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Por que as novas reclamações do juiz que bloqueou o WhatsApp não fazem sentido
Você pode ter visto que o juiz Marcel Maia Montalvão, da cidade de Lagarto (SE), que determinou a prisão de um executivo do Facebook no início do ano e ordenou o bloqueio do WhatsApp devido a uma investigação criminal, resolveu disparar duras críticas ao aplicativo. A acusação é de que a criptografia do app é puro marketing.
Segundo ele, seria possível para o aplicativo colaborar com as investigações, o que não está sendo feito “vender” a ideia de que as mensagens trocadas pelo aplicativo são secretas “já que, assim, resguardaria o valor de suas ações na Nasdaq”. A ideia do juiz é que seja possível espelhar para a polícia as conversas de uma pessoa investigada.
O argumento usado por ele é o do WhatsApp Web, que, de fato, espelha as conversas do aplicativo na tela do computador, tanto pelo navegador quanto por um software lançado recentemente pela empresa depois de muito clamor popular. No entanto, o uso deste recurso para rebater o uso de criptografia no app é puramente absurdo.
Nós não vamos entrar no mérito se o WhatsApp deveria ou não guardar e entregar essas mensagens para a Justiça, ou se há, de fato, meios técnicos para fazer isso, porque essa é uma discussão longa e sem resposta. A questão aqui é a ignorância de como funciona o WhatsApp Web.
Primeiro de tudo: como funciona a criptografia do WhatsApp? Assim que você abre uma janela de chat com uma pessoa, você cria um canal seguro com ela. Ao digitar uma mensagem e pressionar o botão de envio, o texto/foto/vídeo/áudio já sai cifrado e só é decifrado quando chega no outro aparelho, e lá ele fica armazenado (se você não fizer um backup, irá perder tudo se formatar o aparelho). As mensagens não ficam guardadas em um servidor, e por isso o WhatsApp diz que não pode entrega-las à justiça.
E aí chegamos ao WhatsApp Web. Se as mensagens trafegam criptografadas, como elas podem aparecer na tela do computador? Esse é o ponto do juiz, que está bem errado.
O WhatsApp Web depende da presença física do celular conectado na mesma rede Wi-Fi de um PC. Isso se deve ao fato de que as mensagens não chegam ao computador pela internet, mas sim pela rede local. O smartphone transmite as mensagens para o PC sem que elas precisem passar pela internet, onde poderiam ser interceptadas pela polícia. Quando você digita uma resposta no computador, as mensagens vão para o celular, e aí, sim, passam pela internet, mas aí já estão cifradas. Esta é a sequência:
Mensagem chega ao PC:
Usuário envia mensagem → ela é criptografada → trafega pela internet → chega ao destinatário → é decifrada → enviada para o PC
Mensagem sai do PC:
Usuário envia mensagem → ela é enviada para o celular do usuário → mensagem cifrada → ela trafega pela internet → chega ao celular do destinatário → é decifrada
Assim, para aproveitar a brecha deixada pelo WhatsApp Web como forma de interceptar mensagens, a Justiça precisaria ter acesso físico ao celular da pessoa investigada. Ou seja: seria necessário ter o aparelho em mãos, conectado à mesma rede Wi-Fi de um computador, o que elimina o propósito de cooperação da empresa.
O WhatsApp Web funciona de uma forma bem diferente que o Facebook Messenger, por exemplo, na questão de entrega de mensagens e o espelhamento em vários dispositivos. O Messenger, por exemplo, guarda o que é enviado em servidores para distribuir o conteúdo por todos os dispositivos onde o usuário tem o aplicativo instalado, o que é algo muito mais fácil de interceptar. O WhatsApp, não, e é por isso que o serviço ainda depende da autenticação por QR Code toda vez que você tenta usar a versão Web em um computador diferente.
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