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Lendo & comentando
De quando em vez, sou recipendiário de livros de autores alagoanos, bem como de outras plagas nordestinas. Desta feita, o Administrador Álvaro Mendonça da Silva Júnior fez chegar às minhas mãos o livro intitulado PAISAGEM DE INTERIOR da lavra do paraibano Jessier Quirino, filho ilustre de Campina Grande. Arquiteto por profissão, poeta por vocação e, sobretudo, amante da poesia brejeira.
Paraíba, celeiro de escritores da estirpe de José Américo, José Lins do Rego, de vates da marca de Zé da Luz, Zé Limeira, o Poeta do Absurdo. Agora, vem à tona para o deleite daqueles que adoram a arte de versejar JESSIER QUIRINO. Confesso que não conhecia sua vasta experiência de escritor/poeta/prosador. Aliás, o escritor José Sarney sentenciou: “ O poeta nasce não pode ser feito”.
Lendo & Comentando presta justa homenagem ao narrador poético. E, por conseguinte, merece reproduzir algumas de suas poesias a fim de que o leitor possa tomar conhecimento de sua excelsa inteligência a serviço da Paraíba como um todo.
No poema Nêga Malvada, o autor expõe seu amor escondido pela mulata que despertou sua paixão. “ Fiz um convite/ mas vejo que não deu em nada/ pois essa nêga malvada/ nem mesmo quis me escutar./ Que é pra nós dois/ comer da mesma panela/ olhar da mesma janela/ viver no mesmo lugar./ Fiz um convite/ pra matar a minha sede/ de me deitar numa rede/ e com ela chamegar./ Ficar dengoso/ feito bobinho na loba/ esquecendo uma mão boba/ sempre no mesmo lugar./ De tardezinha/ no meio do roçado/ quando o seu corpo talhado/ me der inspiração./ Tanjo a galinha/ pra cima do poleiro/ acendo o candeeiro/ e haja coração./ Fiz um convite/ malicioso, não nego/ eu morro mas me esfrego/ no corpo dessa mulher./ É tanto peito/ É tanta perna/ É tanta coxa/ Que minh’a alma se afrouxa/ e o convite fica de pé”.
O poeta tem estilo próprio. Às vezes, assemelha-se aos coestaduanos citados acima. Por essas razões, costumo dizer que a velha Paraíba exportou poetas para que o Brasil pudesse conhecer o que o Nordeste tem de bom. Aliás, em se tratando de cultura erudita/popular, Alagoas não fica atrás. Muito pelo contrário. Lêdo Ivo, membro da Academia Brasileira de Letras. Os juristas Ruy Barbosa / Pontes de Miranda, Graciliano Ramos e o saudoso poeta Jorge de Lima, preclaro filho de União dos Palmares.
Devo fazer justiça a Paulo Caldas que escreveu as orelhas da obra com muita propriedade. “ Nenhuma outra forma de expressão vivencia com tanta fidelidade as coisas do interior do que a poesia. Gênero extremamente apreciado pelo povo, ela reflete suas imagens, seus cenário e circunstâncias.
São inúmeros os poetas populares famosos e festejados nesse meio mundo de chão, muitos deles de poucas letras mas dotados de infinito talento. Com Jessier Quirino esse fenômeno é amplificado. Dono de uma verve admirável ( em especial quando se dispõe à récita) ele é, ao contrário da maioria dos que se entregam à poesia matuta, um homem letrado, um “dotô”, como seria fácil defini-lo”.
Diga-se, de passagem, que seus poemas retratam a vida do interior. E, por isso, tem densidade cultural. Fez a ponte entre a arquitetura às letras matutas de sua origem. Desse modo, merece ressaltar ISSO é CAGADO E CUSPIDO PAISAGEM DO INTERIOR.
“ Matuto no mêio da pista/ menino chorando nu/ rolo de fumo e beiju/ colchão de palha listrado/ um par de bêbo agarrado/ preto veio rezador/ jumento jipe e trator/ lençol voando estendido/ isso é cagado e cuspido paisagem do interior.
Três moleque fedorento/ morcegando um caminhão/ chapéu de couro e gibão/ bodega com surtimento/ poeira no pé de vento/ tabulêro de cocada/ banguela dando risada/ das prosa do cantador/ buchada sentindo dor/ com o filho quase parido/ isso é cagado e cuspido/paisagem do interior”.
Dir-se-ia que o livro do arquiteto, que não é o Grande Arquiteto do Universo, fez-me relembrar a minha Paulo Jacinto. Dela tenho lembranças que a poeria do tempo não conseguirá apagar. Sou economista/jornalista profissional, bem como professor de Economia do Centro Universitário Cesmac. Porém, nasci desprovido da arte de versejar. Assim,me defino: Não sou poeta/ Não faço verso nem rima/ Sou apenas um mortal/ Cumprindo a própria sina. A poesia embeleza a vida, faz dela o prazer de viver. VIVA CAMPINA GRANDE, a capital do forró. Organização:
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