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Devotos relembram 19 anos da morte de Frei Damião
Este ano, os devotos celebram os 19 anos de morte de Frei Damião, que o povo do nordeste passou a considerar como sucessor de Padre Cícero Romão. Em Canafístula, Distrito de Palmeira dos Índios, se encontra o memorial Frei Damião, construído pelo ex-deputado federal Antônio Ferreira, e que costuma receber a visita de fiéis de várias partes do país.
Simples e austero como os antigos monges, acolhido em todo o Nordeste, como se fosse o próprio Padre Cícero que debaixo de outro invólucro tivesse regressado a terra, os nordestinos cultuam a sua memória com muita devoção e fé. Em verdade ele foi um fator de contenção de revolta dos que sofrem nos setores e consagrou toda sua vida, a exemplo de João Batista e Jeremias, aos desamparados da sorte, aos filhos pobres dos sertões.
O curioso, para a fé popular, é que em Canafístula existe uma fonte de água que ao ser perfurada deu salobra e após Frei Damião batizá-la, o líquido precioso da fonte tornou-se água mineral. Os romeiros acreditam nisso. E ai de quem duvidar. Será excomungado, dizem eles.
Alheio às vaidades humanas, vestia sempre uma batina velha. Mas foi notável sua influência e catequese no Sertão. O grande consolador das gentes abandonadas que sempre tiveram fome e sede de justiça. Um verdadeiro santo.
Frei Damião nasceu em Bozzano, município de Massarosa, Província de Lucca, na Itália, em 5 de novembro de 1898. No dia seguinte ao seu nascimento, foi batizado na igreja dos santos Catarina e Próspero, matriz de Bozzano, recebendo o nome de Pio Giannotti. Aos 13 anos, ingressou no Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Aos 17 anos, em julho de 1915, emitiu os primeiros votos, recebendo o nome de Damião, Frei Damião de Bozzano, indicando sua cidade de origem.
Em 1920, iniciou os estudos de teologia e foi enviado à Universidade Gregoriana de Roma, onde graduou-se com láurea em Direito Canônico e Teologia Dogmática. Em 1923, foi ordenado sacerdote na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Bríndisi, em Roma.
Dois anos após a sua ordenação, Frei Damião de Bozzano foi nomeado vice-mestre de noviços de sua província religiosa (Lucca-Itália). Em 1926, foi nomeado diretor e professor dos frades estudantes, cargo que exerceu até 1931, ano de sua vinda para o Brasil. Já no país, foi eleito assistente (Conselheiro) da então Custódia Geral dos Capuchinhos de Pernambuco. No estado, dedicou-se às santas missões durante 66 anos.
Frei Damião e as Lendas do Povo
Certo dia, Frei Damião encomendou o corpo de um agiota e disse: “Onde está o teu tesouro, lá está o teu coração”, afirmando aos que ouviam: “no cofre do seu dinheiro está o seu coração que ele não pode levar à sepultura” e todos ficaram admirados, pois aquilo era uma verdade.
Outra vez, contam, discursou aos peixes que, em cardume, foram ouvi-lo pondo fora da água as cabeças. O Frei disse: “Louvado seja Deus, mais honrado dos peixes que os homens”, e muitos homens e mulheres afluíram à inusitada pregação. O povo, carente de fé e de um protetor, engolido por doenças o procurava para sarar: dor no ventre, catarrão, sarnas recolhidas, moléstia interior, esquinência, obstrução, cobreiro, tosse, tísica, sirro, vômitos, inchação, lombrigas e tantas doenças – não só as da alma. E ainda, velhice, mordida de cobra, coice de burro, facada, estrepada, tiro, afogamentos. Atendia a todos com paciência franciscana. Principalmente nas Santas Missões cheias de gente, velas, procissões, cortejos imensos, acompanhando-o, como se fosse um novo Padre Cícero.
Querúbico santo, que aos povos ensinava a lição de Deus; que não tinha asas e voava mais ligeiro que o passarinho e o vento; que curava enfermos e que morreu vendo a face do Senhor estampada sobre ele. O bom velhinho, patriarca do sertão, sino maior das vilas e das cidades sertanejas, plangendo, hoje no coração de todos.
“Era no tempo em que estrelas do céu cintilavam na negra, cava boca das garruchas e clavinotes do sertão, em que as estrelas demoravam na boca-de-sino dos bacamartes, com seus triângulos prateados a refulgir, no seio das noites escuras de breu”.
