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Brasileiro saiu da várzea para ser o pesadelo do Real Madrid

07/04/2016
Brasileiro saiu da várzea para ser o pesadelo do Real Madrid
(Foto: Goal.com)

(Foto: Goal.com)

A vida não é fácil. Para realizar nossos sonhos, precisamos superar incontáveis obstáculos. É preciso ter força, superação, garra, nunca desistir e sempre acreditar. A inteligência e perspicácia para saber lidar com os problemas e como enfrentá-los e superá-los também é fundamental, assim como a humildade e a alegria.

O jovem atacante Bruno Henrique, de 25 anos, é um exemplo de tudo isso. Pouco tempo atrás, ele era recepcionista de escritório e se arriscava no repique. Em 2011, defendendo o Inconfidência Esporte Clube, foi o craque e artilheiro da Copa Itatiaia, um torneio amador disputado em Minas Gerais.

A vida, porém, reservava um futuro diferente para o garoto. A várzea e o emprego atrás de uma mesa não eram suficientes para o talento e os sonhos de Bruninho, que só viraria Bruno Henrique depois.

No entanto, antes de brilhar na surpreendente vitória do Wolfsburg sobre o Real Madrid, por 2 a 0, nas quartas de final da Uefa Champions League, nesta quarta-feira, e ter seu nome cantado pelos torcedores dos Lobos na Volkswagen Arena, o atacante brasileiro precisou superar vários obstáculos. Antes do luxo e glamour do melhor campeonato do mundo e de uma boa vida na Alemanha, o jovem precisou rodar por clubes menores do interior mineiro e goiano. E o próprio Bruno Henrique contou sua história à Goal Brasil, em entrevista exclusiva feita em junho do ano passado.

“Já passei por muitas coisas no futebol. Eu já passei fome, já morei em alojamento e foi muito complicado. Eu saí do amador para o profissional. Joguei a Copa Itatiaia (torneio amador em Minas Gerais) e fui o craque e o artilheiro do campeonato”, lembrou.

Após a competição amadora, o garoto foi contratado pelo Cruzeiro, em 2011, mas nunca foi utilizado. Acabou emprestado ao Uberlândia, equipe do interior mineiro, por dois anos, até ser contratado em definitivo. Depois, foi tentar a sorte no Itumbiara. Ele se destacou no interior goiano, chamando atenção do Goiás.

Ao chegar no Esmeraldino, seu sonho era se destacar nacionalmente, como contou à Goal. “Meu objetivo esse ano (2015) é fazer um bom Campeonato Brasileiro e ajudar o Goiás, mas também sonho em ser revelação e artilheiro do campeonato. Não me preocupo muito com isso, mas se aparecer, é bom, né? (risos)”.

O Esmeraldino foi rebaixado no Brasileirão 2015, mas Bruno Henrique alcançou seu objetivo. Fez um excelente torneio e entrou na mira de clubes brasileiros e europeus. Após quase fechar com o Fluminense, acabou se transferindo para o Wolfsburg. Todos os obstáculos superados valeram a pena.

Na entrevista à Goal, ele lembrou de todas as pedras superadas no caminho e agradeceu a família, além de também contar algumas histórias e falar da vida extracampo.

“Antes de virar jogador era complicado. Eu trabalhava em um escritório como recepcionista. Aí tinha que ficar lá, resolvendo pepino e atendendo todo mundo (risos). Fora de campo eu gosto muito de passear. Ir em shopping, passear bastante. Mas o shopping é o melhor (risos). Eu também gosto muito de ficar ouvindo música, curto mais gospel evangélica. Eu já cheguei até a tocar quando estudava (risos). Tinha um grupo de pagode quando tinha 12 anos. Era mais na zoeira, né, mas tínhamos professor e tudo certo para ajudar, só que era zoeira (risos). Eu tocava repique”, revelou.

