antes de Cristo.
Assim, desde sua origem, entende-se que Agosto é um mês que usurpa datas comemorativas, que impõe sua vontade, que inibe os outros meses, que causa danos e desgostos à natureza e aos homens. Veja, por exemplo, é o mês que mais possui comemorações notáveis. È no mês de agosto que se comemora o folclore (a arte que “estuda tudo o que constitui o equipamento mental do povo desde que distinto da procedência técnica. Não é a forma do arado que chama a atenção do folclorista, mas os “ritos” praticados pelo lavrador quando o faz penetrar no solo; não é a manufatura da rede ou do arpão, mas os “tabus” observados pelo pescador quando está no mar”, segundo o livro Handbook, da Folklore Society, de Londres, publicado em 1913). Portanto, é o mês das lendas, das superstições, das danças e dos cânticos populares. Também é o mês da Amamentação, do Tintureiro, do Padre, da Saúde, da Televisão, do Advogado (embora eu discorde desta homenagem nesse mês), do Estudante, do Garçom, Consciência Nacional, do Hoteleiro, da Pintura, do Magistrado, dos Pais, das Artes, do Economista, dos Encarcerados, do Pensamento, do Protesto, da Unidade Humana, dos Solteiros, do Patrimônio Histórico, da morte (Assunção) de Nossa Senhora, do Fotógrafo e da Fotografia, das Vocações Religiosas, da Habitação, dos Artistas, do Aviador Naval, da Infância, do Feirante, do Soldado, dos Catequistas, do Psicólogo, do Corretor de Imóveis, do Bancário, da Avicultura, do Combate ao Fumo, do Nutricionista, entre outras datas. Entre as datas religiosas, destaca-se o martírio de São Bartolomeu, apóstolo, cujo dia é comemorado em 24 de agosto. No mais, foi no dia 24 de agosto de 1572 que a rainha Catarina de Medici ordenou o massacre de São Bartolomeu, que ceifou milhares de vidas humanas. Por sinal, no Brasil, o dia 24 de agosto é o dia de todos os “Exus” (espíritos do mal) nos candomblés brasileiros.
Portanto, agosto é um mês marcado por grandes tragédias. O mês do azar e dos desgosto. Em agosto sempre aconteceram episódios marcantes e inesquecíveis. Senão vejamos: no dia 14 de agosto de 1831, os poloneses foram vencidos pelos russos na chamada revolta de Varsóvia e muita gente morreu sonhando com a liberdade; no dia 14 de agosto de 1844, a França invadiu Marrocos; no dia 11 de agosto de 1863 a França dominou o Cambodja; no dia 6 de agosto de 1890, na cidade de Nova York, o primeiro homem foi eletrocutado numa cadeira elétrica, onde o Estado assumiu o papel de Senhor da Vida e da Morte; em 24 de agosto de 1910, o Japão invadiu a Coréia, às custas de muito sangue e de muitas lágrimas; no dia 1º de agosto de 1914, começou a 1ª Grande Guerra Mundial…
No Brasil, agosto é considerado o mês do azar em decorrência do suicídio do presidente Getúlio Vargas, ocorrido no dia 24 (ano de 1954). É o mês do desmancha-prazeres. Foi no mês de agosto, no dia 22 (ano de 1981), que partiu para a eternidade o compositor Raul Seixas, que cantava: “…a civilização se tornou tão complicada, que ficou tão frágil feito um computador, que se uma criança descobrir o calcanhar de aquílis…com um só palito pára o motor…” Também foi no mês de agosto que o dono da Rede de Televisão SBT, Sílvio Santos, ousou dizer, em brincadeira, que iria morrer, mas Roberto Marinho, aos 98 anos, presidente das Organizações Globo, morreu em primeiro lugar no dia 6 de agosto de 2003.
Ora, segundo a numerologia, o número 8 (oito), do mês de agosto, significa “tenacidade”, “coisas do mundo”. É um número prático e pertence às pessoas sucedidas que se dão bem no mundo dos negócios. Tem muito haver com as coisas materiais (em oposição às coisas espirituais). São pessoas que trabalham duro, desenvolvendo autoconfiança, ambição, poder e habilidades humanas. Mas, aqui, ocorre, uma reflexão: nunca deve se deixar atrair de maneira obsessiva pelo prazer do poder e do dinheiro que estes possam proporcionar ao homem, pois, o ser humano corre o risco de tornar-se materialista, voltar-se apenas para o acúmulo de bens, tornando-se um ser intolerante, arrogante e radical. As coisas do mundo torna o homem insatisfeito e depressivo…
Assim sendo, nos países latinos, Agosto é o mês do desgosto, das desgraças e das infelicidades. Na opinião do folclorista pernambucano Pereira da Costa: “agosto é um mês aziago, é um mês de desgostos; e é de mau agouro para casamentos, mudanças de casa e empreendimentos de qualquer negócio de importância” (Folclore Pernambucano, p.116). Para Pereira da Costa: “O diabo aparece furtivamente, iludindo a vigilância dos arcanjos, que o trazem sob as suas vistas, armados de flamejantes espadas; mas, no dia de São Bartolomeu, a 24 de agosto, o diabo solta-se licenciadamente do inferno, e fica em plena liberdade. Por isso é prudente a gente prevenir-se para não cair nas suas ciladas (…)”.
Finalmente, foi no dia 13 (sexta-feira) de agosto de 1987 que eu e minha mulher (ela, dormia no carro, grávida de sete (7) meses, sem cinto de segurança), capotamos e caímos de uma ponte em uma rodovia de Pernambuco… Minha filha nasceu no mês seguinte… Eu, minha esposa e milha filha estamos todos vivos… Mas, essa é uma outra história! Pensemos nisso. Por hoje é só!
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