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O sumiço do pato mágico
Desde menino Toroca é figura de destaque no Estado de Alagoas, conhecido nas altas e baixas rodas, chega a ser peça insubstituível na comunidade. Dedicado ao esporte, jogou bem voleibol, inclusive na seleção alagoana e brasileira. Entretanto, sua vocação é ser técnico de voleibol feminino. Há mais de 40 anos treina as equipes do CRB. Inúmeras vezes campeão como treinador da seleção, muitas de suas pupilas chegaram à titular da seleção brasileira. Nesses últimos 50 anos, Alagoas esteve no topo do voleibol nacional graças ao treinador Toroca, severo, considerado grosseiro na condução do time em campo, porém, no voleibol não pode haver relaxamento, as atletas têm maior respeito pelo treinador.
Outra paixão de Toroca é o Clube de Regatas Brasil, o CRB. Foi presidente várias vezes. No final da década de 60, Walter Pitombo Laranjeiras, seu nome, convidou-me a participar de sua diretoria, não me fiz de rogado, tomei posse como Diretor Social. Juntos, fizemos um bonito trabalho, organizando festas e atividades sociais. Contudo, o grande sucesso de nossa gestão foi a boate do CRB aos sábados à noite. A moçada dançava, se esbaldava ao som do afinado conjunto LSD. Os componentes diziam ser Luz, Som e Dimensão, para não confundir com o ácido lisérgico, droga altamente consumida naquela época. A afinadíssima Leureny Barbosa era vocal, Lino outro componente, na guitarra, um jovem tocava um som moderno arrasava também cantando, de nome incomum, Djavan.
No intervalo, descanso dos músicos, havia alguma atração. Certa vez, Toroca contratou um mágico. O cara era bom, muito aplaudido com suas fantasias mágicas no escurinho da boate. Estranho apenas, que em vez de tirar coelho da cartola, o mágico tirava um pato branco, bonito e lustroso. Com muito aplauso o “Mandrake” terminou o espetáculo.
Ao iniciar o segundo tempo da boate, fui procurado pelo mágico, desesperado, havia sumido seu querido e lustroso pato branco. Fomos em busca, todos procurando, em cada canto da sede do CRB havia um funcionário vasculhando, até cheirando, nenhuma pista do pato. O mágico se aborreceu quando um funcionário, por ignorância ou gozação, perguntou: – O senhor não é mágico? Faça o pato aparecer!
Chegamos à conclusão que o pato havia fugido, só assim poderia ter sumido. Iniciamos busca pela rua, pela praia; nenhum indício, ninguém viu algum pato passar, que dirá um pato branco.
O mágico inconformado, aborrecido, tinha compromisso dia seguinte pela manhã, espetáculo em Caruaru. Recebeu o cachê, despediu-se, agradecendo nossos préstimos. Irado, junto à sua gostosa ajudante, deu arranque no carro, pensando no trabalho de amestrar outro pato, chorava, não sei se de raiva ou saudade do querido pato branco.
A boate continuou animada, namorados, amantes, dançando lentamente na escuridão da luz vermelha, na leveza da música afinada e sensual do LSD. Ninguém àquela altura imaginaria que estava dançando ao som de um dos músicos mais importantes da história da música brasileira, Djavan.
Certa hora procurou-me um garçom, recado de amigos, estavam à minha espera no Restaurante Galo de Campina, anexo à sede do CRB, onde se comia o melhor galeto assado da cidade.
Entrei no restaurante lotado, logo percebi em uma animada mesa, felizes, risonhos, tomando cerveja, os amigos, Hélio Miranda, Betuca, Clailton, Lelé, Frazão, Quico e Beto Prazeres. Hélio gentil, reverente: Senhor diretor sente-se, é nosso convidado. Agradeci fiquei a tomar uma geladinha antes de encerrar a boate.
Não demorou, para minha surpresa, apareceu o garçom “Pescoço” equilibrando uma vistosa travessa de metal. Acolchoado de farofa, laranjas, maçãs, deitado em decúbito ventral, majestosamente, um suculento, dourado e apetitoso pato assado.
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