Quem foi que jamais viu o frade descrer da regeneração de um pecador? Quem nele vislumbrou uma insinuação para que se fizesse mal a quem quer que fosse?
Outra particularidade do Frei: até o final de sua vida não cometeu nunca uma indiscrição, nem referências comprometedoras ou confidências despropositadas. Dele se poderia dizer o que disse Tristão de Athaíde sobre Padre Leonel Franca: “Nunca perdia a luminosidade, o comedimento e compostura própria de um confessor de fé”. Detentor de segredos de centenas de pessoas, principalmente de políticos, conhecedor de situações escabrosas, nem em conversa com seus melhores amigos, o Frei traia a confiança nele depositada.
Quanto aos donativos, recebia-os sem comentários e boa parte deles era imediatamente entregue a outras mãos que para o velho frade se estendiam em súplica, sem ter verificado a quantia que acabavam de botar no bolso de sua surrada batina.
Nunca dava mostra de enfado ao receber numerosas pessoas
Fossem quem fossem, ouvia-os paternalmente, dando-lhes conforto e orientação de que estavam precisando e assim, com essa surpreendente solicitude, essa evangélica paciência e discrição, viveu os anos de sua vida. É nesse espírito acolhedor e compreensivo, nessa sua capacidade de querer bem e guiar paternalmente, que se encontra a explicação do fascínio que ele exerceu sobre as multidões do sertão, e em que só excepcionalmente terá sido ultrapassado por Padre Cícero do Juazeiro.
Aos mais humildes falava da bondade sem par da mãe de Deus, abrindo para eles um mundo de esperança e confiança. Nas missões, quase todos se descobriram à sua passagem, tomando-lhe a benção uma atitude contemplativa ao tempo em que o chamava de “meu velhinho”, “meu padrinho”, como bons sertanejos nordestinos.
Era comum aconselhar: “Vá tomar conta da família. Fique rezando o rosário da mãe de Deus todos os dias da sua vida. Não beba, não jogue, não se meta em sambas e procure viver em paz com o seu próximo, seja quem for”.
“Sou enviado de Deus. Vivo unido a Ele e Ele a mim, como o fogo, na forja, fica unido ao carvão e ao ferro. O carvão é uma coisa, o ferro, outra coisa muito diferente e outra coisa também é o fogo. Pois tudo isso, na tenda do ferreiro, não parece ser a mesma coisa, tendo a mesma cor e a mesma quentura? Assim vivo eu unido a Deus pela vontade de fazer o Bem”.
Eram diversos os dons que ornavam a pessoa do frade, conferindo-lhe invulgar popularidade. Com sua palavra amável, abria corações emperdenidos. Desde os albores de sua juventude, até o crepúsculo definitivo, foi um paradigma de paternal solicitude para com todas as categorias de pessoas. Eis porque milhões de nordestinos lhe davam o significativo nome de “meu bom velhinho”.
Um dia, disse ao jornalista Ivan Barros, em Palmeira dos Índios, este entristecido por ter sido derrotado nas eleições de prefeito de Palmeira, em 92: “Saber perder é o melhor meio de ganhar na certa”.
“Deus está sobre tudo, e é providência até das folhas que caem das árvores, quanto mais de nós que somos filhos. E é certo: O bem que Ele não nos dá, não o teremos e o mal de que não nos livrar virá sobre nós. Faça-se a vontade de Deus assim na Terra como no Céu”.
Vaticano decidirá sobre pedido de canonização de Frei Damião em 2018
Apesar de já ser considerado santo por quem vive no Nordeste, Frei Damião está próximo de ser canonizado também pelo Vaticano. Em fevereiro de 2018, será divulgado o resultado do processo de beatificação e canonização do religioso. A informação foi divulgada durante o anúncio da programação da festa para o apóstolo do Nordeste, realizada no final do mês de maio. O processo de beatificação e canonização de Frei Damião de Bozzano foi aberto oficialmente no dia 31 de janeiro de 2003.
“A Igreja ainda vai dar uma posição sobre os relatos de milagres concedidos por Frei Damião, mas estamos na expectativa. É justamente para fomentar a evangelização que nós promovemos essa festa. A dedicação de mais de 65 anos ao povo do Nordeste não pode se perder”, pontua o Frei Cláudio Simões, guardião do Convento de São Félix, local em que acontece a festa.
