Artigos

Um cara fiel

21/08/2016
Um cara fiel

Maceió, como qualquer outra cidade de médio porte nordestina é hospitaleira, povo bom, provinciano, até ingênuo. Em vez em quando aparecem um Lampião, Zumbi dos Palmares, Calabar, entre outros revoltados com a situação de injustiça social plantada nessa terra desde o descobrimento. Aqui nas Alagoas, por exemplo, oito grandes famílias detém mais de 60% do PIB, chega a ser cruel a distribuição de renda. Mesmo assim somos hospitaleiros, recebemos turistas, forasteiros, com tapete vermelho, dando boas vindas.

     Nos anos 70 apareceu aqui na província um cidadão bem falante, carioca, conhecido pelo sobrenome, Karafiol. Esse jovem montou uma empresa de consultoria dirigida especialmente aos usineiros, aos homens do açúcar, do ouro branco, ouro dos brancos, preto só corta cana.

         Ele propunha um difícil trabalho, baixar impostos em transações de importações de maquinarias e equipamentos. Os empresários do açúcar logo se interessaram na possibilidade de baixar IPI e outros impostos, contrataram a empresa de consultoria, MARILDA KARAFIOL, do carioca. Os resultados foram os melhores possíveis, Karafiol conhecia os tapetes, os bastidores dos impostos de importação, conseguiu baixar impostos com trabalho, propina e mulher, impostos de muitas usinas. Tornou-se herói entre os abastados usineiros, os donos das Alagoas. No primeiro ano a empresa deu muito lucro às usinas, Karafiol frequentava a mais alta roda da cidade, seja em clubes, restaurantes, garçonières ou alcovas, seu nome era sempre lembrado como cidadão exemplar. Um técnico que consegue baixar imposto nesse país merece prêmio. Ele amava a vida entre os socialites, gostava de um carteado, era convidado para as mais bem frequentadas mesas de baralho. Tinha uma compulsão pelo jogo, vício, e jogava alto.

         No segundo ano abriu uma empresa de taxi com um amigo alagoano muito conhecido e conceituado, na época era a melhor frota de taxi na cidade. Karafiol, exemplo de empresário e honestidade se dizia alagoano por opção, não por nascimento, entretanto, proclamava aos berros, amava essa terra e aqui morreria. Um vereador chegou a propor o título de cidadão de Maceió; Karafiol ganhou o prêmio de empresário do ano, em troca de algum valor ao cronista que organizava esse prêmio. Certo partido político convidou-o a se filiar, teria uma vaga garantida na Assembleia Legislativa, total apoio dos usineiros; ele ficou de pensar, era uma boa oportunidade.

       No final do terceiro ano de consultoria, apareceu uma oportunidade de bons negócios com uma maquinaria especial para reduzir custos de açúcar, diminuindo a mão de obra. Os empresários do açúcar foram mobilizados por Karafiol. Ele fez cálculos de redução de impostos, o custo do trabalho e da propina, compensava essa redução. Karafiol foi de empresário a empresário, começou a arrecadar dinheiro para redução do IPI. U$ 600 mil de um, um milhão de outro, mais U$ 400 mil de outro, há quem diga que Karafiol arrecadou em torno de U$ 12 milhões. Nessa altura ele havia comprado 20 Chevrolet OPALA na concessionária, aumentando a frota de taxi de sua empresa, uma mostra que ele estava cada vez mais arraigado à terra.

        Na véspera de ele viajar para Brasília e Rio de Janeiro a fim de resolver o mais alto negócio feito por ele, compareceu à casa de um amigo para um joguinho de baralho. No final, eram três horas da manhã, ele havia perdido mais de R$ 10 mil. Levantou-se, pegava o avião às 9:00 horas, precisava de dinheiro vivo, passou alguns cheques trocando em dinheiro dos parceiros de jogo. Foi a última vez que Karafiol foi visto no Estado de Alagoas. Embolsou todo dinheiro dos usineiros, dos colegas de jogo, até hoje está desaparecido, não teve detetive no Brasil e no mundo que o encontrasse. Dizem que ele fez uma plástica, tem uma grande consultoria, continua um cara fiel aos seus princípios, presta serviços em Brasília.