“Eu trabalho muito forte no dia a dia. Dou o meu máximo para realizar meus sonhos. Quero conquistar muitos títulos e superar as adversidades dentro de campo como supero fora. Minha família foi primordial para mim nessa caminhada. Eles me ajudam a ficar tranquilo, a família é a base de tudo. Meu grande sonho é poder ajudar minha família”, concluiu.

Análise

Bruno Henrique foi a surpresa de Dieter Hecking contra o Real Madrid. O brasileiro vinha sendo reserva nos Lobos, mas fez sua estreia (isso mesmo) como titular, logo nas quartas de final da Champions League contra o maior campeão da história do torneio e favorito no confronto.

Peso? Responsabilidade demais? Pressão?

Não para Bruno Henrique.

Com muita personalidade, o brasuca foi um dos melhores em campo. Principal válvula de escape dos Wolfs, o atacante, que jogou na linha de quatro do meio-campo aberto pela direita, criou várias oportunidades de gol e apareceu frequentemente no ataque, dando um trabalho enorme para Marcelo, Toni Kroos e Sergio Ramos. Além disso, ajudou na marcação.

Bruno Henrique deu a assistência para o gol de Arnold, deixou Schürrle na cara do gol e ainda exigiu uma boa defesa de Keylor Navas, além de participar muito da partida. Ele foi o jogador do Wolfsburg que mais finalizou e deu passes decisivos, deixando os companheiros em condição de marcar. Sem dúvidas, foi um dos responsáveis pela vitória dos Lobos.

Além dele, Draxler, que participou dos dois gols, mostrando seu enorme talento com grande atuação, e o jovem Arnold, não só pelo gol, mas pela ótima exibição no meio-campo, também se destacaram no embate. Benaglio, mostrando a habitual qualidade e segurança, e Ricardo Rodríguez (que curiosamente interessa ao próprio Real Madrid), fazendo bom jogo na lateral-esquerda, foram outros bons nomes da partida.

Confira os números e o mapa de calor de Bruno Henrique no jogo:

O Wolfsburg mereceu vencer e poderia ter vencido até mesmo por um placar mais elástico. Foi melhor ao longo da partida, criou várias chances e fez um ótimo jogo, partindo pra cima, sem medo, mas mantendo uma boa marcação. Ótima atuação coletiva com bons destaques individuais.

Já do outro lado, o adversário foi mal demais. Irreconhecível e longe de repetir a boa atuação do El Clásico no fim de semana, o Real Madrid parecia acreditar que poderia vencer o jogo quando bem entendesse, e foi mal coletivamente e individualmente. Os Lobos confirmaram o bom time que têm e a força em casa. Estreante no mata-mata da Champions League, os Wolfs aumentaram o retrospecto e venceram seus últimos cinco jogos como mandante na UCL, além de acabar com a invencibilidade dos Blancos na competição. Agora, o Barcelona é o único invicto na temporada da Liga dos Campeões.

O confronto de volta, na próxima terça-feira, promete. O Wolfsburg tem uma vantagem interessante e um ótimo time, capaz de avançar às semifinais da Uefa Champions League pela primeira vez em sua história. Já o Real Madrid, fora da Copa del Rey e distante do título de La Liga, entrará com tudo tentando salvar a temporada para estar entre os quatro melhores da Europa pela sexta temporada seguida e seguir sonhando com o 11º título.

O confronto ainda está aberto. O Real tem mais qualidade técnica, tática e jogadores capazes de definir, e jogará em casa, no Santiago Bernabéu. O time de Zidane tem condições de reverter o 2 a 0. No entanto, o Wolfsburg já provou (não só contra os Merengues, mas também em outras oportunidades), que tem time para chegar nas semifinais. A vantagem é boa, Dieter Hecking arma bem sua equipe, que conta com excelentes atletas e muita força coletiva e qualidade individual. Os Wolfs podem segurar sua vantagem e seguir fazendo e escrevendo uma história apaixonante, assim como faz Bruno Henrique, que pareceu encarar o Real Madrid como encarava seus adversários nos campos de terra de Minas Gerais.