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O inesquecível verão da Chaina
Bebedouro era o mais chique, o mais festeiro, o mais rico de Maceió. Ainda hoje as mansões, os bonitos palacetes das famílias tradicionais estão em pé, embelezando o bairro.
Ao terminar a 1ª Guerra Mundial ( 1914 -1918), o prefeito de Maceió comemorou o fim da guerra na então “Praia do Aterro”. Depois de bons goles de cachaça da boa, prometeu que ali construiria uma bela Avenida, a Avenida da Paz.
Terminada a obra, a Avenida começou a desbancar Bebedouro, a burguesia se transferiu para a Avenida da Paz, construindo belas casas e mansões. Nessa época apareceu a moda do “banho salgado”, a mulherada vestia maiô até o joelho e caía na água do mar. Maior sucesso, alguns achavam um escândalo. Vinham homens, velhos e meninos do interior apreciar as modernas senhorinhas de maiô aparecendo a batata das pernas. Causava reboliço entre os marmanjos. Nessa época também foram aparecendo os primeiros “tarados”. Quando nos anos 30 a sede do Clube Fênix foi inaugurada, o maiô já havia diminuído de tamanho, subindo à metade das coxas, quanto mais diminuía o maiô, mais aumentavam os discípulos de Onã na esplêndida praia da Avenida.
Nos anos 50 eu era um jovem maloqueiro de praia. Nadava singrando a calmaria do mar, pulava da cumeeira dos trapiches estendidos mar adentro, jogava futebol na areia dura, molhada. Pescava nas jangadas, puxava rede. Entretanto, o que nós meninos mais apreciávamos, o nosso esporte predileto, era ficar na areia olhando, que nem jacaré, para as belas mulheres deitadas na areia, pegando um bronzeado no corpo.
O “voyeurismo” é uma característica masculina, o olhar, o apreciar os encantos da mulher. Alguns não se controlavam, praticavam o onanismo nas mais esdrúxulas situações. Apanhados em flagrante eram taxados de “tarados”. Naquela época, meninos com cara de santinho, trafegavam pelas rodas de conversas ingênuas com as moças descontraídas. Entretanto, ao entrar na água, não havia quem segurasse.
O Gaguinho era mestre, aproximava-se das meninas, deitava de bruços, cavava uma cova, adaptada a mão, dava estímulo as suas fantasias. Certa vez, um amigo percebeu Gaguinho em posição de trincheira perto de sua belíssima irmã. Ele foi chegando por trás, devagar, de repente virou o Gaguinho em vias da apoteose final. Levaram o “tarado” para a Delegacia de Jaraguá. Foi preso, ficou sumido por um tempo.
Certo verão ela apareceu! Foi o primeiro biquíni em Maceió. Uma bonita ruiva, dizia-se atriz, hóspede do Hotel Atlântico. Toda manhã, como se fosse uma liturgia descia à praia, estendia uma toalha, enfiava o pau na areia, armava a sombrinha. Tirava a blusa devagar, como se tivesse preguiça, a parte superior do biquíni cobria pouco seus belos seios. Em seguida, como se fizesse um strip-tease, despia lentamente o short requebrando os quadris em movimentos harmoniosos, sensuais, até transpassá-lo por baixo dos pés. Finalmente levantava o short com o pé direito como se chutasse o vento. Ainda em pé, dobrava o short, a blusa, arrumava junto à sombrinha. Deitava lentamente, de bruços, deixando o sol da manhã acariciar suas pernas, seu dorso, sua bunda. Foi o espetáculo daquele verão. Os homens se deliciavam com o ritual erótico da musa dos cabelos de fogo.
“Chaina”, sua cachorrinha pequenez, ficava amarrada no pau da sombrinha. Às vezes, ela soltava-se para alegria da moçada que tentava capturá-la, para receber o agradecimento, olhando de perto as penugens douradas das coxas da dona. Depois que a ruiva começou a frequentar a praia, o número de tarados aumentou nos mares da Avenida. Foi o inesquecível verão da Chaina.
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