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À Mestra Nininha, com Saudade

13/08/2016
À  Mestra Nininha, com Saudade

Retrocedo nos anais do tempo a fim de me fixar na década de sessenta vivendo na minha querida Paulo Jacinto. À época, estudava no então Ginásio Antônio Farias, fundado pelo saudoso Professor Djalma Barros, filho do primeiro alcaide da gleba – José Aurino de Barros-, responsável pelo desmembramento político do município de Quebrangulo, terra do inolvidável escritor Graciliano Ramos que faleceu precocemente no ano de 1953. Data que assinala a independência política do berço de Ernestino Veiga.

Pois bem, dentre os lentes daquele sodalício no hinterland alagoano, destacava-se a insigne Mestra Maria Emília de Barros, carinhosamente, denominada de Nininha pela maestria que lhe era peculiar. Aliás, minha Professora de Português que me ensinou o vernáculo herdado de Camões/ Bilac.

O tempo passou, obedecendo fielmente sua cronologia. Mas, de repente, recebi a notícia de seu falecimento aos noventa anos bem vividos em prol do ensino de excelente qualidade. Integrava o seleto grupo de alunos, enumero-os: ex-deputado João Neto, Talmany, advogado Ademar Teixeira, Nivaldo Carvalho ( IN MEMORIAM), Guido Aguiar e o cronista que escreve esta crônica com muita ternura à memória de sua orientadora intelectual.

Parafraseando Bertold Brecht: “ Há homens que lutam por um dia, e são bons; há outros que lutam por um ano, e são melhores; mas há os que lutam por toda a vida – esses são imprescindíveis”. Você, Nininha, enquadra-se na última categoria em face de ter feito da missão de ensinar a multiplicação do saber; transformou iletrados em homens públicos capazes de honrar suas sábias lições. E, finalmente, enalteceu o Ensino Superior consoante as suas habilidades incontestes ao longo de sua bem-sucedida trajetória neste mundo terráqueo.

Nesse sentido, lembro-me de sua doce pessoa. Educada, solícita, e, sobretudo, mulher dedicada às letras e às artes. Parece-me salutar me lembrar de minha saudosa genitora – Maria Veiga – que nos seus pedidos feitos à minha pessoa dizia: “ Laurentino, respeite à Nininha, tem origem fidalga, não precisa de salário para viver. Muito pelo contrário, é abastada pelos dotes herdados de seus pais”.
Mesmo assim, na minha desenfreada adolescência não atendi ao pedido daquela que me trouxe à luz. Fui um péssimo aluno no que tange ao aprendizado recebido. Muitas vezes, claudicava na língua pátria. E, portanto, da minha Mestra recebi castigo merecido. Isto é, após o horário normal, ficava a escrever a palavra errada cem vezes como forma de nunca mais errar.

Tenho a satisfação de registrar que em Paulo Jacinto não tem somente o Baile da Chita, reconhecido como evento no Calendário do Turismo alagoano pelo jovem governador José Renan Vasconcelos Calheiros Filho. Mas, tradição de homens públicos da estirpe do juiz de Direito Barros Neto, professor Ivanildo Barbos (IN MEMORIAM), economistas Cícero Veiga/ Eurides Porangaba, jornalistas Marcelo Firmino/ José Alberto Costa/ Laurentino Veiga e outras figuras que enaltecem o torrão que jamais será esquecido.

E, assim sendo, vejo a oportunidade de exaltar as qualidades inerentes à memória da Mestra Maria Emília Barros. Diga-se, de passagem, pavimentou a minha estrada de Professor de Economia no Centro Universitário Cesmac, quer na capital, quer na Faculdade Cesmac do Sertão encravada na bucólica Palmeira dos Índios.

Dir-se-ia que dela aprendi a respeitar os alunos e, ao mesmo tempo, ensiná-los a vencer na vida. Afinal, dissera o escritor mineiro Guimarães Rosa: “ Mestre não é aquele que sempre ensina, mas de repente aprende”.Aprendi, portanto, não só devido as suas sábias lições recebidas, mas pela fidalguia que sempre dedicou à minha singularíssima pessoa. E, desse modo, tornei-me Professor Especialista das disciplinas Comércio Exterior / Economia e Administração Veterinária no Campus de Marechal Deodoro.

E falando de saudade, devo trazer à tona versos do poeta Antônio Santos: “ Quem quiser plantar saudade/ Escalde bem a semente/ Plante num lugar bem seco/ Onde o Sol seja bem quente. / Pois se plantar no molhado/ Quando crescer mata gente”. Sobrevivi à memória da inesquecível Mestra Nininha, para fazer história para inseri-la na saga das melhores professoras que tive ao longo de minha existência. E, consequentemente, devo acrescentar que a saudade se materializa através desta crônica que faço com amor d’alma. E, por tudo isso, enalteço seu papel de educadora insigne, amiga dos alunos, colega de seus pares. Enfim, a uma mulher que soube honrar o magistério durante sua profícua existência.