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Colégio Diocesano (Parte II)
Guido, Lyceu, Batista e Diocesano eram os quatro grandes colégios masculinos. Nos anos 50/60 não existiam colégios mistos em Maceió. Depois da última aula, corríamos para ver a saída dos colégios femininos, Sacramento, São José.
Eram poucos minutos em frente ao colégio, entretanto, tempo suficiente para vê-las passar com suas fardas pudicas, saias abaixo dos joelhos, blusas compridas. Uma cruzada de olhar ou uma carícia de mãos em tempo fugaz, era o máximo que se conseguia até a chegada dos cuidadosos pais em seus carros pretos.
Algumas meninas pegavam ônibus ou bonde, as melhores para namorar, sem a marcação cerrada dos pais. Pegava a condução junto à namorada, valia acompanhá-la até sua casa, arriscando abraços e beijos, inocentes e ingênuos namoros no tempo da brilhantina Glostora.
A acirrada rivalidade entre os colégios masculinos, não era maior porque nós jovens nos misturávamos entre praças, praias, clubes e colégios, formando uma grande família na outrora tranquila cidade de Nossa Senhora dos Prazeres, Maceió.
Contra nós alunos do Diocesano (Marista) havia uma peça de gozação, o museu. Uma sala no último andar do colégio servia de laboratório, cheia de bichos empalhados, bichos em vidros dentro do álcool, servia para aulas de ciências, biologia, deram o nome inadequado do museu.
Os alunos dos outros colégios nos gozavam, insinuavam que, alguns irmãos maristas serviam-se de alunos para práticas inconfessáveis dentro desse museu. A bem da verdade, no tempo que passei no colégio, não tomei conhecimento de algum caso real.
O “Canto Orfeônico” era orgulho do colégio, um eficiente e bem treinado coral. Eu participava, gostava de cantar quando havia exibição em vários locais, um sucesso. Coral muito solicitado nas festas de fim de ano. Uma beleza de afinamento cantávamos músicas natalinas, religiosas e populares: “O bonde subia… o bonde descia… no bagageiro ia o pai do Zacarias…”.
O maestro do coral, professor de música, tocador de órgão, irmão Luiz Barreto, por problema de assédio sexual a aluno, foi transferido para Fortaleza. Na falta de maestro acabou o grande Coral do Diocesano.
Algumas pessoas confundem irmão marista com padre, existe diferença fundamental, o irmão não pode rezar missa, confessar pecadores, nem ministrar comunhão. Em comum apenas o uso da batina e manter a castidade, o que nem todos conseguiam.
Nas aulas de religião, nos passavam dogmas e promessas. Gostei de uma “promessa”, quem comungasse nove primeiras sextas-feiras do mês seguidas, adquiria indulgência plenária, um lugar certo no céu garantido, ou seja, a chave do céu em nove prestações mensais.
Achei bom negócio, certo ano iniciei. Toda primeira sexta-feira eu estava de joelhos recebendo a eucaristia. Em uma dessas confissões, cai na besteira de contar ao padre o que havia acontecido, comigo e Luiza, empregada de minha casa, embaixo da ponte do Salgadinho.
O padre ouviu atentamente, pediu pormenores, fez perguntas, altamente interessado, ficou vermelho. Contei detalhes. O religioso em sua batina ficou impaciente e excitado, prestava maior atenção na minha história confessada. Olhava-me estranho, talvez pelo fato de eu ser novo, 13 anos, menino livre, desenvolto, sem culpa na cabeça e no coração.
Fiquei espantado, quando o padre deu-me a penitência, rezar 50 padre-nossos e 200 ave-marias. Eu pensava que o ocorrido fosse pecado tolo, venial, sem gravidade. Passei o resto da tarde na capela do colégio, só terminei a penitência à noite, em minha casa, rezando antes de dormir. A partir desse dia, durante as confissões, só contei meus pecados por alto, de leve, certeza de penitência branda.
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