Vaticano também analisará 80 milagres do Frei
Oitenta milagres atribuídos ao Frei Damião de Bozzano, que faleceu em 1997, serão analisados por uma comissão de notáveis do Vaticano, visando sua beatificação ao passo inicial à santificação. Esta semana autoridades eclesiásticas pernambucanas se reuniram para dar início ao processo que deverá tornar o missionário santo.
O levantamento dos milagres atribuídos a frei Damião foi feito pelo Instituto de Teologia do Recife, mas não significa que todos eles serão analisados pela comissão formada por teólogos e um médico do Vaticano. Um dos 80 milagres foi registrado em Alagoas a uma mulher que teria se curado de distúrbio mental. Segundo o instituto, os 80 milagres foram registrados em 76 anos de atividade do missionário no Brasil.
O movimento
Para se tornar santo, Frei Damião terá sua vida investigada a partir dos 9 anos de idade, quando demonstrou inclinação religiosa. O padre Aldo e o diácono Fernando Freire, que integram o movimento para beatificação e posterior santificação do missionário, explicaram que a comissão encarregada de analisar os milagres do Frei Damião não tem prazo fixado para concluir os trabalhos.
O processo é demorado e complicado, porque cada um dos milagres terão de ser minuciosamente analisados, ressaltou o diácono.
O movimento conta com o apoio da igreja católica de Pernambuco e da Paraíba, onde foi erigida a maior estátua do frei para marcar o movimento em favor da santificação. Praticamente todos os dias nós recebemos informações sobre curas provenientes da fé em Frei Damião, completou.
Os milagres
Uma mulher, paraibana, com câncer nos seios, curou-se; uma criança com paralisia infantil levantou-se e andou normalmente; uma mulher, alagoana, portadora de distúrbios mentais, curou-se. Esses são três dos 80 milagres que o Instituto de Teologia do Recife registrou, mas os nomes das pessoas são mantidos sob sigilo e elas também serão analisadas.
Para ser considerada como milagre, é preciso que a cura, no caso de doença, seja analisada por um médico. Se o médico comprovar que a recuperação ou a cura se deu sem a intervenção de medicamentos; se a doença estava em estágio irreversível para a medicina, tudo isso terá de ser diagnosticado. E nós não temos dúvida de que as curas foram resultados da fé que o povo tem no Frei Damião, um homem que, realmente, levou uma vida de recolhimento, de serviço a Deus e de orientação espiritual as comunidades, completou Freire.
Os romeiros
O Frei Damião faleceu em 31 de maio de 1997 e foi enterrado no Convento dos Capuchinhos, no bairro do Pina, no Recife, onde viveu desde que chegou ao Brasil em 1931. O local, que servia praticamente para isolamento do missionário, virou atração para os fieis, que visitam o túmulo, rezam, acendem velas e depositam ex-votos.
Lembrando o que disse o ex-senador pernambucano, Nilo Coelho, o professor de Filosofia, Carlos Gonzaga, afirmou que o Frei Damião teve uma importância religiosa e política para várias gerações de nordestinos, especialmente sertanejos, relegados pelo poder público.
O senador Nilo Coelho costumava dizer que Frei Damião foi o fator de contenção da revolta dos que sofrem no Nordeste, e é verdade. Não sei o que seria dos sertanejos que sofrem com o descaso do governo se não fosse o Frei Damião pregando a paz, a obediência, a resignação e a penitência.
Como nordestino e natural do Interior, sou testemunha do papel desempenhado pelo Frei Damião, destacou o professor, natural de Monteiro, na Paraíba, citando os exemplos da sua cidade. “E posso dizer que não apenas os pobres o reverenciavam, mas muita gente rica também”.
A pregação
Mesmo destacando que o método utilizado pelo Frei Damião contrariava o setor progressista da Igreja Católica, Gonzaga afirmou que o missionário desempenhou papel fundamental para a romanização do catolicismo no Brasil. “Sem dúvida, a Igreja Católica estaria hoje contabilizando uma debandada maior de fieis se o Frei Damião não tivesse peregrinado pelos sertões nordestinos. Muitas vezes, falando diretamente, condenava os que procuravam alternativas na religião Católica”.
Trabalhando em regime de vigília, a comissão encarregada de dar os primeiros passos rumo à santificação do Frei Damião também não tem prazo fixo para a tarefa. A vigília só será concluída quando o Frei virar santo.
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